Seguem-se os temas da Sustentabilidade e da Tecnologia...
O tema da Sustentabilidade vem do facto de sermos uma região muito suscetível às alterações climáticas – questões como a subida do nível médio das águas do mar ou a poluição dos oceanos vão ser alvo de reflexão – e considerando que há um conjunto de eventos neste período [o terceiro trimestre] que são marcantes na nossa oferta. É, uma vez mais, um tema incontornável, não só por essas dinâmicas de programação, mas também pelos assuntos que queremos trazer para a mesa para serem refletidos através das artes e da cultura.
O último tema – a Tecnologia – vem do facto de Aveiro ser muito marcada por esta dimensão, com o contexto tecnológico que existe na economia da região e a sua universidade, que comemora os seus 50 anos e é muito marcada pela dimensão tecnológica. Vem também do facto de este último trimestre coincidir com alguns eventos fortes que têm marcado a nossa oferta cultural nos últimos anos, como o Prisma e a Aveiro Tech Week. Pretendemos discutir aquilo que a tecnologia tem de bom e quais são os seus riscos.
A inteligência artificial, por exemplo, gera muitas questões. Como é que a inteligência artificial vai afetar a vida das pessoas? Como é que vai afetar a arte e a cultura? Cabe-nos trazer essas questões para cima do palco, num momento criativo, artístico e de reflexão.
Tem ideia de quantas ações vão existir ao longo de todo o ano?
São imensas. Há projetos que têm várias ações. O Festival dos Canais, por exemplo, tem dezenas de ações. Cada um dos seis projetos em que queremos trabalhar as comunidades com maior défice de participação tem várias ações. São muitos projetos.
O que é que podemos destacar como pontos altos da programação até ao final do ano?
Há uma dimensão que me parece interessante porque marca uma mudança de paradigma naquele que tem sido o nosso trabalho até agora que é a dimensão expositiva. Vamos ter um conjunto de exposições com outra abrangência, exposições muito fortes que marcam uma viragem significativa no panorama. As artes performativas têm uma evolução muito grande, com a presença de alguns dos maiores encenadores portugueses e algumas referências internacionais de relevo e com o trabalho em rede que se está a criar para o pós-2024. E também os festivais, que vão ter upgrades muito fortes, capazes de os elevar a uma escala ainda maior do que a que já têm, sobretudo a nível internacional. Vamos consolidar o seu papel como referência de espaço público, inovação e criatividade a nível nacional, mas também dar-lhes uma dimensão internacional muito maior.
Há, igualmente, alguns eventos novos que eu espero que fiquem para o futuro e que visam trazer para os hábitos culturais, públicos que não estão muito despertos para o efeito, que têm algumas dificuldades de participação. São seis projetos muito relevantes, sem contar com algumas iniciativas ligadas ao pensamento e à gastronomia que também vão destacar Aveiro.
O Teatro Aveirense vai ser o epicentro ou a programação estende-se por vários pontos do município?
O Teatro Aveirense é um dos epicentros mais fortes neste ano de Capital Portuguesa da Cultura, mas não é o único. Não fazia sentido se assim fosse. Mas é um epicentro forte porque aumenta a sua oferta e terá uma evolução na sua programação, sobretudo no que concerne às redes internacionais. É uma estrutura marcante e a própria equipa do Teatro Aveirense tem um papel fundamental no processo da Aveiro 2024, não só na programação, mas também na parte técnica, no planeamento e na coordenação.
Depois há outros epicentros: os outros equipamentos do município que [em conjunto com o TA] constituem um todo homogéneo, coerente e dimensionado para a realidade aveirense.
O orçamento é de 8 milhões de euros. É um bom valor para gerir uma programação destas?
Sim. Quando falamos em 8 milhões estamos a falar de todos os custos que este processo acarreta: programação, logística, técnica, equipas, comunicação, acolhimento e estadias, licenças, publicidade... Tudo o que afeta montar esta operação e concluí-la, esperemos, com sucesso. É um upgrade face àquele que é o investimento municipal, como já foi explicado pelo presidente da câmara, mas é um valor que, na nossa perspetiva, permite-nos ter o programa que queríamos apresentar.
É claro que, se tivéssemos um maior orçamento, poderíamos fazer coisas diferentes. Mas também temos de saber o que é que queremos fazer tendo em conta que nada acaba em 2024. Mesmo que esses recursos existissem, não faria sentido estarmos a fazer investimentos que não tivessem sustentabilidade nos anos vindouros. Não podemos entrar numa ressaca de oferta em 2025, não podemos ficar órfãos de cultura. Temos, por isso, de encontrar um equilíbrio entre aquilo que tem sido o nosso processo de crescimento e desenvolvimento, este ano excecional e aquilo que serão os anos de 2025 e seguintes.
Este é um conjunto de recursos e de meios que nos permitem ter esse upgrade na oferta, atingir os nossos objetivos não só culturais, mas estratégicos, naquilo que é o turismo cultural e a ambição de posicionar Aveiro numa escala internacional, criando condições para que, em 2025, possa manter-se a sustentabilidade ao nível de equipas e de públicos.
Não tiveram pouco tempo, desde o anúncio, para preparar esta programação? Ao contrário de Braga (que será Capital Portuguesa da Cultura em 2025) e Ponta Delgada (que assumirá o título em 2026), Aveiro não teve de trabalhar em contrarrelógio?
Obviamente, gostaríamos de ter tido mais tempo. Nada parou na nossa vida para prepararmos o ano de 2024. Esta oportunidade entra como um acréscimo de planeamento e trabalho para todos. É claro que desejaríamos ter tido mais tempo para planear, mas não foi por isso que virámos a cara à luta ou dissemos que não. Sempre assumimos que seríamos Capital Portuguesa da Cultura conscientes do contexto e das condições que tínhamos, otimistas pela vontade de querer fazer e com ecos do estímulo que nos deu a candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027. Acreditamos muito na nossa capacidade de trabalho. Sabíamos que tínhamos estabilidade e condições para desenvolvermos o nosso trabalho, por isso, dissemos: «Força! Vamos em frente!». É essa motivação que fez, faz e vai continuar a fazer com que consigamos ultrapassar as dificuldades que aparecem a quem se propõe a abraçar um projeto como este. Estamos a receber bom feedback por parte dos nossos parceiros. Essa ambiência também torna tudo mais fácil. Ter tido mais tempo podia ter ajudado a evitar alguns momentos mais sensíveis, mas temos uma equipa excecional que nos permite abraçar qualquer projeto.