Começamos a conversa com a pergunta da praxe – que idade tem? - e António Bastos responde-nos a cantar. “O tempo não existe/O que existe é o momento/Se eu faço algo hoje, eu modifico o meu futuro/Se eu não faço algo hoje, eu modifico o meu futuro/Então o meu futuro é o meu momento”, entoa, trazendo para o início da entrevista uma música da sua autoria que reflete aquilo em que acredita. “Essa música foi feita em conjunto com a comunidade, nomeadamente o Orfeão de Vagos e o Coral do Troviscal, para espalhar a mensagem de que a idade não conta. O que conta é a atitude na vida e o momento”, alerta. Aceitamos o argumento e cingimo-nos “ao que conta”: Eis António Bastos, músico, compositor e professor de música, que tem dedicado parte da sua carreira a trabalhar com as comunidades, sem desistir do seu projeto a solo.
Nascido em Coimbra, foi em Aveiro que cresceu e começou a tornar-se músico profissional. Estudou no Conservatório e seguiu para a licenciatura de Música na Universidade de Aveiro. Pelo meio, ainda chegou a frequentar, durante alguns anos, o curso de Engenharia Mecânica, na mesma universidade, mas a paixão pela música acabou por falar mais alto.
Em dueto com o também aveirense Jepe – nome que dispensa apresentações junto daqueles que foram acompanhando as noites da discoteca Estação da Luz -, criou a banda Johnwhaynes, cuja sonoridade correu mundo. “Era um projeto de música eletrónica e editámos vários discos”, recorda, a propósito da banda que deixou marcas. “Acabou porque cada um seguiu o seu percurso. O Jepe foi para Berlim, o que se compreende, pois em Portugal é muito difícil qualquer coisa vingar. Sinto isso na pele. Já pensei várias vezes ir embora daqui”, testemunha.
Uma das coisas que prende António Bastos ao nosso país é a música tradicional e também os trabalhos que vai fazendo com os coros do Orfeão de Vagos e do Troviscal, e com as comunidades em geral. “O resultado é muito giro. Tem sempre uma identidade própria da terra”, realça, a propósito do trabalho que vai desenvolvendo ao abrigo do projeto “António Bastos e a comunidade” e que já o levou a trabalhar em “Ílhavo, Vagos, Oliveira do Bairro, Figueira da Foz, Chamusca, Ourém...”, entre outras localidades.
Albergaria-a-Velha será o próximo destino. O Cineteatro Alba já recebeu os primeiros ensaios do espetáculo que envolverá o Coral da Jobra, Coro do Programa Idade Maior e Grupo Coral Rainha Dona Teresa, e que irá estrear em outubro. “Nesses projetos fazemos sempre música original, que é estreada no próprio espetáculo”, desvenda. E em Aveiro, Capital Portuguesa da Cultura? “Trabalhei afincadamente nesse projeto, quando foi a candidatura a capital europeia, mas ainda não consegui fazer aqui o projeto. Vamos ver. Gostava de fazer o António Bastos e a comunidade na Aveiro 2024”, declara.