Em 2024, o GrETUA assinalou 45 anos de atividade, celebrando o aniversário com a produção do documentário "Antes de mais, Parabéns Atrasados", recentemente apresentando. "A exibição do documentário é o culminar de um processo de um trabalho coletivo de mais de um ano, uma criação coletiva em que participaram várias gerações de pessoas que marcaram e foram marcadas pelo grupo", descreve João Garcia Neto. “O projeto partiu dos testemunhos dos fundadores Rui Sérgio e Sampaio da Nóvoa e cresceu numa espécie de efeito dominó, com antigos membros do grupo a nomearem outros, resultando numa extensa recolha de entrevistas às quais se juntou material de arquivo”, prosseguiu.
O arquivo do GrETUA revelou-se uma mina de ouro. "O nosso arquivo é uma coisa mesmo extraordinária, centenas de horas de gravação em analógico, cassetes que foram digitalizadas agora pela primeira vez, que estavam esquecidas há 30 anos", conta. Ainda assim, o documentário não se limitou a recuperar memórias, introduzindo igualmente “uma camada ficcional que aproximou o exercício da memória ao próprio ato teatral”. Uma das figuras centrais do documentário é Pedrinho, técnico de teatro e fotógrafo que acompanha o GrETUA desde 2002 e documentou o seu quotidiano. "Decidimos celebrar o aniversário dele dentro do filme que celebra o aniversário do GrETUA e oferecer-lhe um álbum com fotografias dele, onde misturamos fotografias ‘falsas’, encenando várias cenas que ele não captou."
A antestreia do documentário, realizada no auditório da Reitoria da Universidade de Aveiro, a 20 de março, foi um momento de grande emoção. "Percebemos que estavam lá agentes culturais da cidade, estruturas próximas ligadas ao teatro, à formação em teatro, ao teatro amador e profissional e, claro, pessoas ligadas ao passado e ao presente do GrETUA. Foi um momento em que o GrETUA se mostrou a agentes políticos e à própria universidade. É importante que estes decisores conheçam o espaço e percebam a dimensão do trabalho que aqui se produz."
O documentário procurou responder à pergunta "O que é o GrETUA?", mas a resposta parece escapar a qualquer definição fechada. "É uma força coletiva de formação teatral e criação em teatro, onde as pessoas se sentem em família; é igualmente um equipamento cultural com programação semanal e, consequentemente, um laboratório de reflexão e construção da sociedade", elenca o diretor artístico, na falta de uma definição mais concreta.
O objetivo, agora, passa por levar o documentário além da universidade. "Queremos que o documentário faça o circuito natural de um trabalho desta natureza, participando em festivais de cinema e sendo exibido noutras cidades. Paralelamente, interessa-nos tê-lo como cartão de visita para nos apresentarmos a outros teatros universitários”, esclarece João Garcia Neto.
O GrETUA é um espaço que desafia, que forma, que transforma. "Já houve momentos muito duros. Há que fazer tudo para que as pessoas se mantenham, mas como é que se ensina alguém a apaixonar-se por um espaço ou um projeto? O GrETUA, esta entidade abstrata, tem demonstrado essa capacidade e essa força", conclui João Garcia Neto. E, enquanto houver essa paixão, enquanto houver pessoas que se deixam "desviar" para o teatro, o GrETUA continuará a ser esse pequeno milagre cultural que resiste e se reinventa há mais de 45 anos.