Não é preciso percorrer muitas artérias para perceber a razão de ser do slogan “Cidade-Museu Vivo do Azulejo”. Basta olhar à volta, a partir da Praça da República, e atentar às fachadas azulejadas que estão ao alcance da nossa vista. E este nem será dos locais onde elas são mais abundantes, repara Gil Godinho, técnico da divisão cultural da Câmara de Ovar, que nos guia num breve passeio pelo centro da cidade de Ovar. Além de olharmos para os edifícios que já ostentam azulejos, prestamos também atenção a uma grande parede que, no final do mês, ficará decorada com um grande painel de azulejos assinado pelos artistas Los Pepes. A dupla tem estado a trabalhar, em residência artística, na Escola de Artes e Ofícios e prepara-se para apresentar uma obra repleta de cores, geometrias e singularidades existentes no território. “O azulejo está a ser difícil”, confessaram, na altura em que os surpreendemos a trabalhar. Ainda assim, mostravam-se motivados e prontos para surpreender a comunidade local e os visitantes.
Este mural, intitulado “Ovar do Azulejo”, está a ser desenvolvido no âmbito da programação especial que o município costuma dedicar, ao longo de todo o mês de maio, ao azulejo. Este ano, o cartaz tem um atrativo especial, uma vez que o ACRA - Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo da Câmara Municipal de Ovar – está a comemorar o seu 25º aniversário.
O balanço “não podia ser mais positivo”, destaca o vereador da Cultura, Alexandre Rosas, a propósito do organismo que “tem liderado uma missão contínua de preservação, estudo e celebração deste legado único [azulejo]”. O primeiro passo do ACRA passou por “mapear o centro histórico: quase 800 fachadas azulejadas registadas, num inventário que continua a orientar cada intervenção”, destaca. Referência, ainda, para a criação do Banco de Azulejos - os azulejos provenientes de obras ou demolições ganham nova vida, combatendo o mercado negro e garantindo reposição autêntica -, entre outros projetos e conquistas.
“Ademais, ao longo destes 25 anos, o ACRA acompanhou e executou várias intervenções em edifícios da cidade, com destaque claro para o centro histórico de Ovar. As obras incidem em fachadas de edifícios privados, refletindo o forte envolvimento da comunidade na preservação do património azulejar. Pode afirmar-se que o número de fachadas de azulejo restauradas em edifícios privados já ultrapassa as 350 intervenções, representando um impacto real na imagem urbana de Ovar e na valorização do seu património”, realça, ainda, o autarca, acrescentando: “o Programa de Apoio à Recuperação de Fachadas do Centro Histórico de Ovar (RARFCHO), lançado em 2017, deu um impulso decisivo a este movimento. Desde então, o município recebeu 110 candidaturas para recuperação das fachadas, das quais cerca de 65% já foram concluídas com sucesso”.
Ovar apresenta-se, assim, como “um verdadeiro museu a céu aberto”, que “permite a visita a qualquer hora, em qualquer época do ano” – o município desenvolveu alguns conteúdos que convidam os visitantes a explorarem autonomamente a cidade e o concelho, como é o caso do jogo Vai Passear -, vinca Alexandre Rosas. A aposta no produto “Ovar Cidade-Museu Vivo do Azulejo” parece estar mais do que ganha, dado o número de visitantes que têm procurado conhecê-la. “Além disso, o património azulejar, dada a sua dimensão e amplitude, tem conseguido afirmar-se como um produto âncora para a valorização turística de outras ofertas naturais (com destaque para a Estação Náutica), culturais, históricas, arquitetónicas, religiosas e gastronómicas”, acrescenta o vereador.
