Este ano, para além de todo o trabalho de criação e preparação de “Gineceu”, a companhia promoveu um momento de comemoração do 25 de Abril com a apresentação do filme “Um corpo que dança”, do realizador Marco Martins, que conta a história da dança em Portugal.
Foi mais um contributo para a afirmação da dança, uma disciplina onde ainda há barreiras a quebrar. De certa maneira, nota Luiz Antunes, a dança é ainda um parente pobre no panorama artístico nacional num país ainda minado por “algum conservadorismo”. “O corpo é um lugar de conservadorismo, a dança vem desse lugar, o instrumento de base é o corpo”, diz.
Por outro lado, ainda hoje se ouve que “o ballet é para meninas”. Ainda há pouco tempo soube de um aluno que desistiu da sua atividade como bailarino por ter sofrido “pressão” por ser um rapaz na dança. “Há ainda uma estranheza, uma dificuldade”, lamenta. Importa não esquecer que, em Portugal, “a profissionalização da dança fez-se muito depois da década de 1950”. “Foi tudo muito tardio”, constata.
Nova criação apresentada no sábado e no domingo
“Gineceu” é, então, o nome da nova criação da companhia de dança ilhavense - o gineceu era, na Grécia antiga, o aposento destinado às mulheres – e tem apresentações marcadas para sábado, 2 de novembro, às 21h30, e domingo, dia 3, às 15h00, na Casa da Cultura de Ílhavo. Para a criação do espetáculo, que é já o quinto da companhia, o grupo abordou temas como a opressão, o silenciamento das mulheres, o bullying ou a gravidez na adolescência, todas elas “imagens disruptivas” que abalam a “ideia de um mundo cor-de-rosa” onde nem sempre o lado mais sombrio da vida está representado.
Neste trabalho artístico, nota o coerógrafo, participou um grupo com alguma heterogeneidade. A maioria dos bailarinos é de Ílhavo mas “há várias realidades” a enriquecer o trabalho. A participante mais nova, por exemplo, de 10 anos, é do Brasil. No total, “Gineceu” conta com 14 intérpretes, a mais velha das quais de 27 anos. Pela primeira vez, o projeto aceitou bailarinos externos às três escolas de dança do município, num processo de abertura que visa dar riqueza ao trabalho desenvolvido.
O espetáculo conta com figurinos de Joel Reigota, composição musical de Henrique Portovedo, cenografia de Tiago Pinhal Costa e assistência à criação de Marco Olival.
Não é seguro que o espetáculo possa ser levado a outras salas. “O projeto é transitório, é como uma borboleta”, diz Luiz Antunes – e muitos dos bailarinos podem ir embora e não estar disponíveis. Por outro lado, as programações das salas de espetáculo são feitas com muita antecedência e por isso “há poucos espaços de acolhimento”. “Um ano fomos a Paredes de Coura e foi uma experiência inigualável” para o grupo, recorda.