Esta é a 10ª edição do Festival dos Canais. Vai ser difícil superar a edição do ano passado, atendendo a que Aveiro foi Capital Portuguesa da Cultura. Ou, ainda assim, há esse objetivo?
Esta edição não tem esse objetivo como meta. Quando pensámos nos objetivos, nos recursos a afetar para esta edição do Festival dos Canais, não era esse o objetivo. O objetivo era assinalarmos esta data que tem como referência serem dez edições do Festival dos Canais, num momento que fosse uma continuidade do que tem vindo a ser a evolução natural do festival, evento que se tem afirmado a uma escala nacional e internacional, um evento que cada vez mais conta com a adesão e participação não só da comunidade e do público, como também do sector cultural e artístico do município de Aveiro.
[Procurámos ter] Um projeto que fosse diferenciador no sentido em que apresentasse conteúdos em primeira mão em Aveiro, com estreias nacionais e estreias absolutas, mas que também marcasse essa diferença através de um desenho de programação que potenciasse aquilo que é a geografia do território – em concreto os canais urbanos da cidade. Um projeto que tivesse uma dimensão artística de excelência e que abordasse temas que fazem parte da nossa agenda coletiva e que focam na questão da inclusão, da acessibilidade, do ambiente. E que pudesse afirmar o percurso que o festival tem vindo a fazer nos últimos anos como um evento que aposta muito na criação, aposta muito na cultura e que no domínio concreto das artes de rua se tem vindo a afirmar como uma das maiores referências do país e que tem, gradualmente, penetrado no circuito internacional de festivais deste género.
Estes sim foram os objetivos para a edição deste ano e que, tenho a certeza, conseguiremos atingir.
Uma das notas fortes do Festival dos Canais é o envolvimento da comunidade. Este ano volta a cumprir-se, certo?
Sim. Este ano tivemos a preocupação de reforçar essa dimensão da participação da comunidade. Seja ela comunidade num sentido mais amplo, mais lato, quer seja na dimensão mais artística, ou seja, envolvendo as estruturas artísticas locais. Portanto, temos um conjunto de eventos que têm a participação do movimento associativo, de artistas locais, da comunidade local que se quis inscrever. Um deles tem a ver com a construção de uma peça de arte efémera em espaço público. Será uma réplica da antiga fábrica Jerónimo Campos, feita através de caixas de cartão, construída com o apoio da comunidade.
Quantos eventos vamos ter, no total, na edição deste ano?
Estamos a falar de 157 apresentações, num total de 15 estreias, entre estreias absolutas e estreias nacionais, em 18 palcos diferentes da cidade.
O Festival dos Canais acaba por surgir pela sua mão, enquanto diretor do Teatro Aveirense. Como é que olha para o percurso feito ao longo dos anos?
É o tipo de questão que temos de fazer quando olhamos para todos estes anos de Festival dos Canais. E nesta edição até vamos ter espetáculos que foram feitos de propósito, e de raiz, para assinalar estas dez edições de festival. Seja numa dimensão mais expositiva, ou numa dimensão mais performativa, como é o caso do grande espetáculo de rua em conceito de parada que vamos apresentar.
Olho para estas edições notando uma evolução muito positiva naquilo que tem sido o percurso do festival. Há momentos que se mantêm desde a sua génese, desde a sua criação, e que penso que fazem parte da identidade do festival, como é o caso da dimensão da participação ou da celebração. Além do mais, este foi, no país, o único festival que foi realizado nos anos da Covid-19. Ele nunca deixou de ser realizado e isso mostra bem o que é essa característica do festival e do público que está sempre presente no evento.
Não restam dúvidas quanto à evolução do festival e ao posicionamento internacional que ele já conquistou, atraindo também para Aveiro um fluxo significativo de turismo cultural. Portanto, a evolução é muito marcada por isto: por momentos inesquecíveis, momentos para reforçar o sentido de comunidade e por uma dimensão forte em termos de público, de dimensão artística e de reforço daquilo que é o posicionamento deste território a nível cultural.
Hoje chegamos a uma realidade em que o festival tem essa dimensão nacional e internacional, acolhendo estreias de uma escala significativa.
Atendendo a que há um ciclo autárquico que está a chegar ao fim, a pergunta tem de ser feita: este pode ser o último Festival dos Canais sob a sua direção?
Acho que esse não é o aspeto mais importante neste momento. O mais importante é falarmos do festival, é falarmos daquilo que é a sua dimensão artística, a sua dimensão enquanto evento, o contributo que ele dá para a fruição cultural, para o afirmar de Aveiro enquanto cidade e município como uma referência na aposta cultural. Não é o momento para falar sobre isso. É o menos relevante neste momento. E estou tranquilo quanto áquilo que virão a ser as minhas opções pessoais e profissionais no futuro.
Qual é orçamento da edição deste ano do festival?
Tem um orçamento expectável de aproximadamente 850 mil euros. É um valor que tem vindo na sequência da evolução dos últimos anos do festival, no sentido em que temos vindo a apostar no reforço da qualidade, não só artística como também técnica, de acolhimento (para os artistas e para o público), comunicação, por forma a que público, artistas e técnicos tenham uma experiência cada vez melhor.