Grande parte da minha geração ficou fascinada por uma serie de culto chamada Twilight Zone. Com episódios a preto e branco de cerca de trinta minutos, misturava suspense e ficção científica num estilo único. É difícil de explicar o encanto (e medo!) que a série me provocava - ainda hoje me lembro e conto alguns dos episódios que mais me marcaram.
E refiro isto porque ontem parecia estar dentro de um episódio da Twilight Zone…
Ao caminhar a pé para o escritório, uma caminhada de cerca de quinze minutos onde percorro uma parte considerável da cidade, senti que algo não parecia estar bem. Não era o que via ou sentia mas a ausência de qualquer coisa. Não consegui perceber de imediato o que era, mas a sensação de estranheza tomava conta de mim. Percebi então que não havia crianças na rua. Nenhuma. Nem uma. Em todo o caminho. Não falo apenas de crianças mas de um qualquer ser com menos de 14 anos ou assim. Não, nem uma.
Chegado ao escritório e ao tomar um longo e pensativo café pensei: são 9 horas, não viste uma criança porque as crianças estão na escola. Não sejas criançola e vai trabalhar. Sorri até porque o melhor do mundo são as crianças e uma cidade sem crianças não faria qualquer sentido certo?
Voltei ao mesmo percurso no dia seguinte e no outro a seguir e a realidade foi a mesma: as crianças já não habitam o espaço público.
Pedro Strecht, o pedopsiquiatra, escreveu sobre isto recentemente: “Em média, uma criança até aos 10 anos passa diariamente 8 horas na escola (…) Os ecrãs ocupam mais de duas horas e meia por dia e os reclusos passam mais tempo ao livre do que uma criança em idade escolar.”
Queixamo-nos depois das horas que as nossas crianças passam no telemóvel e achamos estranho que andem irritados, ansiosos…