No universo da fotografia, João é conhecido pela marca joãozero, em que associa o seu nome ao numeral cardinal que representa o vazio, o princípio, como símbolo do “sonho de conseguir criar a partir do nada”. “É impossível pensar na possibilidade de uma to 100 por cento criativo. Há sempre que ir beber a algum lado. A criação entendida como algo nascido do zero, do nada, é algo que só os primeiros seres humanos puderam experimentar. A arte – e, concretamente, a fotografia que eu pratico – não existe desligada do mundo. Mas eu persigo essa impossibilidade”, explica o fotógrafo.
A sua fotografia é “uma mistura entra a fotografia de viagem, a fotografia documental e a fotografia de rua”, na qual o ser humano é quase sempre o grande protagonista. Gosta de o isolar em locais que o massacram e apequenam, que o tornam refém da sua própria megalomania, mas fá-lo com uma criatividade e sensibilidade artística capaz de surpreende a cada enquadramento. Para isso, vê-se obrigado a praticar uma “fotografia de espera”. “De certo modo, é como fotografar vida selvagem. O ser humano na selva urbana está no seu habitat natural.” Na mesma paisagem urbana, João é capaz de engrandecer até o que, ao olhar menos exercitado, pode parecer insignificante, bem como de concentrar um mundo inteiro de opulência e glória numa vil poça de água. É tudo uma questão de encontrar o ponto de vista certo, configurar o aparelho para os efeitos desejados e disparar. Mas, antes de mais, é preciso ir. Há que visitar novos locais, percorrer-lhes as ruas e desvendar-lhe os segredos escondidos nos reflexos, nas perspetivas mais inusitadas e nas rotinas daqueles que os ocupam.
joãozero percorreu Portugal de lés a lés, mas também já fotografou em Espanha – prefere Barcelona ou Sevilha a Madrid, nas capitais de França, Bélgica, Inglaterra e Alemanha – Berlim é a mais completa e impressionante de todas -, já subiu à Escócia e atravessou o Atlântico para registar a incontornável Nova Iorque, nos Estados Unidos. Das viagens mais recentes, destacam-se Casablanca e Marraquexe, em Marrocos, e, para este ano, já tem agendadas visitas a Milão e Veneza, bem como Budapeste, Bratislava e Viena. João também gostava de experimentar o Perú, o Chile e a Argentina, mas estes são destinos mais delicados para um viajante cauteloso. Se há país, contudo, que, um dia, não pode mesmo deixar de fotografar, é o Japão.
Ao longo dos anos, já foi galardoado com variadíssimos prémios, já integrou o painel de jurados de diferentes concursos de fotografia, já expôs o seu trabalho em diversas mostras e exposições e, em 2020, lançou o livro de fotografia "T(w)o zero, t(w)o zero". Afinal, “há quem fotografe só para si, mas, quanto a mim, a fotografia é para ser observada. A minha fotografia é decididamente para os outros”. A próxima exposição individual de joãozero é inaugurada no dia 17 de fevereiro (sábado), às 17h30, na galeria Nuno Sacramento, em Ílhavo.