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Tomás Ferreira: “Encontrar o nosso filme favorito é como apaixonarmo-nos por alguém”

Artes

 

Tomás Ferreira é um jovem cineasta aveirense que aspira desenvolver a sua arte enquanto realizador e argumentista. “A minha primeira e maior ambição sempre foi a realização, a possibilidade de expressar as minhas ideias e contar as minhas histórias. Só mais tarde, à medida que ia percebendo o meu gosto pela escrita, é que o argumentista em mim começou a despontar”, confessa, em entrevista à Aveiro Mag. Além disso, encontrou ainda uma terceira área de expressão – a montagem – na qual tem focado o seu trabalho quotidiano. 

Para Tomás Ferreira, o cinema é uma “experiência comunitária”, algo que “faz mais sentido por poder ser partilhado com outros”. “Saímos da sala escura com uma estranha leveza nas pernas e a sensação de termos partilhado uma certa vulnerabilidade com um grupo de estranhos”. Foi este o sentimento que o levou a enveredar pelo universo do cinema e é a constante tentativa de o reproduzir que o move e entusiasma. 

Depois de se ter licenciado em Cinema, com especialização em Argumento e Montagem, em 2020, na Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa, Tomás Ferreira rumou até à University of South Wales, no Reino Unido, onde viria a completar um mestrado em Realização e a conceber as curtas-metragens "In a House, At Night" e "Idas e Vindas", obras que integraram recentemente o catálogo da plataforma de streaming Filmin –  “In a House, At Night” vai ainda estrear na Amazon Prime Video. 

 

 

Apesar de terem sido realizadas além-fronteiras, estas curtas “estão, de certa forma, ligadas a Aveiro”, constata Tomás Ferrera. “In a House, At Night”, por exemplo, é “um drama minimalista com um pouco que terror à mistura”, que segue uma mãe e uma filha que se debatem com a vida num “ambiente hostil a tentar passar-se por lar”, introduz o criador, dando nota de uma casa, perto da zona onde vive, que acolhe vítimas de violência doméstica. “Lembro-me de ter passado por esse abrigo casa numa noite e, através de uma das janelas, ter reparado numa mãe e uma criança a verem televisão no escuro, iluminadas somente pela luz do ecrã”, relata, recordando “uma imagem muito vulnerável num ambiente muito pesado”. “Foi dessa memória que surgiu a ideia para a curta”, avança o realizador. “In a House, At Night” estreou no Soho London Independent Film Festival, tendo sido galardoada com o título de “Best Newcomer” (Melhor Estreia), no South Coast Film Festival, ambos no Reino Unido. 

Quanto a “Idas e Vindas”, é “um documentário que acompanha as minhas reflexões enquanto neto, a minha relação com a minha avó e a nostalgia à casa da minha infância, hoje ocupada por outra família”, expõe Tomás Ferreira. “Esta curta surgiu de um processo de luto” – tendo estado ausente no estrangeiro aquando da morte da avó, Tomás regressou a Portugal e, ao deparar-se com a sua casa ocupada por outras pessoas, sentiu que algo lhe havia sido roubado. “Foi a vontade de expressar esse sentimento que motivou este documentário”, esclarece o realizador e argumentista. “A curta reflete ainda a relação da minha avó com Aveiro, uma cidade que ela nunca desejara, mas que a acolheu quando foi obrigada a retornar de Moçambique nos anos de 1970”, acrescenta. “Idas e Vindas” foi exibido no Miami Shorts International Film Festival, nos Estados Unidos, e arrecadou o prémio de “Melhor Documentário” no Wicked Wales International Youth Filme Festival, no Reino Unido.

 

 

Neste momento, Tomás Ferreira está em mãos com o primeiro rascunho daquela que será a sua primeira longa-metragem – seguir-se-á um processo de aprimoramento do texto e logo depois a procura por financiamento e produtor – e, mais uma vez, a região de Aveiro – mais propriamente, a praia da Costa Nova – é o cenário escolhido. “Aveiro é uma região muito especial. Apesar de ser pequena, tem esta morfologia fantástica que muda de lugar para lugar.  Ao movermo-nos de um ponto para outro, parece que estamos numa terra completamente diferente.

 

O fascínio pela sétima arte

Ainda antes de completar a primeira década de vida, sabendo do “fascínio” de Tomás Ferreira pelos filmes de Harry Potter, um vizinho ofereceu-lhe o quarto título da franquia – “Harry Potter e o Cálice de Fogo” (2005), de Mike Newell – com uma capa personalizada onde se podia ler “Tomás, o Rei dos Filmes”. “Eu já era apaixonado por cinema, mas sinto que foi nesse momento que se deu o clique e percebi que era isto que queria fazer para o resto da vida”, recorda o jovem cineasta. 

