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Marisa Artur: O destino e a missão da nova comandante dos Bombeiros Novos

Sociedade

Aos 32 anos, Marisa Artur foi nomeada comandante dos Bombeiros Novos. A primeira nos 115 anos de história de uma corporação que, como assume, tem à sua responsabilidade metade da cidade de Aveiro. Mesmo não estando “à espera” de um convite desta “grandiosidade”, a responsável garante estar preparada para “o desafio”, até porque, como faz questão de frisar, tem “os melhores bombeiros, de uma resiliência fantástica em todas as circunstâncias, mesmo nas mais adversas”.

Nascida e criada em São Jacinto, Marisa Artur cresceu no meio de bombeiros, nomeadamente da secção local dos Bombeiros Novos, uma vez que o pai era lá voluntário. “A secção era bastante operacional e o ambiente que se vivia era muito giro”, explica à Aveiro Mag. “Naturalmente que teve influência na minha decisão de ser voluntária. Entrei aos 16 anos, quando vim estudar para Aveiro”.

O que a movia na altura é o mesmo que ainda hoje a inspira: a pré-emergência hospitalar. “É nessa altura que sentimos a importância do que fazemos. É ter impacto. É saber, no final do dia, que se calhar uma vida se salvou devido à nossa intervenção. São momentos de adrenalina, porque quando saímos para uma emergência, nunca sabemos o que vamos encontrar. As pessoas não estão – no local – à nossa espera sentadas, limpas ou despreocupadas. O que encontramos e como encontramos é sempre uma incógnita, é o cenário cru, daí que a arte do improviso seja fundamental, por muito treino que haja, é sempre imprevisível, sendo por isso tão importante como o conhecimento prático e teórico que possuis”.

Desde tenra idade nunca teve dúvidas do que queria ser quando fosse adulta - Bombeira. A progressão da carreira foi a normal, dentro de todos os trâmites legais: “Entrei em 2007, como cadete; depois, bombeiro de terceira; de segunda, em 2012; de primeira, já em 2016; e subchefe, em 2021. “Como subchefe estava tranquila, pois saía sempre em serviço, numa corporação que tem uma faixa etária nova. Nestes cargos gerimos operacionalmente, no terreno, de acordo com as diretrizes emanadas pelo comandante. E estava a gostar, devo dizer”.

O convite e o nervosismo

A pergunta é obrigatória: O que sentiu quando foi convidada? Marisa Artur sorri. E responde, quase de imediato, sem receios: “Todos os bombeiros esperam, um dia, chegar a uma posição de comando. E eu não sou diferente. Entrei aos 16 anos, nunca quis sair daqui. Mas foi mais cedo do que estava à espera. No entanto, fiquei contente pela valorização e apreensiva pela dimensão, porque é, sem dúvida, uma máquina demasiado grande, e sem dinheiro, é uma realidade indesmentível”.

Sem dinheiro, qual o futuro? Marisa não foge à questão e assume: “O meu objetivo principal para este primeiro mandato de cinco anos é elevar os padrões de resposta operacional e, sobretudo, dar estabilidade ao corpo de bombeiros. Nós vivemos – no que depende do meu trabalho - das receitas dos serviços que prestamos, principalmente do socorro. E são esses os números e essa resposta, que temos de manter e, se possível, aumentar”, explica.

A dificuldade do voluntariado

Com 23 assalariados ao serviço, Marisa Artur admite que “são poucos”, sobretudo porque a corporação em termos de operação “é o primeiro corpo de bombeiros, da sub-região, em socorro”. No entanto, dada a situação financeira “são os números possíveis”, estando, por isso, dependentes dos voluntários.

“Nesta altura, temos entre 100 e 120 voluntários. Nada distingue, na tarefa, um assalariado de um voluntário e é do universo dos voluntários que saem os assalariados, sendo que estes últimos, por estarem sempre disponíveis, têm mais saídas, o que é natural. O piquete voluntariado é à noite, e são escalados previamente, para terem tempo para organizarem a vida. Entram às 20h00, jantam connosco, e depois saem para serviço quando são solicitados. Ao fim de semana é igual. Sem os voluntários não teríamos qualquer hipótese de dar resposta a todas as necessidades”.

No entanto, a responsável admite que uma das suas apostas para o mandato de cinco anos é aumentar o número de voluntários. “Há anos que não entram voluntários. É uma dificuldade tremenda. É o que mais preocupa. Ainda assim iniciou-se, em fevereiro, uma escola de estagiários que se propõem a ser voluntários. Vão ter um ano de formação e de estágios. São 23, atualmente, o que nos deixa esperançados a que ainda sejam alguns a concluir o processo e a chegar a bombeiros de terceira. Todos os anos tentamos, mas, por exemplo, em 2022, não deu nada, porque eram só 5 ou 6 e acabaram por desmotivar. Também é importante contextualizar. As vantagens que se oferecem para se ser bombeiro voluntários são escassas. Ou nenhumas”.

O ser mulher

Numa altura em que a igualdade de género e de oportunidades é uma discussão cada vez mais premente e presente na sociedade, Marisa Artur é a primeira comandante dos Bombeiros Novos. Essa responsabilidade pesa? “Estava no topo de carreira enquanto operacional, de rua e por isso custa encostar as botas. Custa pensar que não vou combater o fogo, fazer emergência ou desencarceramento. Ainda não tive muito tempo a pensar nisso, mas enquanto mulher é um desafio, principalmente pela pressão que a sociedade exerce. Gerir egos não me preocupa minimamente”, garante.

A pressão de sair para o “fogo”

Para quem vive de fora a realidade do que é ser bombeiro, existe sempre a versão romanceada da profissão. Em miúdo, quase todos os meninos – e algumas meninas – querem ser bombeiro ou polícia. Mas quem chega à idade adulta e ouve a sirene a tocar ou é chamado para sair para o fogo, o que sente? Tem receio? O que pensa? As imagens dos incêndios de Pedrogão-Grande, em 2017, ainda hoje vivem na memória dos portugueses.

“Não consigo imaginar o que é que pensou a primeira tripulação a chegar a Pedrogão. Deve ter sido assustador e impactante. Não se pensa quando se sai. É melhor não pensar porque podemos condicionar a intervenção. Temos de estar preparados e flexíveis para adequar as condições. No fim do dia, não podemos guardar muitas memórias. A tendência é deixar ir e relativizar. Se não, podemos nunca sair de um sítio”.

*Fotos: Afonso Ré Lau

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