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José Sacramento e André Capote: No amor à arte, tal pai, tal filho

Artes

André Capote – o filho – tem alma de artista e vocação para o ensino; José Sacramento – o pai – tem olho para o negócio e jeito para a prospeção de novas promessas nas artes plásticas. André é, todo ele, sentimento, entrega e curiosidade; José, a expressão máxima da energia e do pragmatismo. A sensibilidade e a calma do filho contrastam com o espírito aguerrido e impaciente do pai; o orgulho paterno completa-se na gratidão de André, que reconhece a influência do pai no seu percurso, bem como a importância do progenitor na concretização do sonho de abrir uma academia de desenho e pintura, em Ílhavo.

Quando se pergunta a André onde nasceu, conta que foi em Ílhavo, há 43 anos, ainda no antigo hospital, e que foi naquela cidade que cresceu e se fez homem, artista e, mais tarde, professor. Fazendo a mesma pergunta ao pai, José, a resposta ganha outros contornos: “O André nasceu na arte”.

José Sacramento é marchant de arte desde 1973, ano em que abriu, na rua S. Sebastião, em Aveiro, a galeria de arte contemporânea “A Grade” (viria, mais tarde, a mudar-se para a rua Dr. Alberto Souto, já com o nome “Galeria Sacramento”).

Os filhos – Nuno (o mais velho, que seguiu as pisadas do pai enquanto galerista e, atualmente, desenvolve a sua atividade num espaço em nome próprio, em Ílhavo) e André – cresceram num ambiente marcado pelas obras que o pai comercializava, as exposições que organizava, os museus que visitavam juntos, as conversas que partilhavam e, muito especialmente, os artistas que iam recebendo, em estadias mais ou menos prolongadas.

“Havia artistas que nos vinham visitar e passavam cá grandes temporadas a pintar, a criar. E eu acompanhava-os, conversava com eles e experimentava as aguarelas, os pastéis, os acrílicos, os óleos. Foi assim que a minha paixão pela pintura se foi desenvolvendo”, recorda André Capote.

Dos artistas com quem teve oportunidade de privar, há um que o marcou de uma forma especial: o carismático Michael Barrett, filho de mãe inglesa e pai francês, que passou longas temporadas na região de Aveiro, retratando-a ao seu estilo. “Pintei muitas tardes ao lado dele, quer dentro de casa, quer no exterior. Ele era um artista de cavalete na mão. Pegávamos na paleta e nos pincéis, íamos para o cais da Malhada, para o farol da Barra ou para junto da ria e passávamos horas a pintar”, recorda o ilhavense.

Também José lembra que o filho, “desde cedo, habituou-se a conviver com artistas”. “Tenho fotografias dele a pintar com o Cruzeiro Seixas e com o Ortiz Alfau. A arte, sem querer, entrou-lhe nas veias e ele sempre demonstrou ter jeito”.

Quando termina o 12.º ano, na escola secundária Dr. João Carlos Celestino Gomes, em Ílhavo, André estava certo: “Queria ser artista!” – uma decisão clara para si, mas que, apesar de tudo, terá surpreendido o pai. “Nunca sonhei que o André fosse para Artes. Foi uma grande surpresa, mas não o desmotivei”, conta José Sacramento. “Temos de ensinar os filhos a amar e a ser felizes”, acrescenta sabiamente.

Em 2002, André licencia-se em Artes Plásticas, na vertente de pintura, e, por incentivo de alguns professores, decide candidatar-se ao ensino. No primeiro ano, é colocado em Viseu, de seguida, dá aulas em Aveiro e, finalmente, no colégio Frei Gil, em Bustos, concelho de Oliveira do Bairro, no qual haveria de permanecer durante cerca de nove anos. “Nesse primeiro contacto com o ensino, percebi logo que era uma coisa que eu gostava muito”, admite.

É, precisamente, com um trabalho dedicado ao ensino das artes que André completa o mestrado em Artes Visuais, em 2012. Nesta altura, já a vocação era inegável para todos os que com ele conviviam. Aquando da apresentação da prova de mestrado, relata André, “um professor disse ao meu pai que eu tinha jeito e que não era toda a gente que tinha esta vocação para o ensino”. Um episódio confirmado por José Sacramento, que, a par da brilhante prestação do filho , recorda o comentário de João Dixo, artista plástico e professor na Escola Universitária das Artes de Coimbra, no momento da dissertação final do mestrado: “O teu filho nasceu para ensinar”, ter-lhe-á garantido o docente.

