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GrETUA reabre as suas portas a Aveiro e as de Aveiro ao país

Artes

Um programa a muitas frentes, é como se pode qualificar a proposta trimestral do GrETUA até Dezembro. Numa altura em que a cidade de Aveiro volta a acolher 2.500 novos rostos na sua Universidade, o GrETUA volta-se para fora do campus universitário e do distrito aveirense.

A oferecer o mote ao trimestre, o colectivo lança o projecto HERAS, em que se propõe a levar artistas do seu programa a jantar a casa de inúmeros aveirenses. Contando ainda com o apoio e a parceria do Teatro Aveirense, haverá showcases privados de João Reis, Nuno Aroso, Valter Lobo e Arianna Casellas, entre muitos outros, espalhados um pouco por toda a cidade. A acompanhar esta iniciativa, a galeria “Ao Vidro” (também da responsabilidade do grupo) levará a artista Joana Mosi às montras de diferentes estabelecimentos comerciais, de forma a enriquecer diferentes percursos pedonais.

Menos limitado à cidade de Aveiro é o projecto pla·tô, em parceria com a Ao Cabo Teatro, que levará dez espectáculos em formato áudio a dez locais públicos, entre a cidade de Aveiro e do Porto. Na área do Teatro, o grupo vai ainda receber “Romance” de Lígia Soares e “Versão Beta” da companhia Visões Úteis. John Romão, Elmano Sancho e Raquel S. serão os convidados da rubrica “À Boca de Cena”, que promove a leitura partilhada de textos dramáticos. Para além destas três sessões, o grupo inaugura em Outubro a sua biblioteca de Teatro e lançará em Dezembro o livro ilustrado “Peignoir”, por Nuno dos Reis, e a partir do espectáculo homónimo levado à cena pelo grupo em 2017.

Na área da dança, haverá espaço para a estreia de “Lugares Inúteis”, de Ana Silva, que estará em residência em Aveiro durante o mês de Novembro, bem como para a segunda co-criação do projecto ECOS_ (Encontros de Criação para Online Streaming), que desta feita alia a realizadora Mimi Sá Coutinho aos artistas João Pedro Fonseca, Luís Guerra, e o colectivo inglês MADMADMAD.

As portas abrem pela primeira vez já no próximo dia 11 de outubro, com dois espectáculos de poesia por Luís Araújo e Ana Deus.

Em vésperas de reabertura, a Aveiro Mag esteve à conversa com Bruno dos Reis, diretor artístico do GrETUA, que falou sobre este fechar de ano, mas também sobre o trabalho realizado nos últimos anos.

Esta programação revela uma saída/abertura do GrETUA para o exterior. A que se deve esta aposta?

Embora não possa falar muito sobre o que precedeu 2017, julgo que é pelo menos desde esse momento que tentamos ocupar o lugar que a cidade e a região nos vai pedindo. Acho que foi sempre muito claro para nós que um projeto de valências culturais absolutamente circunscrito ao confinamento da sua localização geográfica não pode ser um projeto com futuro.

É para o local que se trabalha, mas penso que é sempre a partir dele para o mundo. Ou seja, sediados no Campus Universitário, julgo que o nosso principal objectivo sempre foi a aproximação do território circundante aos estudantes e vice-versa. Tanto geograficamente como temporalmente. Porque a região de Aveiro, pelo menos como a conhecíamos em 2017, era profundamente anacrónica nas suas práticas artísticas, culturais e, sem medo rigorosamente nenhum de o dizer: socialmente também.

Por vezes levanta-se essa pedra: que o GrETUA devia ficar quietinho a fazer teatrinho, e é um pensamento um bocadinho sonsinho, não é? Aprendendo alguma coisa sobre Teatro, aprendemos que o seu papel sempre foi o da transformação social, e nem por isso dentro dos palcos, ou dentro dos mecanismos que tecnicamente vamos apelidando de teatrais.

A nossa relação com a música permitiu muito mais do que vender cerveja e recuperar tecnicamente um armazém quase devoluto: permitiu a aproximação a públicos e de públicos absolutamente inexistentes até então, permitiu uma aprendizagem enormíssima ao nível da produção, a nível técnico, etc., e, o que é absolutamente inestimável, uma aproximação dos nossos jovens (e menos jovens) a linguagens contemporâneas, bem como a modos de ver, sentir e julgar o mundo, que nos chegaram de Taiwan, do Brazil, de Cabo-Verde, enfim.

