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Oito anos depois, Coelho Radioactivo lança disco com Os Plutónios

Artes

Chama-se João Sarnadas, mas é provável que o conheça pelo nome do projeto musical que criou, há cerca de 16 anos, quando ainda era aluno da secundária José Estêvão, em Aveiro: Coelho Radioactivo. Foi, aliás, por essa bizarra designação que eu mesmo o conheci, no outono de 2012, quando tive a oportunidade de assistir a um dos primeiros concertos de apresentação de “Estendal”, o seu álbum de estreia. Desde aí, devemos ter falado duas ou três vezes, principalmente, nos tempos em que ambos andávamos pela cidade do Porto e a naturalidade aveirense que partilhamos servia propósitos de desinibição e curiosidade.

Da última vez que o entrevistei, algures no início de 2015, a conversa levou-nos do “Canções Mortas” – o álbum que tinha acabado de lançar – aos projetos da Favela Discos – o coletivo artístico e editora que ajudara a fundar –, terminando com a referência a “um disco meio gravado” e a promessa de que estaria “prestes a ser lançado”. Todavia, contrariamente àquelas previsões convictas, o disco prometido ainda teria de esperar uns bons anos para ver a luz do dia. Ei-lo, agora, em todo o seu esplendor: “Coelho Radioactivo e Os Plutónios”. “É por estas e por outras que nunca mais falo dos discos antes de eles estarem cá fora”, admite João Sarnadas, contundente.

Coelho Radioactivo e Os Plutónios

Feitas as contas, foram cerca de oito anos de um hiato em que, verdade seja dita, João não esteve parado. Editou dois discos de música drone e ambient – “Hum” (2020) e “Humm” (2021) – em que, apresentando-se como Sarnadas, abandona a clareza das canções de Coelho para explorar texturas e timbres de forma mais demorada, e outro, na companhia de Inês Castanheira, a que chamou “Well”; tocou com Live Low e com os Glockenwise e esteve por trás da José Pinhal Post-Mortem Experience, uma banda de tributo formada para animar o aniversário de João Paulo Granada, “ilustre personagem aveirense” ligado à loja de discos Love & Hate, mas que, rapidamente, ganharia todo um novo estatuto, merecendo até honras de destaque nas páginas do britânico The Guardian; também compôs música para artes performativas, ajudou a criar a identidade sonora do Batalha Centro de Cinema, no Porto, e ainda se entregou às suas responsabilidades enquanto membro da Favela Discos. “Grande parte deste tempo de ‘pausa’ foi passado em projetos relacionados com a editora e as bandas da editora”, partilha, estimando que “das 60 edições da Favela, para aí, 40 são deste período”.

Projetos nunca lhe faltam e bastante variados. Todos “surgem de necessidades diferentes” e, mais importante do que isso, têm-lhe permitido “trabalhar com pessoas muito diferentes”. No fundo, “é fazer sempre a mesma coisa – música – sem correr o risco de me cansar do que estou a fazer, porque são sempre coisas tão diferentes”, explica.

Esta criação artística multidisciplinar é algo que sempre o fascinou, mas, a princípio, João Sarnadas não imaginava vir a tornar-se músico. A música até estava presente na sua vida – “na minha casa ouvia-se muita música”, recorda, enumerando Pascal Comelade, Marianne Faithful, Tom Waits e Fanfare Cioc?rlia com alguns dos artistas mais assíduos na aparelhagem familiar. Além disso, do “monte de atividades – natação, aiquidô , etc.” pelo qual se lembra de ter passado, “a música foi a que durou mais tempo”. Começa a aprender a tocar órgão aos 9 anos, na OMA – Oficina de Música de Aveiro –, para, pouco tempo depois, passar para a guitarra, primeiro, com o brasileiro Rafael Campanilhe, depois, com o professor Joaquim Pavão. Só mais tarde, já em plena adolescência, ao explorar alguns softwares de gravação e produção musical, como o Fruity Loops e o Garage Band, é que começa a criar as suas primeiras composições, logo a seguir as primeiras canções e, finalmente, já com o alter-ego Coelho Radioactivo estabelecido no seu núcleo mais próximo, percebe que o seu caminho podia ser o da música.

