Em oposição à azáfama que se vivia na rua e no canal da ria, com um vaivém de turistas atípico para uma tarde de janeiro, no interior do Museu da Cidade de Aveiro os técnicos de conservação e museografia moviam-se em câmara lenta. A meticulosidade do momento assim o exigia. Afinal de contas, não é todos os dias que se tem em mãos um manuscrito com cerca de 1.000 anos de existência. Para trás, tinham ficado já algumas horas de viagem de carro, sob a proteção de uma mala blindada e de um serviço de transporte especial. O Testamento de Mumadona Dias, que inscreve a primeira referência conhecida à cidade de Aveiro, saiu da Torre do Tombo, apenas por alguns dias, para integrar a exposição “Sal de Aveiro, Sal do Mundo”, protagonizando uma missão carregada de requisitos.
Assim que entrou na sala escura onde estava já a instalada a vitrine especial adquirida pelo Município de Aveiro, Carla Lobo, técnica superior de conservação e restauro do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, tirou o termo-higrómetro digital para verificar se estavam reunidas as devidas condições, ao nível da temperatura, humidade e luminosidade. Foi preciso reduzir esta última - “não gostamos de passar os 50 lux e, neste momento, está nos 40,6 lux”, explicava-nos a técnica da Torre do Tombo – antes de retirar o documento da mala blindada.
“Há vários passos que têm de ser seguidos para os documentos serem apresentados ao público e toda a gente os poder vir ver”, declarou Carla Lobo que já trabalha no Arquivo Nacional há 24 anos. Está habituada a integrar missões especiais como esta que trouxe o testamento de Mumadona Dias a Aveiro. “Felizmente, temos tido muitos pedidos de empréstimo e é política da instituição, e vontade do nosso diretor, que haja sempre courier a acompanhar a saída dos documentos e fazer a vigilância do local onde é deixado o documento”, referiu, notando que, “normalmente, isto é um processo que começa com vários meses de antecedência”.