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Júlio Pedrosa: “A Universidade de Aveiro tem envelhecido bem”

Região

Afonso Ré Lau

Esteve na tomada de posse da comissão instaladora da Universidade de Aveiro, testemunhou o lançamento dos primeiros cursos e a primeira fase de construção do Campus. Na academia aveirense foi assistente, professor auxiliar e professor catedrático, vice-reitor e reitor, cargo que deixou, no último ano do segundo mandato, para assumir o Ministério da Educação do segundo Governo de António Guterres. Atualmente, além de membro do Conselho de Curadores da UA e presidente do Conselho Geral do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa –, dedica o seu tempo às vinhas da família, nas encostas de São Cosmado, Armamar, acompanhando de perto o processo de desenvolvimento das uvas e a produção dos vinhos. É, por isso mesmo, recorrendo a uma expressão do universo da vitivinicultura que Júlio Pedrosa atesta, em entrevista à Aveiro Mag: “A UA tem envelhecido bem”.  

Júlio Pedrosa licenciou–se em Ciências Físico-Químicas e, mais tarde, em Química (Ramo Científico), na Universidade de Coimbra. Foi na cidade dos estudantes que conheceu Victor Simões Gil, o docente que, em 1973, tendo sido escolhido para presidir à comissão instaladora de uma nova universidade em Aveiro, o convida para se juntar ao projeto. “A princípio, pedi-lhe para pensar”, lembra Júlio. “Afinal, estava prestes a começar o meu doutoramento e a minha ideia era ficar por Coimbra. Mas tinha uma grande consideração pelo professor Victor Gil – foi com ele que publiquei o meu primeiro artigo científico. Em Coimbra, tínhamos uma pequena tertúlia que reunia às sextas-feiras para conversar sobre o futuro das universidades e, aos sábados, para jogar futebol no estádio universitário – e sabia bem qual era a visão dele para a nova universidade”.

Júlio Pedrosa recorda o presidente da comissão instaladora e primeiro reitor da UA como “um indivíduo visionário”, que “procurava sempre organizar-se bem e rodear-se de pessoas que pudessem dar bons contributos”. No seu entender, Victor Gil foi “injustamente demitido” numa altura “politicamente difícil” para o país. “Ele não estava cá para fazer o jeito a nenhum partido político, essa não era a cultura dele. O único interesse dele era ter uma universidade diferente e inovadora”, assegura, defendendo que, cinquenta anos depois, Victor Gil “ainda não foi devidamente homenageado” pela comunidade civil e académica aveirense.

Júlio aceitaria o desafio de vir para Aveiro com a condição de poder ir fazer o doutoramento a Cardiff, no País de Gales. “Por lá, sabia que não demoraria mais de três anos”. E assim foi. Em 1974, depois da tomada de posse da comissão instaladora e de até já ter lecionado algumas aulas complementares ao secundário ao conjunto de trabalhadores dos CTT que viria a fundar o curso de Eletrónica e Telecomunicações, embarca com a família – a esposa, Maria Helena, e o filho, Miguel – rumo à capital galesa. Regressaria três anos depois, em 1977, já após o nascimento do segundo filho, Paulo, com o grau de doutor e a missão de arrancar com o departamento de Química da Universidade de Aveiro.

Hoje, ao visitar o Campus aveirense, Júlio Pedrosa continua a recordar muitos episódios que passou na UA: Recorda o projeto inicial e a aposta estratégica em áreas de conhecimento inovadoras, como o Ambiente e os Materiais - “Ainda há poucas semanas, no Alentejo, encontrei o meu grande amigo Lopes Baptista, e estivemos a conversar sobre essa época”. João Lopes Baptista era professor na Universidade de Coimbra quando aceitou o desafio de vir para Aveiro dar início a um departamento pioneiro, Cerâmica e Vidro -, assim como a instalação do projeto-piloto do CIFOP – Centro Integrado de Formação de Professores –, o primeiro em Portugal com vista à formação de professores desde a educação pré-escolar até ao ensino superior;

Recorda, de igual forma, o momento em que foi contactado pelo recém-eleito reitor Joaquim Renato Araújo – naquela altura, Júlio estava de volta ao Reino Unido para um ano sabático dedicado à investigação – e do convite para ser vice-reitor. Com o objetivo de aumentar o leque de cursos e fazer com que a UA se expandisse para novas áreas, Renato Araújo tê-lo-á desafiado, desde logo, a pensar num curso na área do turismo – que viria a tornar-se Gestão e Planeamento em Turismo - e outro na área da economia e engenharia – de onde nasceria a inovadora Engenharia e Gestão Industrial.