Mas voltemos ao longo hiato que separou os últimos dois discos de Coelho Radioactivo: foi, igualmente, no decorrer desses anos – mais propriamente, em 2019 – que João Sarnadas volta a Aveiro, depois de uma década a residir no Porto. Este regresso à terra onde cresceu e onde conhecera Os Plutónio trouxe o tempo que lhe faltava para a conclusão do tão aguardado disco em conjunto. Para João, Os Plutónio são, antes de mais, amigos de longa data. “Somos amigos há muito tempo e sempre nos apoiámos mutuamente. Conheci o Ricardo Barros no quinto ano e o Carlos Rosário no sétimo; o Pedro Teixeira conheci-o no secundário, mais ou menos, na mesma altura em que comecei a compor as primeiras canções enquanto Coelho Radioactivo. Nesse momento, eles já tinham os Triple Plug em conjunto com outros amigos”, recorda João, dando nota da primeira vez que, juntos, se apresentaram em palco. “Quando surgiu a oportunidade de levar Coelho Radioactivo ao festival Termómetro, em 2010, achei que era bom apresentar-me com uma banda e convidei-os para tocarem comigo”. Nascia, assim, o trio Os Plutónios.

Daí em diante, ora se apresentava simplesmente como Coelho Radioactivo, na sua faceta mais despojada e acústica, ora convocava Os Plutónio para concertos em formato de banda, em que tocavam o repertório de Coelho com “roupagens ligeiramente diferentes”. “Com eles, as músicas ao vivo acabavam por ser bastante diferentes das versões de disco”, atenta. (Ainda há quem recorde uma terceira faceta, menos comum, na qual João Sarnadas, com uma guitarra elétrica ao colo, se apresentava como “Coelho Radioactivo e os Políticos Honestos”, subindo a palco na mais desamparada solidão).

“Coelho Radioactivo e Os Plutónios”, editado no final do ano passado, é o primeiro disco de Coelho Radioactivo em que o processo criativo deixou de estar concentrado numa só pessoa. Como já tocávamos há bastante tempo e já tínhamos desenvolvido uma maneira de tocar em conjunto, acabou por ser um processo fácil”, assegura João. “Somos todos bastante respeitadores a opinião uns dos outros. Eles sabem o que eu quero e o que eu gosto. Eu conheço a maneira de eles tocarem. Nunca tivemos nenhum conflito criativo. Foi sempre um processo levado com naturalidade”. Um exercício de amizade e partilha, que teve lugar numa “garagem de Mataduços”. Ou, pelo menos, assim reza o comunicado de lançamento do disco. João desfaz o equívoco: “Não é uma garagem, é um anexo. É o anexo da casa do Pedro, onde ele guarda a bateria. Mas um anexo não tem a mesma aura, a mesma mística do que uma garagem, pois não? Quando se fala em ‘bandas de garagem’ toda a gente sabe do que se trata. Não há bandas de anexo”, devaneia, a propósito da tal salinha, pintada de roxo, que viu a sua única fonte de luz natural ser categoricamente tapada. “Lá está, para se parecer mais com uma garagem”, justifica.

Longe do tal anexo, o processo viria, isso sim, a dificultar-se em estúdio, na fase de pós-produção. “Conseguir misturar as coisas e transformar tudo no disco com um som que me agradasse foi o mais difícil. Não estava habituado a trabalhar um disco de banda. Quando eles não estavam presentes, foi complicado de gerir”, reconhece João Sarnadas.

Oito anos depois, o disco de Coelho Radioactivo e dos seus amigos de longa data foi, finalmente, apresentado em outubro de 2022. E agora, numa altura em que todos já estavam resignados ao facto de terem de lançar o disco sem o poderem apresentar “como deve ser” - isto é, ao vivo, com banda – o recente regresso de Carlos surge como “um feliz acaso”. Amanhã, quinta-feira, 6 de abril, Coelho Radioactivo e Os Plutónios sobem ao palco do GrETUA, em Aveiro. O concerto está marcado para as 22h00.

Quando se lhe pergunta sobre o futuro, a resposta mais imediata é mais um lembrete para si próprio do que uma perspetiva concreta: “Tenho de ter muito cuidado com aquilo que respondo que da última vez prometi um disco quase pronto e passaram oito anos para ele estar acabado”, brinca. Há, no entanto, uma expectativa que não se importa de partilhar. “Gostava de continuar a fazer música com as pessoas que forem surgindo e imagino que, entretanto, surja novo disco de Coelho”. Ficamos à espera.

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