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Paulo Jorge Ferreira: "A UA está mais forte e mais bem preparada”

Sociedade

Afonso Ré Lau e Maria José Santana

Criada por despacho do então ministro da Educação, José Veiga Simão, a 15 de dezembro de 1973, a Universidade de Aveiro celebra hoje o 48 anos da sua fundação. Do programa festivo, destacam-se a habitual cerimónia comemorativa – que, este ano, inclui a atribuição do título “Embaixador da UA” a um conjunto de antigos alunos da academia – e, à noite, o concerto de Natal pela Orquestra Filarmonia das Beiras.

Depois de, em 2020, a pandemia ter imposto um dia de celebrações à distância, este ano, as comemorações do aniversário da UA voltam ao formato presencial ainda que, adverte o reitor, com “dimensão e duração reduzidas”. “Normalmente, seria uma cerimónia maior, com mais pessoas e outra envolvência, enriquecida com mais eventos ou momentos musicais. No entanto, hoje em dia, isso ainda é impossível”, lamenta Paulo Jorge Ferreira.

Prestes a terminar o primeiro mandato à frente dos destinos da academia aveirense, Paulo Jorge Ferreira faz um balanço ao trabalho dos últimos anos, um período invariavelmente marcado pela crise sanitária, avançando, sem rodeios, a vontade de recandidatar-se ao cargo de reitor da UA. “Ainda ninguém me tinha feito essa pergunta direta e publicamente, mas resposta é óbvia: claro que sim”.

“Têm sido tempos difíceis para todos. Já lá vão 21 meses de presenças intermitentes, avanços e recuos, projetos que são lançados para logo serem contrariados ou desfeitos, atrasos, inconveniências e dificuldades de várias ordens que toda a comunidade sente”, enumera Paulo Jorge Ferreira, admitindo que “a pandemia veio atropelar a instituição”. Do ponto de vista do reitor, a impossibilidade do encontro e de uma maior proximidade com a comunidade académica foi a limitação mais difícil de ultrapassar. “Enquanto reitor, ressinto-me disso. Gosto muito de falar com as pessoas e de estar mais próximo delas do que aquilo que pude estar devido à pandemia e isso magoa-me bastante”, confessa.

Por outro lado, há que reconhecer que, com a pandemia, “houve coisas que não estavam previstas e que fizemos de forma exemplar”, o que, na sua opinião, demonstra a “enorme capacidade de adaptação” e “grande força de vontade” de uma comunidade académica que, “perante obstáculos tão descomunais, mobilizou-se para os ultrapassar, conseguiu fazê-lo e cresceu com isso”.

Para Paulo Jorge Ferreira, hoje "a UA está mais forte e mais bem preparada do que estava há dois anos”. “Durante toda a crise, a universidade foi forçada, a adotar práticas diferentes daquelas que estava mais acostumada a utilizar” e isso “dotou estudantes, professores e investigadores de competências, conhecimentos e instrumentos que, de outra forma, não teriam tido ao seu dispor”. “Utilizámos a maior parte das pausas de confinamento para formação e estudo de novas práticas pedagógicas e houve uma adesão absolutamente desproporcionada para aquilo que podíamos imaginar à partida, o que nos dotou de uma capacidade de pensar o futuro com muito mais flexibilidade e instrumentos”.

Também ao nível da investigação e da cooperação com o exterior “houve um andamento marcadamente diferente daquele que se sentia antes”, diz o reitor. “Aproximámo-nos mais ainda da região e das suas instituições e elas sentiram ainda mais a relevância e a presença da universidade”. “Às vezes, é numa grande aflição que nos juntamos mais uns aos outros e foi isso que aconteceu”, remata.

