Quanto maior é o tempo de utilização de dispositivos digitais por crianças em idade pré-escolar, menor é o respetivo desenvolvimento da linguagem. Esta é uma das grandes conclusões de um estudo da Universidade de Aveiro (UA) que procurou analisar a relação entre a utilização de dispositivos digitais, as dinâmicas familiares e o desenvolvimento da linguagem em crianças.
Publicado na revista CoDAS (Communication Disorders, Audiology and Swallowing), o estudo, assinado por Maria Inês Gomes, Marisa Lousada e Daniela Figueiredo, investigadoras do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS.UA@RISE), uma das unidades de investigação da UA, contou com a participação de 93 famílias nacionais com crianças com uma média de idade de 57 meses.
Os principais resultados do estudo, aponta Daniela Figueiredo, mostram que “a maioria das famílias participantes tem um funcionamento familiar equilibrado e que, em média, as crianças apresentam um desenvolvimento normal da linguagem”. No entanto, sublinha, “verificou-se que em famílias nas quais se observa menor coesão, flexibilidade e satisfação familiar há um aumento do tempo de utilização do smartphone ou do tablet por parte das crianças”.
Por outro lado, observou-se também que, “quanto maior é o tempo de utilização de smartphone, tablet e/ou computador por parte das crianças, os resultados em termos de desenvolvimento de linguagem, avaliados por provas de expressão verbal oral e compreensão auditiva, também foram piores”.
Por fim, os resultados “indicam uma associação muito significativa entre o tempo de utilização deste tipo de dispositivos por parte dos pais fora do horário de trabalho e o tempo de uso deste tipo de ecrãs por parte das crianças”. Ou seja, explica a investigadora, “a mais tempo de horas de utilização de smartphones e tablets por parte dos pais, se associa também mais tempo de uso destes dispositivos por parte das crianças, durante a semana e ao fim-de-semana”.