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Rosália Coelho, o futebol e a escola como lugares seguros e de futuro

Sociedade

É natural de Peroselo, Penafiel, mas há muito que Águeda é lugar-casa para Rosália Coelho, psicóloga e parte ativa de projetos que “promovem a esperança” e o reconciliar de histórias, que, segundo Rosália, devem começar com “Hoje é um dia feliz”.

Foi jogadora da seleção nacional de futsal feminino, com a qual venceu um torneio internacional em 2004, dando corpo a um sonho que a acompanhava desde pequena, quando os dias eram passados entre a escola, o inventar de brinquedos e o trepar às árvores. Era junto da bola que se sentia capaz e hoje, a esse mundo onde as impossibilidades não têm lugar para existir, junta-se o seu papel enquanto psicóloga em contexto escolar.

Arrumou as sapatilhas aos 35, mas não o fez com o sonho de poder vir a transformar as vidas dos alunos com quem se faz próxima, dia sim dia sim. Em 2019, um projeto que, com outros colegas, fez nascer – Emoção em Ação – ganhou o prémio BPI “La Caixa” Infância. Hoje, rumo às 40 primaveras, é um produto das pessoas que com ela se vão cruzando, diz, e, por isso, sente-se verdadeiramente privilegiada. “Sou feliz a fazer muitas coisas”, conta, e o mundo é certamente um lugar também mais feliz por a saber assim, construtora de pontes.

O futebol como espaço seguro

Até aos 11 anos, viveu numa quinta com a avó, pelo que a natureza era o seu recreio e os brinquedos, que inventava, eram acessórios que faziam voar a imaginação quando não estava a trepar às árvores, a jogar à apanhada com os primos ou à bola com o irmão. A família era grande, e feita de pessoas que cuidavam umas das outras, como os seus três irmãos mais velhos – verdadeiros cuidadores de quem fala com palpável carinho.

Os recursos não eram muitos, mas Rosália garante nunca ter sentido “falta de nada em termos materiais”. Pelo contrário – com pouco se fazia muito. “Guardo memória de inventar brinquedos – com pedrinhas e lama fazia casas, com latas fazia carrinhos”, conta.

O futebol, porém, não era inventado. Eram muitas as tardes que dedicava ao desporto, mas foi depois de ir para o quinto ano que passou a encará-lo como algo mais sério. Começou a seguir de perto o seu clube, Futebol Clube do Porto, e não tardou a começar a esboçar um plano: quando fosse grande, queria ser como o Vítor Baía, o seu guarda-redes de eleição.

“Tinha todo um sonho de querer jogar – de ter luvas, caneleiras. Mas parecia impossível”, conta, recordando que a realidade era outra, em que era pouco o espaço que ocupava o desporto feminino.

Mas o Universo não tardou a reinventar a realidade. O Universo, ou, na verdade, Manuel Fernandes, o treinador que teve a ideia de criar, na terra de Rosália, uma equipa feminina de futebol. O projeto terminou, porém, mas daí não tardou a passar para um e outro e outro clube.

Fotografia: Casa do Benfica de Aveiro (último clube de Rosália)

“À medida que vamos concretizando etapas de um sonho, o sonho vai aumentando. Primeiro queria jogar, depois queria jogar em equipas que pudessem ter melhores resultados”, revela. Assim, foi parar aos Escolas de Arreigada, um clube de Paços de Ferreira que se tornou campeão distrital do Porto e veio a disputar a final nacional, onde esteve presente o selecionador que a faria voar mais alto.

Em 2004, chegou a ansiada convocação: Rosália foi chamada a representar a seleção nacional de futsal feminino, um sonho em que tanto esforço depositara e em que tantos haviam acreditado para além dela: os clubes, os amigos, a família e, dentro dela, o seu pai, que antes de morrer, lhe disse, com a certeza que só os pais sabem nutrir, que Rosália iria jogar pela seleção.

A escola capaz de olhar nos olhos

Entre a bola e os brinquedos, Rosália nutria uma vontade incontornável de desafiar também as probabilidades na escola. Sabia o que não queria – vir a trabalhar na fábrica das confeções, “o destino traçado para as raparigas da terra” – e, por isso, fez sua missão tirar um curso superior. A irmã, que já havia ingressado na Universidade, foi uma referência desde cedo e, na altura de escolher o que fazer – para além do futebol –, surgiu a Psicologia.

Não sem antes ter de lidar com a morte do pai, quando tinha apenas 17 anos. Quando se preparava para o futuro, o mundo desarrumou-lhe os planos e o luto passou a fazer parte do quotidiano. Serviram-lhe os amigos e a poesia, que abraçou como forma de se expressar. Na escola, os resultados não eram os mesmos e foi numa autoavaliação de matemática, em que Rosália se abriu a uma nota negativa, que a fizeram despertar para o futuro. “A professora olhou-me nos olhos, num momento de fragilidade, e disse: eu sei o teu valor”. Soube aí o que queria fazer: queria ser como aquela professora, pessoa que abre portas quando as chaves parecem estar perdidas para sempre.

Estudou Psicologia em Coimbra, sem nunca deixar o futebol. Valeram-lhe a disciplina e o saber “fazer muitas coisas ao mesmo tempo”, conta, dizendo-se feliz assim.

Terminado o curso, depois de umas férias passadas a trabalhar na colónia de férias da Torreira, iniciou um estágio profissional na Escola de Aguada de Cima, onde encontrou uma “equipa profissional fantástica” e descobriu o seu caminho na Psicologia.

Os projetos que mudam o mundo

Rosália sempre se soube ativa e, após a morte do pai, fez nascer no ninho uma associação juvenil – a Radical Associação de Peroselo –, que, hoje extinta, não deixa de ter “marcado uma geração, pelas experiências que proporcionou”.

Em 2005, co-fundou a Psientífica, uma associação sem fins lucrativos que procura a “criação de valor social acrescentado e de oportunidades de intervenção e inovação”. Foi no seio desta associação que brotaram os projetos Emoção em Ação, a “menina dos olhos” de Rosália, uma Atividade de Enriquecimento Curricular que trabalha a inteligência emocional de cerca de 500 crianças do 1.º ciclo, e o VOGUI, que recorre à Educação Não Formal para capacitar jovens com competências pessoais e sociais que permitem uma tomada de decisão mais consciente relativamente ao curso a seguir.

Entre tantos outros, juntam-se aos objetivos alcançados a atribuição do selo Escola SaudávelMente (2019/2021) ao Agrupamento de Escolas de Águeda e a formação de formadores da Academia de Líderes Ubuntu, que Rosália completou em fevereiro para não tarda vir a implementar em Águeda.

Hoje, integra ainda a Associação Cultural e Recreativa de Vale Domingos, onde o sonho se constrói, com a mobilização impulsionada por Ricardo, seu colega, em torno do Jardim Botânico e da aposta em pessoas que trabalhem com e para as pessoas.

O segredo para tanto fazer está em alimentar a paixão, conta Rosália, que a usa como veículo para a transformação – sua e do mundo.

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