Um futuro desafiante

De acordo com o reitor, e tendo os próximos anos como horizonte, há três tendências fundamentais que representam desafios para o futuro da UA: “Em primeiro lugar, a demografia”. À medida que a população portuguesa vai envelhecendo e o país se vê a encolher demograficamente, a tendência dita que o número de candidatos ao ensino superior – por norma, jovens com cerca de 18 anos – vá reduzindo, uma vez que há cada vez menos portugueses com aquela idade. Por outro lado, adverte Paulo Jorge Ferreira, há um outro efeito de tendência contrária: “Desses potenciais candidatos, quantos é que efetivamente se candidatam às universidades?”, questiona-se, para logo a seguir explicar que “o que tem acontecido nos últimos anos é que, enquanto o número de jovens potenciais candidatos tem descido, a taxa de penetração no ensino superior tem aumentado, o que tem resultado num saldo líquido positivo para as instituições de ensino”. Ora, tudo indica que este saldo líquido positivo irá, aos poucos, atenuar-se, começando a sentir-se ainda mais os efeitos do declínio demográfico. “É fulcral que a universidade esteja pronta para lidar com a situação”, avisa.

Para o reitor da UA, há ainda uma terceira tendência a juntar a estas duas: a da internacionalização. “Neste momento, cerca de 13 por cento dos estudantes da Universidade de Aveiro são estudantes internacionais provenientes de quase uma centena de países diferentes. A procura internacional é crescente e esse público pode, no futuro, vir a adquirir uma importância ainda maior”. Se, por um lado, essa é uma realidade positiva – “promove-se a diversidade, junta-se gente de línguas e culturas diferentes, com perspetivas e objetivos de vida diferentes e isso resulta numa comunidade mais diversa, criativa e interessante”, por outro, “é mais complexo criar condições para um público muito heterogéneo do que para um grupo homogéneo de pessoas”.

Medicina em Aveiro

Recentemente, Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, voltou a apontar 2023 como o ano para a abertura de novos cursos de Medicina em várias universidades do país, entre as quais, a de Aveiro. Estudantes e médicos prontamente criticaram a posição do Governo e mesmo o Sindicato Nacional do Ensino Superior, que saudou a intenção de alargar o ensino da Medicina, fez questão de alertar para o facto de, primeiro, ser necessário criar condições para que o mesmo possa ser feito com qualidade.

Quanto a Paulo Jorge Ferreira, afirma que “esse processo não carece só da vontade de um qualquer Governo”. “Do lado da Universidade , temos competências, recursos humanos e serviço mostrado na área da saúde que permitem fundamentar a opinião dos senhores governantes, mas não basta vontade política nem capacidade do lado da instituição, para que isso seja possível. São precisas outras condições, , que, neste momento, não estão reunidas, pelo que, nem interna nem externamente, começámos essa discussão”, esclarece o reitor.

Numa referência ao novo Centro Académico Clínico Egas Moniz - Egas Moniz Health Alliance - um consórcio constituído pela Universidade de Aveiro, os hospitais de Aveiro, Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia e outras instituições ligadas à área da saúde, Paulo Jorge Ferreira defende que, “mais do que pensar num novo curso de Medicina, é importante pensar no potencial dessa rede para melhorar os cuidados de saúde, potenciar pós-graduações e a formação de especialistas. É indiscutível que aí a universidade tem as condições necessárias e os hospitais da região poderiam retiram benefícios extraordinários”. “Se, depois disso, vem ou não vem a formação inicial e os Mestrados integrado em Medicina, é uma questão que, para mim, é separada e exige um raciocínio à parte”, conclui Paulo Jorge Ferreira.

Um reitor “da casa”

Paulo Jorge Ferreira é o oitavo reitor da história da Universidade de Aveiro e o primeiro ex-aluno da academia aveirense a assumir o cargo. Ainda assim, Paulo faz pouca questão de sublinhar o facto. “Como é evidente, até a universidade formar os seus primeiros diplomados, não havia hipótese de o reitor ser um ex-aluno, mas mais dia, menos dia, havia de chegar o momento”. E chegou, a 13 de março de 2018, com a sua eleição pelo Conselho Geral.

Com uma infância e adolescência passadas em Torres Novas, no coração do Ribatejo, Paulo Jorge mudou-se para Aveiro nos primeiros anos da década de oitenta, apostando na licenciatura em Engenharia Eletrónica e de Telecomunicacões e na recém-criada academia da cidade. Mas o que terá levado aquele jovem ribatejano a vir para Aveiro para estudar numa universidade com menos de dez anos de experiência e atividade? A resposta “é muito simples”, assegura o reitor. “Eu queria Eletrónica e o curso de Aveiro era o melhor. Havia cursos de Eletrotecnia, mas todos tinham um ar de passado, enquanto o curso de Eletrónica e Telecomunicações em Aveiro tinha uma aura de futuro”. Essa é, aliás, uma das linhas orientadoras da ação da UA que já se verificava nos anos fundadores e que, na visão do reitor, a universidade deve esforçar-se por manter: “proporcionar uma oferta educativa atual, moderna e apelativa”. “Eu vim para Aveiro sem conhecer a cidade e a universidade porque entendi que aquele curso era substancialmente mais atrativo do que outros que conhecia noutras instituições muito mais antigas e, à época, mais reconhecidas”, partilha Paulo Jorge.

