A paixão pelos desenhos sempre esteve lá, resistindo aos tempos em que dedicava grande parte do seu tempo a estudar ou a trabalhar - licenciou-se em Línguas e Relações Empresariais, na Universidade de Aveiro e teve uma carreira na área administrativa. Mas foi a experiência com o seu primeiro livro que a levou a ganhar coragem para transformar um sonho em realidade, concretizando o voo que lhe tinha sido vaticinado pela mãe. Maria Sousa, autora e ilustradora de livros infantis, é um desses exemplos de vida que vale a pena conhecer, não só pelo valor do trabalho que tem vindo a concretizar, mas também pela coragem e empenho com que abraça os desafios.
Natural da Branca, Albergaria-a-Velha, e residente em Aveiro, Maria Sousa, de 51 anos, é uma mulher bem-disposta, de sorriso fácil, que rapidamente nos leva a transformar a entrevista numa conversa. Com a Maria Sousa, artista, e também com a Maria de Lurdes Sousa Rodrigues, mulher. Fazem parte de um mesmo corpo, sem distinções entre elas, à exceção no nome. “Maria Sousa é o nome que assumo como autora, em homenagem à minha mãe”, conta, revelando que a progenitora sempre acreditou que o seu futuro ia passar pelas artes. Perdeu-a demasiado cedo, com 13 anos, mas as memórias permanecem bem vivas. “Naquelas nossas últimas conversas, eu estava sempre com um bloco a desenhar”, lembra-se, orgulhosa de ter recebido da mãe “ensinamentos muito importantes” que a ajudaram a lutar pelos seus sonhos.
Naquela altura, Maria Sousa ainda vivia a sua infância, fase dada à magia e ao ato de brincar. Terá sido o facto de ter tido uma parte da sua infância roubada que a levou, mais tarde, a começar a escrever e a ilustrar livros para os mais pequenos? “Pode ter sido. Mas desde pequenina que adoro os livros infantis e os desenhos”, declara a fã confessa dos livros da Anita. “Os desenhos daqueles livros têm tanto detalhe, tanto detalhe, que eu sempre sonhei fazer desenhos assim”, acrescenta.
Sonhou e concretizou. Em 2012, Maria Sousa acabaria por lançar o seu primeiro livro infanto/juvenil, “Os Guardiões do Reino do Sol”.
Em 2013, lançou livro “A mata da avó Luísa”, um conto sobre a importância de confiar em quem nos ama, e, cerca de um ano depois, presenteou-nos com “Despertar”, que trata sobre um jovem que anda adormecido para a bondade, mas no parque natural “Despertar” será surpreendido. Seguiu-se, em 2016, “As Paixões da Primavera”, obra bilingue (português e Inglês) em que são abordados vários temas atuais com o objetivo de sensibilizar os mais jovens para as alterações climáticas e para os ciclos das culturas ao longo das estações.
Pelo meio, Maria Sousa ainda voltou a estudar. De forma a aprofundar as suas técnicas de desenho, abraçou uma formação em ilustração científica, no Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro. E como se isso não bastasse, ainda foi tirar outra licenciatura, em Línguas e Estudos Editoriais.
Ilustrar para outros autores
Mais recentemente, Maria Sousa começou a ser desafiada para ilustrar livros para outros autores - nomeadamente para alguns escritores que têm publicado com a Sana Editora -, missão que tem desempenhado com imensa satisfação. “Gosto muito de ilustrar para outros, porque me obriga a sair da minha zona de conforto”, testemunha.
Atualmente, também dá aulas de arte no seu atelier, algo que também lhe dá imenso prazer. Garante que não desistiu de escrever os seus próprios textos e que até tem “uma história muito linda” para partilhar com os seus leitores, mas ainda não teve tempo para a trabalhar conforme pretende. Além do mais, estas experiências de ilustrar para outros e dar aulas têm-na deixado muito feliz.
Amante das paisagens naturais, Maria Sousa também sonha com viagens. “Adorava ir ao Tibete, estar lá no cimo das montanhas, em silêncio”, conta, depois de assegurar que ainda tem uns quantos locais que gostava de visitar.