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Cândido Teles inspira projeto fotográfico na Costa Nova

Artes

“O Homem Tranquilo” é uma reinterpretação contemporânea, em fotografia, das primeiras obras que o pintor ilhavense Cândido Teles dedicou à Costa Nova. O projeto está a ser desenvolvido por Alexandre Sampaio e terá apresentação pública no próximo sábado, dia 8 de agosto, aquando das comemorações do 83.º aniversário do Museu Marítimo de Ílhavo.

Nesta primeira apresentação, que será realizada através das redes sociais do Museu Marítimo, não conte com um produto acabado ou pronto a consumir. De acordo com Alexandre Sampaio, “o projeto ainda está numa fase inicial” e, até à sua conclusão, prevista para 2021, deverá passar por duas etapas bem distintas:

A fase atual é de observação, de “questionar o território e a paisagem a partir da pintura de Cândido Teles”, encarnando sempre um papel de “observador exterior que não se imiscui na realidade”;

Um segundo momento exigirá contacto próximo com a comunidade da Costa Nova: “Quero falar com a população, perceber os seus pontos de vista, conhecer a fundo os espaços que, para já, ainda só fotografei a partir do exterior” e, com esses elementos, tentar traçar, através da fotografia, “um retrato sociocultural da Costa Nova nos dias de hoje”, esclarece.

Quando foi desafiado pelo Museu Marítimo de Ílhavo para esta reinterpretação fotográfica da obra de Cândido Teles, Alexandre tinha apenas um “conhecimento superficial” da obra do ilhavense. Foi ao abraçar esta empreitada que estudou a vida, o percurso e a evolução do artista e, depois de ter conhecido o filho do pintor, admite ter ficado com “uma imagem mais realista daquilo que terá sido como pessoa”. “Era um homem que gostava de passear, de parar para pensar e refletir, de pintar em isolamento, como que procurando um espaço interior para se exprimir”, relata.

Este estilo calmo, introspetivo e pacífico que terá caracterizado Cândido Teles está, aliás, expresso no epíteto que lhe havia sido dado em África e que Alexandre adotou para título do projeto - “O Homem Tranquilo”.

Cândido Teles nasceu em Ílhavo, em 1921, no seio de uma família de pintores da fábrica da Vista Alegre. Influenciado pelo seu pai e pelo seu avô, começou a pintar muito cedo. Em 1938, com apenas 17 anos, realizou a sua primeira exposição no antigo salão Arrais Ançã, na Costa Nova, e, no ano seguinte, conheceu Fausto Sampaio, pintor paisagista que viria a tornar-se seu mestre e uma das principais influências na sua obra.

Os anos de 1940 ficariam marcados pelo primeiro período pictórico do então jovem artista. Um tempo de aprendizagem e experimentação, em que Cândido Teles “eternizou a ideia da Costa Nova com a sua luz pueril, o espelho de água que reflete o céu e um certo romantismo ligado às atividades da ria e às embarcações”, descreve Alexandre Sampaio que, a propósito deste projeto, se tem debruçado sobre as obras deste período.

Num exercício de comparação entre o passado e o presente, e tendo sempre presentes as paisagens retratadas por Cândido Teles, a verdade é que, menos de um século depois, “são notáveis as transformações morfológicas, sociais e culturais que a Costa Nova sofreu, bem como as alterações na ria e na sua utilização”, avalia Alexandre.

Antes de mais, a ria está mais estreita. Comparando com aquela época, em que “a ria vinha até à porta de casa” e, por isso, a comunidade “tinha uma relação muito mais direta com a água”, hoje em dia, a ria está para lá da estrada, para lá do relvado e, invariavelmente, “a ligação das pessoas com a água é muito mais distante, utilitária e turística”.Além disso, é, atualmente, inegável “a ausência do (antigamente) icónico moliceiro”. Com o tempo, o moliceiro tornou-se numa embarcação cada vez mais rara na Costa Nova.

Quanto à morfologia do terreno, o destaque vai para a evolução das pavimentações e os desníveis que a mesma tem causado. “Há bastantes casas um metro, até dois metros abaixo da atual quota da estrada, uma imagem de grande impacto na representação daquela zona”.

A ligação de Alexandre Sampaio à Costa Nova e a Ílhavo remonta aos anos de 1990. Antes de se dedicar às artes visuais e performativas, Alexandre estudou Bioquímica na Universidade de Aveiro, período no qual chegou a morar (cerca de três anos) na Costa Nova.A vida acabaria por afastá-lo das ciências físicas, mas o encenador, performer e animador cultural nunca haveria de ficar muito tempo longe de terras ilhavenses.

“ é um território com o qual tenho uma relação de intimidade e ao qual tenho sempre voltado”, admite Alexandre. Esse regresso deu-se, por exemplo, em 2017, com a encenação de “Mar”, uma peça de teatro criada a partir de um texto de Miguel Torga e levada a cena no Museu Marítimo por um grupo de artistas amadores acompanhados pelo Orfeão da Santa Casa da Misericórdia, a Banda dos Bombeiros Voluntários e o Rancho da Casa do Povo de Ílhavo; deu-se, de igual forma, com a coordenação da performance comunitária “Intimidade”, apresentada, ao vivo, nesse mesmo verão, no Navio-museu Santo André, durante do Festival do Bacalhau; deu-se, mais recentemente, quando Alexandre orientou a dobragem interpretativa do restaurado filme “Heróis do Mar”, um projeto comunitário que quer dar nova vida ao único filme português de ficção com narrativa sobre a pesca do bacalhau - restabelecendo-lhe a banda sonora e a voz das personagens - e cuja conclusão, prevista para abril deste ano, teve de ser adiada devido à crise sanitária.

Além do teatro e da performance, desde 2012, Alexandre tem vindo a dedicar-se de uma forma especial a outra forma de expressão artística - a fotografia – e a utilizá-la para contar histórias. Todavia, não se considera fotógrafo - “longe disso”, reitera.

O lançamento do projeto “O Homem Tranquilo” está integrado nas comemorações do aniversário do Museu Marítimo de Ílhavo, este ano, dedicado a Cândido Teles. A 8 de agosto, o museu ilhavense vai inaugurar “Transparências da Ria e do Mar, por Cândido Teles”, uma exposição que resulta da doação, pela família do pintor, de 121 obras “reveladoras da beleza da ria de Aveiro, dos moliceiros, das marinhas, da Costa Nova e da arte xávega”.

Para o dia seguinte, 9 de agosto, está marcado (e já tem lotação esgotada) percurso pedestre “Cândido Teles: a Costa Nova como (quase) nunca a viste...”, uma visita guiada à Costa Nova e uma oportunidade para redescobrir aquele lugar tendo por base o olhar do artista ilhavense.

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