Com o mesmo entusiasmo, lembra a “aventura” de trazer o curso de Música para Aveiro, uma proeza que teve a oportunidade de contar, ainda há pouco tempo, no aniversário da criação do Departamento de Comunicação e Arte. “Queríamos trazer Música para a UA para termos oferta formativa em performance e composição, não só para termos ensino de música, mas quando enviei a proposta para Lisboa eles quiseram logo falar comigo: «Música em Aveiro? Ensino de música, tudo bem, precisamos de professores de Música, mas Música?»”, ter-se-ão interrogado no Ministério. “Respondi-lhes: «Os senhores façam como entenderem, na certeza de que vamos ter Música em Aveiro». Por essa altura, já nós tínhamos feito um trabalho prévio com académicos da área e músicos no ativo, já tínhamos discutido o assunto com o Conservatório e já tínhamos ido visitar departamentos de Música de universidades estrangeiras”.

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Já do tempo em que foi reitor da UA, entre 1994 e 2001, Júlio Pedrosa guarda “principalmente, uma memória de grande proximidade com as pessoas e os departamentos”. “Eu conhecia as pessoas pelo nome. Era engraçado quando andava a mostrar o Campus a algum visitante e dizia «olá, Manel», «bom dia, Maria». Eles ficavam admirados de nos conhecermos uns aos outros”.

Importa recordar que remonta aos anos em que Júlio Pedrosa liderou a academia aveirense a determinação de expandir a UA para o Crasto - “a decisão de construir aquele complexo de residências para estudantes tem dado os seus resultados. Aveiro é das universidades que tem mais residências e a que tem mais residências em construção” -, bem como o lançamento das Escolas Politécnicas. “Sempre tivemos a preocupação de que a UA estivesse ancorada na região. E numa região muito industrializada, repleta de empresas, não havia Ensino Politécnico.  Resolvemos, portanto, criar a Escola de Águeda [ESTGA – Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda]”. O projeto foi aprovado, mas, pouco tempo depois, um novo ministro assume a pasta e “é convencido a travar o processo”, diz Júlio Pedrosa. Só alguns anos depois é que Marçal Grilo, ao iniciar as funções de ministro [Eduardo Marçal Grilo foi ministro da Educação do primeiro Governo de António Guterres], telefona para saber se a UA ainda estaria interessada numa Escola Politécnica. “Prontamente lhe respondo que sim, mas, naquela fase, já não era só uma. Já tínhamos projetos para a Escola de Saúde e para a Escola Aveiro-Norte [respetivamente, a ESSUA – Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro – e a ESAN – Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologias da Produção Aveiro-Norte]”. “Foram todas aprovadas”, congratula-se o antigo reitor.

Em conversa com a Aveiro Mag, Júlio Pedrosa elenca ainda outras iniciativas e preocupações que pautaram a sua ação enquanto reitor da UA: a reforma dos programas curriculares com vista à resolução do “problema de haver um número excessivo de horas de contacto entre estudantes e professores”; a tentativa de implementar “um ciclo de um ano comum às várias ciências e engenharias” – que, lamenta, não teve o sucesso pretendido; e o reforço de envolvimento com a comunidade, nomeadamente, através do incentivo ao tecido empresarial da região para a criação de projetos de colaboração com a universidade ou a organização de “conversas-abertas” - “uma vez por mês, às quartas-feiras, escolhíamos uma pessoa para falar sobre determinado tema e abríamos o anfiteatro a quem quisesse participar no debate” -, um hábito que gostava de ver retomado.

No próximo dia 15 de dezembro, cumprem-se 50 anos da tomada de posse da comissão instaladora da Universidade de Aveiro. Para uma instituição a celebrar o seu primeiro cinquentenário, “não há melhor elogio do que aquele que o professor António Correia de Campos do Conselho de Curadores costuma fazer: «Se eu, agora, fosse caloiro e quisesse escolher uma universidade, era para a UA que eu vinha»”, entende Júlio Pedrosa.

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