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Marco Silva, o homem que olha para os moliceiros como se fossem um carro de Fórmula 1

Património Ler mais tarde

Nasceu e cresceu à beira da ria e é lá que se dedica a uma arte que tanto ama: a construção de embarcações tradicionais da ria

Tinha apenas 11 anos de idade quando, ao leme de uma bateira, venceu a sua primeira regata à vela. Na altura, estava muito longe de imaginar que seria a primeira de muitas vitórias enquanto arrais de embarcações tradicionais da Ria de Aveiro. Essa mesma ria que parece correr-lhe nas veias. Foi à beira dela que nasceu e se fez gente. Esteve emigrado no Luxemburgo, mas não tardou a voltar à sua terra, a Torreira, e à sua laguna.

Aos 49 anos – prestes a fazer 50 -, Marco Silva é um nome que já dispensa apresentações para aqueles que costumam acompanhar de perto as regatas de moliceiros. Um verdadeiro campeão que já arrecadou vários primeiros prémios e goza de um estatuto muito especial: também é construtor naval, condição que lhe permite olhar para os barcos como quem olha para um carro de fórmula 1.

“Temos de acertar os pormenores do barco. Ando sempre a afinar e a ajustar”, conta Marco Silva à Aveiro Mag, quando lhe perguntamos qual o segredo para vencer tantas regatas. À astúcia que aplica no estaleiro junta-se o rigor na seleção e aquisição da madeira que usa para construir cada embarcação que lhe encomendam. Sim, porque Marco Silva não constrói apenas os seus próprios barcos. Do seu estaleiro já vão saindo embarcações para servir empresas ou particulares. E desengane-se quem possa pensar que Marco Silva trata melhor os barcos que constrói para si do que para os outros, inclusive, aqueles que lhe irão fazer frente nas regatas da ria. “É o meu nome e o do meu estaleiro que estão em causa. Quero que as pessoas fiquem satisfeitas com os barcos que construo”, refere aquele que será, neste momento, o construtor naval mais novo da região.

A arte está em risco de desaparecer. Já não há tantos barcos na ria como outrora, as novas gerações vão optando por outras profissões mais estáveis e resta a esperança de que a candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade entregue na UNESCO funcione como uma espécie de luz ao fundo túnel. A decisão deverá ser conhecida até ao final do ano. Enquanto ela não chega, restam à região exemplos como o de Marco Silva, que tem conseguido atrair os seus filhos, Sérgio e Ricardo, de 29 e 25 anos, para a arte da construção e também para a da navegação. “São apaixonados por isto. Cresceram de volta dos barcos e da ria”, repara.

No fundo é a história a repetir-se, uma vez que Marco Silva também cresceu a dois passos da ria, na casa da avó, e começou de pequenino a lançar-se à ria. “Quando acordava, era levantar-me da cama e meter-me na água”, conta o murtoseiro que “já em pequenino fazia barquinhos em esferovite”. “Deve ter vindo daí a paixão pelos barcos, pela vela e pela construção”, refere, notando que não tem ninguém da família ligado a esta atividade. O pai foi pescador, mas andou nos navios de bacalhau, numa vida que nunca quis para o filho. “Ele dizia que não me queria ali, queria que eu fosse estudar”, recorda Marco Silva.

O segredo da vitória: barco, velas e tripulação

Aos 17 anos, Marco Silva foi viver para o Luxemburgo, onde também trabalhou com madeira, mas não na área da construção naval. Ao fim de 12 anos, voltou à Torreira e foi aí que a sua ligação à ria se intensificou. “Decidi construir o meu próprio barco”, conta. Valeu-se dos conhecimentos que já tinha adquirido nas visitas que ia fazendo aos mestres construtores de Pardilhó, Estarreja, e da orientação que lhe foi sendo dada por um amigo que já tinha estado ligado à construção naval. “A primeira vez que esse barco foi à água ganhou logo o primeiro lugar”, testemunha. Ainda assim, “havia coisas nesse barco que eu não gostava muito e, por isso, decidi construir outro”. “Este segundo barco ganhou todas as regatas a que concorreu”, refere, com orgulho, sem esconder que o sucesso numa prova também se deve à tripulação. “É quase como uma equipa de futebol. Pode haver um treinador muito bom, mas se faltarem lá os jogadores não ganha. E vice-versa. É uma junção da tripulação, do barco ser bom e as velas adequadas ao vento que está”, especifica.

 

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No que toca à tripulação, há uma regra de ouro: em dia de regata, não há lugar a distrações. “A distração é a morte do artista. Todos já sabem, mais ou menos, o que têm a fazer e temos de estar coordenados”, explica. Nunca lhe aconteceu o barco virar em plena regata, mas já esteve perto disso. “Ainda no outro dia, no Bico, esteve mesmo quase. Veio uma rajada de vento, eu escorreguei e larguei a corda do leme. Quase que ia tudo a perder”, admite o arrais que também se dedica à Arte Xávega. “Tenho um barco, que também fui eu que construí, que opera aqui na Torreira. Também é uma das atividades que me dá bastante prazer fazer”, refere.

No dia em que a Aveiro Mag visitou o seu estaleiro, na Torreira, Marco Silva e o filho estavam de volta de dois barcos moliceiros, “ambos para o mesmo proprietário, mas um irá fazer as viagens turísticas em Aveiro e o outro será para navegar à vela e participar nas regatas”. Por ora, não lhe tem faltado trabalho. Resta saber o que o futuro reserva. “Penso que a classificação da UNESCO irá ajudar. Poderá haver maior procura para fazer barcos, até de pessoas que nem estejam ligados isto”, vaticina. “E não é só construir barcos novos, os outros também precisam de manutenção”, acrescenta. Pelo bem da ria, esse “corpo vivo que liga a terra e o mar como um coração”, como escreveu José Saramago no livro “Viagem a Portugal”, é de esperar que assim seja. Que nunca nos faltem os moliceiros a colorir as suas águas. Que nunca nos faltem os homens que moldam e fixam a madeira nestas embarcações de fundo chato. E que nunca falte quem as queira salvaguardar.

 

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