É então que André opta por abandonar o ensino público e, com o apoio de José, começa a montar, numa antiga casa da família, a sua própria escola – a Academia de Belas Artes de Ílhavo.

Foi nesta típica casa de lavrador – portão amplo, poço centenário e jardim vasto – junto à Unidade de Saúde e ao Museu Marítimo de Ílhavo, que nasceram o bisavô e o avô de André, bem como o pai que, além disso, a utilizou durante vários anos como armazém da sua galeria.

Depois de uma intervenção de recuperação e transformação do edifício, a “casa velha” – assim a trata a família Sacramento – estava pronta para acolher não só a academia de artes liderada por André, mas também a biblioteca pessoal e o escritório de José Sacramento e um apartamento luxuosamente equipado, que serve de residência para os artistas que a visitam.

Já se cumpriu uma década desde que José Sacramento se reformou, mas nem por isso o marchant deixa de ter uma agenda preenchidíssima. Nos últimos anos, tem cultivado uma relação privilegiada com Cuba, representando em Portugal alguns dos artistas cubanos mais relevantes da atualidade – Roberto Diago, Ernesto Rancaño, Pepe Franco e a dupla Gabriela e Greta Reyna são só alguns exemplos.

Esta paixão por Cuba surge numa viagem à ilha, em 1995, numa altura em que o país dos irmãos Castro começava a abrir-se para o mundo. José fascinou-se pela “música, a paisagem, a comida, os carros, as praias e as pessoas” e, desde logo, se apercebeu que “podia estar ali um mercado artístico com grandes potencialidades”. A relação pessoal e profissional que José mantém com vários artistas cubanos fez com que muitos já tenham visitado a academia ilhavense e, não fosse a pandemia, em 2020, José teria partido para Cuba pela 30.ª vez.

Na academia, as paredes estão revestidas com obras de pintura, desenho e fotografia e as estantes a abarrotar de tintas e pincéis; nos corredores, há telas e cavaletes e, no pátio, um antigo curral foi transformado em oficina de trabalho. Há esculturas a decorar o jardim e apontamentos em cerâmica que adornam as paredes. Sempre que o tempo o permite, organizam-se convívios com alunos, artistas e amigos, bem como sessões de pintura ao ar livre.

Já é hábito os artistas que visitam a academia deixarem a sua marca. O cubano Pepe Franco, por exemplo, criou um mural dedicado a Ílhavo e à pesca do bacalhau; na parede em frente, foi pintada a figura estilizada Papa Francisco; não muito longe, há um mural com Che Guevara; e na fachada em que, em 2016, fruto de uma aposta, André havia desenhado Cristiano Ronaldo com as quinas da Seleção e a taça de Campeão Europeu, pode ver-se, desde 2018, um mural dedicado à paz, da autoria de Fábio Carneiro, e onde figuram John Lennon e Nelson Mandela.

As janelas, portadas e telhas da casa velha que resistiram ao tempo e às empreitadas de renovação foram também elas recentemente dispostas numa das paredes, numa composição em jeito de homenagem à história daquele lugar e de todos quantos lá habitaram.

Hoje em dia, André ensina regularmente entre duas a três dezenas de alunos, dos 9 aos 84 anos, tentando conciliar as aulas com o seu trabalho enquanto artista plástico. Uma tarefa “muito difícil”, afiança, já que no seu entender o ensino das artes implica “mergulhar profundamente na personalidade, na compreensão e na criatividade” dos alunos. Ensinar requer “que nos ponhamos na pela deles , nos concentremos nas suas criações, partilhando os seus anseios e tentando compreender o que os estimula” e “isso é extenuante”.

O espaço da academia começa a ser curto para tantos alunos, ainda para mais tendo em conta as recomendações de distanciamento físico que se impõem na atual conjuntura. José prevê que, mais dia, menos dia, André possa ter mesmo de recusar novos alunos na academia, pelo que o seu sonho “era poder ajudar o André a construir um espaço novo em que tivesse oportunidade para crescer”.

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