Tiago Castro*
Acordo de manhã ao terceiro toque de telemóvel e arrasto-me para a cozinha para arranjar os pequenos-almoços, as lancheiras e arrancar com a minha filha para a escola. A viagem de carro é curta e relativamente rápida – afinal de contas vivemos numa cidade pequena. Escrevo relativamente rápida porque os últimos 75 metros são, como qualquer pai que lê este artigo saberá, passados no para-arranca de quem, como eu, quer deixar a sua cria o mais perto possível da entrada. Trocamos um beijo rápido, um até-logo e termina assim a tarefa semanal de levar a minha filha mais velha, a Amália, à escola João Afonso.
Era assim a minha rotina. Até há um mês. Até ao dia que a Amália e eu combinámos ir de bicicleta para a escola.
A partir daí, as quartas-feiras passaram a ser um pouco diferentes. Bem, continuo a acordar ao terceiro toque de telemóvel e sim, continuo a arrastar-me lentamente para a cozinha. Até aí nada de novo. Mas a viagem - outrora tão automática, tão mecânica, tão igual - foi diferente. Na verdade, deixou de ser uma tarefa e passou a ser um bocadinho de uma aventura, uma coisa nossa. Minha e da Amália. A tarefa de levar-à-escola passou a ser como que um passeio pelo parque – E é mesmo! pelo menos uma parte dela.
Falar de mobilidade, para mim, é muito isto. É viver numa cidade que me permite ir com a minha filha para a escola de bicicleta. Bem sei que para a maioria dos pais será muito difícil, ou quase impossível, fazê-lo. Bem sei que para muitos de vocês, por mais que gostassem, não dá mesmo. Mas também sei que para muitos outros – e sei porque eu era um de vocês! – as barreiras e dificuldades são muitas para que isso aconteça.
A primeira delas é a preguiça – convenhamos que entrar num carro e ouvir as notícias da manhã, exige um esforço bem menor do que ir buscar as bicicletas (e os pneus que devem estar vazios!?) e fazer-se ao caminho. A segunda é o medo da insegurança de ir com uma criança de bicicleta pela meio da cidade.
Relativamente à primeira, percebo. Eu preguiçoso me confesso. Mas acredite que o gozo que lhe vai dar, a si e ao seu filho/a vai valer a pena. Não precisa de o fazer todos os dias, pode ser um dia por semana, um dia por mês. Experimente (mesmo!) vai ver que o dia vai saber bem melhor.
Quanto ao receio da insegurança ele é quase inexistente. Recentemente eu e a Amália juntamo-nos a outros pais e crianças – naquilo que se apelidou de CicloExpresso João Afonso e juntos fazemos o caminho (alguns vêm das Barrocas, outros do centro da cidade). Como somos vários fazemos uma caixa de segurança - em que um adulto à frente e outro atrás permite que as crianças façam a viagem em segurança. O facto de já sermos alguns faz com que muitos dos automobilistas parem e respeitem a nossa passagem.
E acaba aqui o meu manifesto pró-bicicleta.
Se quiser experimentar, vir connosco para a João Afonso (quartas e sextas) ou fazer perguntas, envie-nos um e-mail para cicloexpressojoaoafonso@gmail.com
* Promotor do Cicloexpresso João Afonso