Recordando o primeiro impacto com a UA, o reitor lembra uma configuração bem diferente daquilo que hoje se conhece. “A universidade da altura vê-se toda daqui”, certifica Paulo Jorge Ferreira, espreitando pelas janelas do gabinete, no Edifício Central e da Reitoria, onde recebeu a Aveiro Mag. “A universidade funcionava naqueles edifícios ao fundo e no pavilhão ao lado”, conta, referindo-se à zona Norte daquele complexo, particularmente, aos edifícios que atualmente acolhem o Departamento de Línguas e Culturas, centros de investigação como o CESAM, o CICECO e o TEMA, e unidades de formação (UNAVE e continUA) e o CIAQ, uma IPSS vocacionada para a infância. “Quando eu vim para aqui, aquele edifício tinha no primeiro piso o Departamento de Química, no segundo, o de Física, no terceiro, o de Eletrónica e no quarto, o de Matemática. Hoje, para se visitar esses quatro departamentos temos de andar um bocado. A UA cresceu imenso. Este ano letivo, no Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, com 2 mil e quatrocentas vagas disponíveis, recebeu mais de 17 mil e quatrocentas candidaturas”. Paulo Jorge Ferreira recorda igualmente “senhoras de foice em punho a cortar feno” e “carros puxados por bois” a passar pelas imediações, lembrando uma época em que boa parte do território que hoje se conhece como Campus universitário eram, na verdade, campos de cultivo. “Quem hoje passeia pelo Campus da UA ainda encontra muitos poços antigos, heranças dessa época”, observa, acrescentando: “Hoje, neste mesmo lugar, cultiva-se conhecimento”.

Paulo garante que nem enquanto estudante, nem, mais tarde, quando da sua prova de doutoramento, nem mesmo depois de se tornar professor catedrático, nunca teve como objetivo vir a liderar a UA nem imaginou poder vir a tornar-se reitor da instituição. “Se, nessas alturas, me dissessem que isso iria acontecer , eu ria-me. Não foi nada procurado. Há dois requisitos fundamentais para que isto tivesse acontecido: uma caminhada pessoal para a instituição e uma caminhada da instituição para a pessoa. Entendo isto muito mais como um encontro do que como uma viagem a uma só pessoa”, explica Paulo Jorge Ferreira.

Apesar das contrariedades, pode dizer-se que “tem sido um encontro feliz”.

À exceção de uma passagem pela Philips, em Eindhoven, nos Países Baixos, Paulo desenvolveu toda a sua carreira na UA. Foi assistente estagiário, depois assistente, passou a professor auxiliar e professor associado, até chegar a professor catedrático no Departamento de Eletrónica e Telecomunicações, em fevereiro de 2002. Antes de se candidatar ao cargo de reitor, era diretor do mesmo departamento.

Quando lhe sobra algum tempo livre, coisa que, nos últimos tempos, tem sido rara, gosta de “tudo o que diz respeito a aves: observação, captura, marcação, estudo. Felizmente, por aqui, há aves por todo o lado”, afirma, referindo-se às proximidades que a Ria alaga a cada maré e às antigas marinhas que abraçam o Campus. “Ainda há pouco andava ali um rabirruivo”, acrescenta perspicazmente o reitor, indicando, desta vez, o jardim interior do Edifício Geral e da Reitoria.

Neste 48.º aniversário, Paulo Jorge Ferreira deseja que a UA se mantenha na trajetória que tem vindo a traçar, continuando a apresentar planos ambiciosos, visões claras sobre a formação inicial e a formação ao longo da vida, afirmando-se convictamente enquanto “Universidade Europeia”e assegurando níveis de atratividade e procura sustentáveis.

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