No Benfica e na Seleção, Toni jogou com Eusébio, Mário Coluna, Torres, Humberto Coelho, António Simões ou Damas. Foi ele próprio uma grande figura do futebol português. Ganhou campeonatos, jogou finais, envergou a camisola nacional por 38 vezes. Alguns números: 14 títulos de campeão português, oito como jogador (1969, 1971, 1972, 1973, 1975, 1976, 1977 e 1981), dois como treinador (1989 e 1994), quatro como adjunto (1983, 1984, 1987 e 1991), sempre pelo Benfica.
Mas não se nasce no topo – é preciso trabalhar para chegar lá. No caso de Toni, a sua casa de partida foi a pequena povoação de Mogofores, em Anadia.
“Os meus pais eram de lá”, conta à Aveiro Mag - o pai tinha uma tipografia em Anadia, sede do concelho. Frequentou a escola da aldeia, numa altura em que ainda havia uma escola para rapazes e outra para raparigas. “Temos de nos situar no tempo em que estávamos”, diz Toni, que tem hoje 78 anos.
Jogava futebol no largo da igreja e no campo do Instituto Salesianos até ingressar no Anadia Futebol Clube. “Houve umas captações. Uns ficaram, outros não. Eu fiquei”. Tinha 16 anos e começou pelos juniores, cuja equipa era formada por jogadores de várias terras ali à volta: “Oliveira do Bairro, Moita, Oiã…”, recorda. Manuel Alves e António Abel foram os seus treinadores e puseram-no logo a jogar no meio-campo, onde fez toda a sua carreira. Para os treinos ia de bicicleta a partir de Mogofores, num percurso de quatro quilómetros.
Fez dois anos nos juniores do Anadia, na primeira divisão distrital de Aveiro. “Jogávamos contra equipas como o Beira-Mar, a Ovarense, a Sanjoanense”, lembra. O clube bairradino conseguiu o feito de se apurar para o campeonato nacional e um dos adversários foi a Académica. “Fomos a Coimbra ganhar 3-0” – e esse jogo foi um ponto de viragem na vida de Toni.
É que a assistir estava Mário Wilson, que então treinava a equipa principal da Académica e que o quis levar para Coimbra. Foi então a Anadia falar com o seu pai para acertar a mudança para a cidade do Mondego. Na Académica ainda fez um ano como júnior, onde foi treinado por António Bentes, que tinha a alcunha de Rato Atómico. “É uma figura icónica da Académica”, diz Toni. Foi o melhor marcador de sempre do clube coimbrão, com 215 golos em 15 anos.
Toni permaneceu quatro anos em Coimbra, onde, em 1967, chegou a frequentar o primeiro ano da Faculdade de Direito. Mas logo no ano seguinte a sua carreira deu novo passo em frente, quando se transferiu para o Benfica, o que custou 1.300 contos aos encarnados. Ainda fez a admissão ao Instituto Nacional de Educação Física mas “não era fácil conciliar” a carreira de jogador profissional com os estudos.
Quando percebeu que tornar-se futebolista iria ser a sua vida?, perguntamos. “Quando cheguei ao Benfica”, em 1968, responde. Chegar a Lisboa e a um colosso como o clube da águia foi visto como um passo natural. “Saio de uma aldeia, vou para Coimbra e depois para a capital. Foi um caminho progressivo”. Teve, porém, de se ir adaptando às novas realidades. “O grau de dificuldade foi sempre aumentando mas eu fui-me integrando e crescendo como jogador e como homem”.
No Benfica, onde teve Otto Glória como primeiro treinador, jogou durante 13 anos, até 1981, apenas com uma breve incursão de três meses, em 1977, num clube da liga norte-americana, os Las Vegas Quicksilvers.
Pela Seleção Portuguesa conta 38 internacionalizações – os seus 3066 minutos dividem-se por três partidas pela equipa de Esperanças e os restantes pela equipa principal. A estreia pela Seleção A aconteceu em Bucareste em Outubro de 1969, num jogo diante da Roménia de apuramento para o Campeonato do Mundo (derrota por 1-0), numa equipa com Eusébio com o número 10 nas costas. Representar Portugal foi “um orgulho”, resume o homem que chegou a cumprir 39 meses de serviço militar, a partir de 1970, em Mafra.
