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Sérgio Loureiro Nuno: um aveirense a cuidar de campeões olímpicos

Atletas

 

“Uma das melhores coisas que levo deste trabalho com a seleção brasileira é a não me esquecer do óbvio. Grande parte das pessoas têm histórias de vida inacreditáveis e aproveitam as coisas simples da vida como ninguém”. Este também podia ser o mote de vida de Sérgio Loureiro Nuno, um aveirense, de Esgueira, que como fisioterapeuta, marcou presença nos Jogos Olímpicos de Paris ao serviço da comitiva do Brasil.

Quando deixou para trás a ideia de ser cantor – diz, infelizmente, que tem uma voz horrível – e, também, percebeu que o talento que tinha no futebol não daria mais do que jogar a nível distrital, Sérgio olhou para a fisioterapia como uma perspetiva de futuro, principalmente numa altura em que as lesões de Mantorras e Ronaldo, o Fenómeno, eram discutidas com regularidade.

Esteve presente nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, em campeonatos da Europa e do Mundo de Remo, em competições nacionais de futsal e andebol, num percurso que o levou a ser escolhido pela comitiva brasileira para trabalhar na recente edição dos Jogos em Paris. A foto que tirou com Rebeca Andrade, após a vitória e o Ouro no Solo da Ginástica Desportiva, fica para memória futura, mas nada chega perto das que tira com a família. As tais pequenas coisas simples.

Da infância à Universidade

Estudou sempre em Esgueira até ir para o Ensino Superior. Da infância lembra-se dos dias intermináveis a brincar com os amigos da rua e com dois primos. Amizades que, assume, duram até aos dias de hoje, com conversas quase diárias. Recorda, com carinho, os lanches em casa da avó, feito de sentimentos em forma de torrada com manteiga e a inseparável Ucal, “comidos” em segundos, porque o futebol e a imitação dos “Jogos sem Fronteiras” eram a prioridade.

Foi com este espírito, de união, de amizade e espírito de equipa, que chegou a Lisboa, para estudar Fisioterapia na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha, tendo terminado o curso com média 18 e bolsa de mérito. Mestrado primeiro, dois anos de curso de Medicina, pós-graduações e, agora, doutoramento, na Universidade da Corunha em Ciências da Saúde e Motricidade Humana. Tudo em nome de um desígnio, a fisioterapia.

A vontade de estudar e evoluir

“Desde que me lembro que estudo e penso que não vai mudar, principalmente na área da saúde, performance, investigação e emergência médica. Foi por volta dos 16/17 anos que percebi que gostava de ser alguém que estivesse sob pressão diariamente. Sob pressão de recuperar rapidamente um atleta, de solucionar uma urgência hospitalar acreditando na capacidade de decidir rápido e bem. Pressão por um lado é um privilégio e por outro, um mal necessário que nos coloca frente a frente com os nossos medos e faz com que enfrentemos as nossas limitações e aceitemos as nossas dificuldades. É positivo continuar a sentir essa necessidade de melhorar diariamente, enquanto for assim, o meu sonho quando for grande passa por continuar a ser fisioterapeuta”.

O percurso profissional

Os casos de Mantorras e Ronaldo “fenómeno” despertaram-lhe o interesse pela área da fisioterapia e, hoje, 15 anos depois de ter iniciado o seu percurso em ambiente hospitalar, numa clínica no centro de Lisboa, chamada Clínica São João de Deus, segue maioritariamente casos pós-cirúrgicos, principalmente de joelho a recuperar de lesão ao ligamento cruzado anterior.

Ao mesmo tempo, foi mantendo a ligação mais umbilical ao desporto, colaborando com clubes e atletas, como assume à Aveiro Mag: “Passei pelo Clube de Futebol "Os Belenenses”, dois anos nos seniores de Futsal e quatro anos nos seniores de Andebol. Foi após ter sido fisioterapeuta de modalidades de grupo que surgiu a oportunidade de começar em contexto olímpico, com trabalho personalizado a duas pessoas na seleção nacional de remo. A partir daí, seguiram-se viagens ao fins-de-semana para Sevilha, Avis e Montemor-o-Velho para os acompanhar (nunca deixei o trabalho fixo em Lisboa) e viagens para campeonatos da Europa e do Mundo e agora, Jogos Olímpicos. Os meus primeiros Jogos Olímpicos foram no Rio 2016 e estar de volta é maravilhoso”.

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A chegada a Paris

A ligação à comitiva do Brasil podia ter-se iniciado mais cedo, em Tóquio, mas o destino quis que assim não fosse. Os contactos mantiveram-se e o convite para integrar a equipa voltou a surgir, o que deixou Sérgio Loureiro Nuno orgulhoso e, ao mesmo tempo, feliz: “Estar ali é um sonho. Dá vontade de beliscar durante a primeira entrada na vila olímpica ou na primeira competição para ter a certeza que está a acontecer”.

Não foi na primeira competição, mas numa das mais importantes para o Brasil, que Sérgio esteve presente. Na que consagrou Rebeca Fernandes campeã olímpica de Solo, na vertente de Ginástica Desportiva. A imagem que fica, para a eternidade, é a de Simon Biles e Jordan Chiles a fazerem a vénia à brasileira, mas para Sérgio, nada é mais merecido.

 

 

“A Rebeca é a maior atleta olímpica do Brasil, ao dia de hoje. Seja ouro, prata, bronze ou fora das medalhas, a sua atitude é de campeã. Tem compromisso, raça, seriedade, competência, sangue-frio. Ela não se esconde na hora h. É unânime quando a colocam no mesmo patamar de Pelé, Senna e Guga. E ela merece...”

A foto mais importante

Após a final olímpica, Sérgio tirou a foto da praxe com Rebeca e terá sido essa a foto que fica para a posteridade, a mais importante? A resposta remete-nos para o início da entrevista, a afirmação que reteve das coisas simples, simples como Sérgio. E quem o conhece sabe bem da veracidade e da pureza da afirmação.

“Cada fotografia tem a sua história. Já tive a possibilidade de também estar com Usain Bolt, Venus Williams, Rafael Nadal, mais recentemente com Alcaraz e Stephen Curry. Mas as fotografias que dou mais importância são com a minha filha, com a minha mulher, com os meus pais, com toda a família”, explica, sem hesitação.

E o futuro?

O futuro é o que cada um de nós quer. E Sérgio Loureiro Nuno sabe bem o que quer, desde “acabar o doutoramento”, até ganhar uma “competição europeia com o clube do coração”, até estar “em mais Jogos Olímpicos”. No entanto, a vida é muito mais do que conquistas desportivas, e ele, mais do que ninguém, sabe isso. Há sempre espaço para o outro: “Gosto de projetos de comunidade e o objetivo é criar um em simultâneo com um amigo meu que há um ano e meio teve um acidente de mota e ficou paraplégico”. Fora do trabalho, o expectável, para Sérgio, o reflexo da simplicidade: “Quero passar tempo de qualidade com a minha família. dar mais importância aos momentos a dois, a ver séries, a tomar um simples café ou a passear os cães”.

 

 

 

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