Há, na vida do arquiteto Paulo Lousinha, uma via de dois sentidos a ligar as cidades do Porto e Aveiro. Foi na cidade da ria que nasceu, em 1965, depois de a família se ter fixado na região, em meados da década de 1950, quando o pai, engenheiro, veio dirigir a construção do molho sul da barra. Para a mãe, que sempre tinha vivido no Porto, foi “um sacrifício muito grande”. “Mas foi-se habituando à cidade e criando as suas raízes e quando o meu pai decidiu voltar ao Porto ela já não queria ir”, recorda. Depois de fazerem o “luto” pela saída de Aveiro, a partir da década de 1980 passaram a fazer férias na região e foi assim que nasceu o seu “matrimónio”. “Para mim um amor de verão transformou-se em casamento”, conta. É em Aveiro, que diz ser uma cidade “pequena e fechada” e que “não acolhe bem quem vem de fora”, que tem agora o seu gabinete de arquitetura, apesar de ter sido no Porto que iniciou e prosseguiu a sua atividade profissional e onde tem o grosso da sua rede de contactos.
Está instalado no emblemático Edifício Avenida, onde decorreram os históricos congressos da oposição democrática antes do 25 de Abril. É lá que conversa com a Aveiro Mag, nesse mesmo imóvel da Avenida Dr. Lourenço Peixinho que se prepara para receber a livraria Bertrand – vai abandonar a Rua Direita. Nem de propósito. O projeto da “nova” Bertrand de Aveiro é da sua autoria. “Vai ser uma loja muito apetecível para estar”, antecipa, desvendando que a memória do antigo cinema terá uma presença forte no espaço, por exemplo com a colocação de uma máquina de projeção antiga. A loja, que se irá desenvolver em dois pisos, terá uma pequena cafetaria e um espaço para eventos. O foyer de entrada, com pé direito duplo, vai ser reposto como era depois de ter sido “achincalhado” no tempo do bingo. A livraria será um “espaço muito amplo”, mas uma parte do edifício permanecerá vazia, como o antigo salão de baile, explica o arquiteto, expressando “muito respeito” pela forma como os proprietários do imóvel têm sabido “preservar o edifício”.
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Na região, é também sua a assinatura do renovado bar de praia Sétimo, na Barra, um trabalho que lhe deu grande prazer fazer e, reconhece, trouxe “muita visibilidade ao escritório”. Não é na zona de Aveiro, porém, que mais trabalha, mas na região do Porto. Foi para lá que se mudou com cinco anos de idade, que se formou e que iniciou a sua carreira, no gabinete do consagrado Fernando Távora.
Beber da chamada Escola do Porto “foi um privilégio”, admite. “Fui dos últimos que puderam sentir aquela coisa da Escola do Porto, que começa com a reforma educativa promovida pelo Carlos Ramos, um arquiteto de Lisboa que foi para o Porto porque o sistema não gostava dele”, assinala. Nas Belas Artes “reformula completamente o currículo do curso e convida uma série de novos professores, entre os quais o Távora, que assume a liderança da escola durante quase 50 anos”, explica.
“A escola”, continua”, “funcionava entre o ensino na Faculdade de Belas Artes e os escritórios dos professores. Era normal os alunos, que eram poucos, fazerem o curso a trabalhar e a estagiar. E eu tive esse privilégio”.