À medida que foi crescendo, os seus gostos amadureceram – aos blockbusters de Hollywood começaram a juntar-se “produções independentes de todas as partes do mundo” –, tanto que o exercício de eleger um filme como o seu favorito tem vindo a tornar-se cada vez mais complexo. “Vejo tantos filmes que ora sou capaz de os apreciar pelo seu valor técnico e intelectual, ora os vejo pelo prisma das emoções que me transmitem, mas raramente pelos dois”, reconhece o profissional da sétima arte. “Os nossos filmes favoritos produzem em nós o sentimento de que estamos a ser esventrados e a expor o que há de mais profundo em nós. Parece que sabem de alguma coisa sobre nós que nós próprios não sabíamos”, explica o realizar. “Encontrar o nosso filme favorito é como apaixonarmo-nos por alguém”, compara. 

Para o profissional de cinema – realizador, argumentista e montador – nem sempre é fácil “despir a pele do técnico”, usufruindo de um filme enquanto mero espectador. “Muitas vezes dou por mim a ver um filme e a questionar-me sobre as escolhas técnicas – os movimentos de câmara e o que procuram expressar, o posicionamento das luzes e a influência que tem para a narrativa dramática –, assim como as opções dos atores ao interpretarem as personagens. “Talvez por isso seja raro encontrar filmes que realmente me toquem”, reflete Tomás Ferreira. 

 

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Um dos filmes que, recentemente, fez com que Tomás Ferreira “reavivasse a sua paixão pelo cinema” foi ‘La Quimera’ (2023), uma longa-metragem da da italiana Alice Rohrwacher que trata “a ideia da morte e as ligações que estabelecemos com as pessoas que perdemos”. Tudo isto, vivido “de forma muito eloquente” por Arthur, a personagem interpretada por Josh O’Connor, “uma espécie de ‘tomb raider’ (salteador de túmulos) que rouba riquíssimos artefactos etruscos na Itália dos anos de 1980, enquanto continua a alimentar a esperança de se reencontrar com o amor da sua vida, Beniamina, a rapariga com quem partilhara aquela vida de ladrão”. 

Há uma frase que tem acompanhado o percurso artístico de Tomás Ferreira, servindo-lhe como máxima e divisa, que também dá algumas dicas sobre o papel que o realizar atribui ao seu público: “Um filme deve ser uma frase misteriosa e inacabada, começada pelo autor que convida a imaginação do espectador a escrever o seu fim”. “O público é convidado a viajar comigo, a ser parte ativa do processo e a interagir com o conteúdo, embrenhando-se na mesma atmosfera para aceder a um novo mundo imaginário”, explica Tomás. “Na minha conceção, um filme deve ser uma experiência visual guiada por um poder de sugestão que não diz tudo. Cria-se uma atmosfera, mas deixa-se em ambíguo o entendimento da história, dando oportunidade ao espectador para preencher esse espaço. 

“Essa é uma das diferenças entre as narrativas mais clássicas e hollywoodescas e aquelas, como as de David Lynch (autor de ‘Blue Velvet’, ‘Lost Highway’, ‘Mulholland Drive’, ‘Inland Empire’ e ‘The Straight Story’, entre outros), que procuram enveredar por um caminho de maior abertura em termos de possibilidades de interpretação”, observa, considerando “aborrecidos” e “desinteressantes” os” filmes que dão respostas ao invés de fazerem perguntas”. 

 

A arte de cozinhar um aperitivo

Tomás Ferreira ambiciona continuar a desenvolver a sua visão artística pessoal nas vertentes de realização e argumento, na certeza de que, “quanto mais curtas e longas-metragens escrever ou realizar, maior será a frequência de oportunidades que terei”. Entretanto o plano passa por “continuar a colaborar com outros cineastas e, assim, criar um portefólio de montador”, anuncia, aludindo ao facto de, nos últimos tempos, ter vindo a dedicar-se a uma valência específica: a montagem de trailers. “Sempre achei [os trailers] um produto muito interessante”, reconhece o montador que vê nestas coleções de imagens criadas para serem exibidas antes do início de uma sessão de cinema de forma a atraírem a atenção dos espectadores para um filme que esteja prestes a estrear, “uma espécie de aperitivos”. 

“Há uma certa desconsideração por parte de alguns cineastas [relativamente a estes produtos], mas a verdade é que, para a maioria dos espectadores, o trailer é mesmo o primeiro vislumbre que têm de um filme e um fator decisivo para a decisão de o ver”, descreve Tomás Ferreira. “Um trailer deve conseguir transpirar o estilo, a história e a ambiência do filme, sem esquecer que é também uma peça de marketing e publicidade. É fundamental atingir um equilíbrio muito particular entre mostrar o suficiente para criar interesse e não mostrar demasiado para não boicotar a experiência futura”. “É um processo que, mesmo que não pareça, é mais exigente do que parece”, completa.   

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