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Inspirado pelo filho, Alexandre Gandarinho lançou-se na ilustração para crianças

Artes

Alexandre Gandarinho nasceu em Colónia, na Alemanha, mas cresceu na Gafanha da Nazaré. Na adolescência, foi o gosto pela música – em especial, o apreço pelo metal – que fez com que começasse a tentar reproduzir as capas dos discos que ouvia. “Foi aí que comecei a desenvolver e a aprimorar o meu traço”, recorda, sublinhando igualmente o papel que a cultura do graffiti teve no despertar da sua vocação para o desenho. Chegada a altura de decidir que área seguir no secundário, a escolha não foi difícil. Alexandre completou o curso tecnológico de Design com sucesso, ingressando depois na licenciatura em Design Industrial na universidade de Aveiro. Alexandre Gandarinho trabalha como designer desde 2004. Já desenhou mobiliário urbano para parques infantis, já desenhou componentes para bicicletas e, mais recentemente, tem-se dedicado à conceção de embalagens para conversores de energia.

Antes de se lançar nesta aventura da ilustração para crianças, Alexandre Gandarinho já gostava de desenhar as estampas com que decora as suas próprias t-shirts e de colecionar padrões típicos de azulejo. Tudo isto, claro, sem esquecer a paixão pela fotografia. Recusando-se a substituir o analógico pelo digital, Alexandre fotografa, “sobretudo, paisagens”, confessando-se admirador “da simplicidade da luz laranja” que, nestes fins de tarde de início do outono, faz o sol espelhar-se na Ria. Por sugestão do designer e ilustrador, a conversa com a Aveiro Mag decorreu no Forte da Barra. À medida que se aproximava mais um crepúsculo, começavam a agregar-se junto à antiga pérgula bom número de pescadores – e um ainda maior número de gatos. De anzóis mergulhados, raramente desviavam o olhar das ondas calmas. A aparente serenidade dos homens contrastava com a ânsia irrequieta dos felinos, mas a esperança de uns e outros era a mesma. “Estão à espera que o peixe morda o isco”, constata-se. Preparadas para mais uma noite de faina, também as traineiras vão largando o cais escoltadas por gaivotas barulhentas e aquela espécie de sopro que aquecera a tarde começa a dar lugar a um vento frio e penetrante. Já foi com um agasalho pelas costas que demos o último adeus à tal luz laranja e simples que desaparecia na bruma do horizonte. “A região de Aveiro é particularmente inspiradora para quem gosta de fotografar paisagens”, diz Alexandre Gandarinho, atestando não existirem “pores-do-sol como os nossos”.

Há um tempo a esta parte, Alexandre deixou a região da Ria para se instalar em Mira (distrito de Coimbra) com a família. Por lá, também é o elemento água que marca a paisagem, mas não tem a mesma respiração salgada que, por cá, lhe reconhecemos. Foi, precisamente, junto à Lagoa de Mira que, no passado dia 22 de setembro, Alexandre Gandarinho e Anabela Reis Moreira apresentaram “A incrível história da chupeta mal-educada”.

Se excluirmos uma pequena ilustração realizada em contexto académico para “uma publicação sobre Timor”, nunca Alexandre se havia aventurado a ilustrar um livro. A oportunidade surgiu em contexto familiar. Anabela Reis Moreira, companheira de Alexandre, acabara de completar mais uma história para crianças – é também autora de “Quem deixou entrar o soluço?”, “A Ni está aqui” e “Que sonho estranho” – e precisava de alguém que pudesse assegurar as ilustrações. “É um projeto de família, um livro para bebés e crianças até aos 3 anos, inspirado no nosso filho, que fala de amor e de liberdade, de deixarmos as pessoas de quem gostamos serem livres em vez de as prendermos como se fossem nossas”, resume o designer de 44 anos, confessando ter tido no filho – Amorim – a sua principal referência nesta empreitada.

O evento de apresentação foi organizado pela Kleio Online Publishers. Para a editora não existe qualquer dúvida: esta publicação “marca um momento importante” no percurso de Alexandre Gandarinho e “representa o início de uma promissora carreira também como ilustrador”, pode ler-se em comunicado. “Espero que sim”, comenta Alexandre, a propósito destas declarações lisonjeiras. A verdade é que o que, até agora, não passava de uma atividade para tempos livres, pode mesmo, a curto prazo, vir a tornar-se uma ocupação mais séria. “Sinto que esta experiência me libertou de alguns medos de arriscar e apresentar as minhas ideias. Agora posso dizer que experimentei e que correu bem. Foi difícil começar, mas assim que comecei foi sempre em frente”, explica Alexandre, garantindo que, “a partir de agora, haja ideias para histórias, e as ilustrações estarão garantidas”.

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