
Procuram-se histórias e testemunhos para criar percurso performativo sobre a Ria de Aveiro
No âmbito do Festival dos Canais, nos próximos dias, Cláudia Figueiredo e André Braga, da companhia CiRcoLando – Central Elétrica, estarão em Aveiro para o arranque do projeto “Derivas Canais”. Uma primeira residência artística, em que os criadores pretendem explorar o território da Ria e ouvir histórias e testemunhos da comunidade aveirense, com vista à criação de um ‘espetáculo-percurso’ a estrear no próximo ano.
“Chamamos-lhes ‘espetáculos-percursos’ porque queremos que sejam propostas artísticas transdisciplinares, mas com uma forte componente de passeio. Verdadeiras experiências de contemplação e embrenhamento na paisagem”, começa por esclarecer Cláudia Figueiredo. Em entrevista à Aveiro Mag, a diretora artística explica que “a ideia é que, partindo das histórias e das memórias da Ria, os aveirenses possam conhecer ainda melhor este território amplo e imenso, explorando lugares esquecidos, trajetos inesperados, ou que possam voltar a percorrer os caminhos de sempre, mas com outro olhar”.
Para isso, a partir de amanhã e até sexta-feira, no período das 18h30 às 21h00, Cláudia Figueiredo e André Braga (o segundo elemento da dupla responsável pela direção artística deste projeto) vão estar no Teatro Aveirense, disponíveis para ouvir todo o tipo de depoimentos e partilhas sobre a Ria: “Interessa-nos um pouco de tudo: relatos de vivências e histórias ficcionadas, memórias de quem lá trabalhou, fotografias, canções, receitas culinárias, poemas, objetos…”.
Habituada a ter de ir ao encontro das pessoas e das histórias dos territórios com os quais trabalha, Cláudia Figueiredo não esconde estar “muito curiosa” para perceber como é que vai ser a adesão da comunidade. “É a primeira vez que estamos a experimentar esta metodologia de residência aberta. Geralmente, somos nós que vamos à descoberta e marcamos conversas com as pessoas. Aqui, por outro lado, a ideia é convocar a comunidade a vir ao nosso encontro para partilhar os seus testemunhos e vivências, na esperança de, assim, conseguirmos chegar a pessoas às quais não chegaríamos de outra maneira”, explica a criadora.
Esta primeira semana de pesquisa e incursão no território culminará no sábado, dia 15 de julho, nos Claustros da Misericórdia, em Aveiro, com uma mesa-redonda sobre a história da Ria e daqueles que nela vivem e navegam. A jornalista Maria José Santana – diretora da Aveiro Mag e autora do livro “Ilhas da Ria” –, estará a cargo da moderação de uma conversa na qual participarão os investigadores João Miguel Dias e Fátima Alves, da universidade de Aveiro, entre outros convidados. A tertúlia, aberta ao público, está marcada para as 16h30.
Até à sua estreia, agendada para 2024 – ano em que Aveiro será Capital Portuguesa da Cultura -, o projeto “Derivas Canais” contemplará outros momentos de exploração do território e múltiplos períodos de residência artística. Ressalva-se a importância do envolvimento da comunidade nalgumas destas fases de desenvolvimento. Desde logo, nesta primeira etapa, através da partilha de depoimentos, mas também, mais tarde, com a integração de pessoas individuais, grupos, associações ou coletividades da região nos ensaios e apresentações finais destes percursos performativos.
“Estamos muito entusiasmados, mas conscientes das exigências deste desafio”, reitera Cláudia Figueiredo. Mais do que a Ria urbana, aprisionada pelas comportas e que vive estática e apertada nos canais da cidade, os criadores querem que o projeto se debruce sobre a Ria selvagem e larga. “Interessa-nos explorar outras Rias dentro da Ria”, assumem, “mas ainda estamos a ver como vamos conseguir abarcar um território desta dimensão e com tantas especificidades”.
* Foto: Afonso Ré Lau