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João Garcia Neto e o palco de encontros, descobertas e memórias que é o GrETUA

Palcos

 Fundado em 1979, o GrETUA – Grupo Experimental de Teatro da Universidade de Aveiro – sempre se afirmou como um projeto cultural com presença na cidade, na universidade e no mundo do teatro, mas também como um lugar de encontros, descobertas e experiências que moldaram várias gerações de artistas e agentes culturais. Uma dessas pessoas é João Garcia Neto. No início do ano, o jovem realizador aveirense assumiu a direção artística do GrETUA, dando continuidade a um percurso de ligação àquele coletivo que começara muito antes do dia em que, pela primeira vez, cruzou as suas portas.

A ligação de João Garcia Neto ao GrETUA remonta aos bastidores da sua adolescência. "Sou muito grato ao GrETUA porque, antes mesmo de cá ter entrado pela primeira vez, sem eu saber, já este grupo tinha tido uma grande influência na minha vida. Isto porque, ao longo dos anos, têm saído do GrETUA vários agentes culturais e formadores na área do Teatro e parte da minha adolescência foi passada no meio de várias pessoas que se formaram aqui", recorda. Essa influência indireta começou quando integrou a Start-Teatro, dirigida por Cláudia Stattmiller, uma das pessoas que, desviada dos trilhos académicos tradicionais, se deixou enredar pelo teatro no GrETUA, levando, mais tarde, a sua experiência para outros lugares. "Foi emocionante perceber que essas pessoas, que foram tão importantes para a minha formação, todas tinham passado pelo GrETUA", acrescenta o diretor artístico. 

Mais tarde, já como estudante na Universidade de Aveiro – licenciou-se em Novas Tecnologias da Comunicação –, a relação com o espaço intensificou-se, primeiro de forma esporádica, depois com uma presença mais ativa. Ainda assim, a nomeação para a direção artística do GrETUA não deixa de ser um desafio inesperado. "Não era uma coisa que estivesse nos meus planos. Depois de terminar o mestrado, em 2023, voltei para Aveiro e houve uma reaproximação natural ao GrETUA", explica. "Achei que agora ia ter um momento mais calmo, para ponderar o que fazer a seguir, arranjar uma bolsa de doutoramento ou continuar a trabalhar na área. E, de repente, surgiu o convite para assumir a direção artística do GrETUA. Não estava à espera", confessa, reconhecendo que a responsabilidade de liderar um espaço com uma história tão rica e tão querido por tanta gente tem-lhe trazido desafios e aprendizagens. "Não é fácil vir substituir alguém que estava no cargo há tanto tempo e já ocupava o seu espaço enquanto operador cultural. Sabia que ia ter uns primeiros tempos de aprendizagem, mas aceitei com grande entusiasmo e com a perspetiva de contribuir de forma mais comprometida com este lugar especial que tanto dá à comunidade académica e à cidade", afirma.

Aos olhos de muitos, pode parecer que o GrETUA vive em constante desafio à estabilidade. "É minha missão garantir que aquilo que o espaço tem de mais frágil, mas também de mais essencial, se mantenha: a incerteza da sua estrutura básica, composta por pessoas voluntárias, mas altamente motivadas", explica o diretor. " O GrETUA funciona sempre com equipas muito dinâmicas. Por estar em contexto universitário, todos os anos entram e saem pessoas e isso exige uma certa agilidade daqueles que estão com um compromisso de maior continuidade. Há que ter capacidade de escuta para perceber os interesses e expectativas de quem entra de novo. As pessoas vêm, mas só ficam porque se apaixonaram pelo GrETUA. E isso é muito bonito."

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Em 2024, o GrETUA assinalou 45 anos de atividade, celebrando o aniversário com a produção do documentário "Antes de mais, Parabéns Atrasados", recentemente apresentando. "A exibição do documentário é o culminar de um processo de um trabalho coletivo de mais de um ano, uma criação coletiva em que participaram várias gerações de pessoas que marcaram e foram marcadas pelo grupo", descreve João Garcia Neto. “O projeto partiu dos testemunhos dos fundadores Rui Sérgio e Sampaio da Nóvoa e cresceu numa espécie de efeito dominó, com antigos membros do grupo a nomearem outros, resultando numa extensa recolha de entrevistas às quais se juntou material de arquivo”, prosseguiu. 

O arquivo do GrETUA revelou-se uma mina de ouro. "O nosso arquivo é uma coisa mesmo extraordinária, centenas de horas de gravação em analógico, cassetes que foram digitalizadas agora pela primeira vez, que estavam esquecidas há 30 anos", conta. Ainda assim, o documentário não se limitou a recuperar memórias, introduzindo igualmente “uma camada ficcional que aproximou o exercício da memória ao próprio ato teatral”. Uma das figuras centrais do documentário é Pedrinho, técnico de teatro e fotógrafo que acompanha o GrETUA desde 2002 e documentou o seu quotidiano. "Decidimos celebrar o aniversário dele dentro do filme que celebra o aniversário do GrETUA e oferecer-lhe um álbum com fotografias dele, onde misturamos fotografias ‘falsas’, encenando várias cenas que ele não captou."

A antestreia do documentário, realizada no auditório da Reitoria da Universidade de Aveiro, a 20 de março, foi um momento de grande emoção. "Percebemos que estavam lá agentes culturais da cidade, estruturas próximas ligadas ao teatro, à formação em teatro, ao teatro amador e profissional e, claro, pessoas ligadas ao passado e ao presente do GrETUA. Foi um momento em que o GrETUA se mostrou a agentes políticos e à própria universidade. É importante que estes decisores conheçam o espaço e percebam a dimensão do trabalho que aqui se produz."

O documentário procurou responder à pergunta "O que é o GrETUA?", mas a resposta parece escapar a qualquer definição fechada. "É uma força coletiva de formação teatral e criação em teatro, onde as pessoas se sentem em família; é igualmente um equipamento cultural com programação semanal e, consequentemente, um laboratório de reflexão e construção da sociedade", elenca o diretor artístico, na falta de uma definição mais concreta.

O objetivo, agora, passa por levar o documentário além da universidade. "Queremos que o documentário faça o circuito natural de um trabalho desta natureza, participando em festivais de cinema e sendo exibido noutras cidades. Paralelamente, interessa-nos tê-lo como cartão de visita para nos apresentarmos a outros teatros universitários”, esclarece João Garcia Neto. 

O GrETUA é um espaço que desafia, que forma, que transforma. "Já houve momentos muito duros. Há que fazer tudo para que as pessoas se mantenham, mas como é que se ensina alguém a apaixonar-se por um espaço ou um projeto? O GrETUA, esta entidade abstrata, tem demonstrado essa capacidade e essa força", conclui João Garcia Neto. E, enquanto houver essa paixão, enquanto houver pessoas que se deixam "desviar" para o teatro, o GrETUA continuará a ser esse pequeno milagre cultural que resiste e se reinventa há mais de 45 anos.

 

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