Os projectos, mesmo que de entretenimento, nunca são apenas entretenimento. Têm uma política interior. Uma forma de ver o Mundo, mais ou menos evidente, mais ou menos rica, mais ou menos interrogadora, mas que está lá.

E depois, o que ainda é mais paradoxal (para acabar de lançar a pedra de volta), é que até o Teatro mais clássico que conhecemos, até há bem pouco tempo, era escrito de forma a estarem programados determinados intervalos, entreactos, que existiam especificamente para promover o encontro entre as várias plateias. A discussão, o diálogo e, provavelmente, a venda de amendoins.

Não consigo colocar um valor a todo o trabalho invisível que o balcão do GrETUA já efectuou. Menos ainda à felicidade.

Portanto, tudo isto surge na sequência do trabalho iniciado em 2017…

O nosso trabalho sempre foi para o próximo, para fora. Fora da nossa blackbox, do nosso conforto, da nossa experiência e, o que é mais importante, fora do nosso tempo. A Biblioteca de Teatro que inauguramos este trimestre será muito pouco lida durante os próximos tempos, desconfio, mas um dia ainda vai salvar a vida de alguém.

E julgo que é isso. Não é aposta nenhuma, não é um investimento, não é um termo emprestado do vernáculo financeiro - é o que nos trouxe aqui, pelo menos desde 2017.

Ninguém diria há cinco anos que chegaríamos a uma altura em que há uma direcção artística, uma direcção técnica, gente imensamente competente em áreas tão distintas como a produção ou a imagem, ou uma capacidade regular de fornecer oportunidades profissionais a jovens com as mais diversas competências, mas o muito bonito é isso.

Não tarda será capaz de andar sozinho, este sonho, e o muito bonito é isso.

Quais são as vossas expectativas para este aparente regresso à normalidade?

Ótimas, como sempre. Nunca estivemos mal, muito menos parados, mas eu julgo que se tinha perdido uma centelha absolutamente essencial. O GrETUA não é apenas o resultado dos seus projectos criativos, que continuámos a ter, nem sequer do seu conteúdo de formação. Assim como todos os projectos culturais de cariz menos formal é, compreenda-se, o resultado entre a tensão de dois pólos muito distintos: a procura de comunidade e, ao mesmo tempo, a fuga para o anonimato - que é uma palavra menos considerada pelos cientistas do jargão cultural.

O anonimato pode ser muita coisa, o isolamento abstrato dentro de uma blackbox, claro, mas pode ser também o salto de uma multitude para outra.

Dentro do GrETUA, ou de um espaço semelhante, o que acontece é muitas vezes isso e é, enfim, o que apelidamos por despir o trabalho, esquecer os estudos, etc. Julgo que a capacidade de imersão (que grande parte do Teatro condena, mas que tão imperativamente convoca) é a característica mais fundamental do ser humano. E julgo que o GrETUA, por mais amadurecido, capacitado, etc., que se torne, nunca pode perder o... ser esse lugar. Corrijo, “esse espaço”. Que é, talvez, a única coisa que consegue reunir 40 e tal anos de história(s).

Julgo que o único risco de “sair para fora”, pegando um pouco na pergunta anterior, é esquecermo-nos disso. Nós, eu, ou quem vier a seguir.

A língua raramente nos engana quando olhamos para ela atentamente, e existe uma tradição antiga (que não sei nem quando nem como começou) de chamar às instalações do GrETUA o “espaço GrETUA”, e sempre pensei que era muito importante reflectir sobre que “espaço” é esse, porque é que é “espaço” e não é “lugar”, porque é que convoca tanta ausência e ao mesmo tempo tanta potência.

Um espaço é um lugar onde eu posso ser, tanto em construção como o seu perfeito oposto. E portanto é muito importante o retorno a esse espaço, mais do que à blackbox, à potência de abraçar, de beijar, imaginar, berrar, ou, enfim, de ficar apenas no canto da minha imaginação a ver os outros falar. Ou a ver o espaço.

O projeto Heras é a vossa grande aposta para este quadrimestral?

No sentido em que o nosso objetivo é voltar a humanizar as práticas sociais, culturais e artísticas, sim. E não é preciso dizer muito mais sobre isso, está tudo dito aí.

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