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Vasco Baptista: o rugby levou-o à Nova Zelândia

Atletas

Poderia ter sido arquiteto ou designer de automóveis, mas foi ao desporto que se dedicou. Vasco Baptista reside em Esmoriz, é jogador de rugby e estuda Ciências do Desporto no Instituto Politécnico do Porto. Como se de uma placagem se tratasse, concentra a maior parte dos seus esforços, pessoais e profissionais, naquela modalidade - o que o levou a integrar equipas no Porto, em Lisboa, Nova Zelândia e Itália. Assume-se altamente motivado pelo que faz e a causa principal do seu sucesso deve-se à constante procura pela “diversão” e “auto-realização”.

É apaixonado por carros e, de prancha na mão, não prescinde de uma saída com os amigos. Quando a disponibilidade o permite, dedica-se ao bodyboard, desenho, pintura e cozinha. A Aveiro Mag encontrou o então nadador-salvador na Praia de Cortegaça e, ao longo do areal, muitas foram as palavras partilhadas e os passos registados na areia - embora apagados pela inquietude das ondas. No entanto, eternas são as memórias e foi delas que se construiu a conversa que se seguiu.

O mar está calmo e o número de pessoas a ocupar o areal começa a aumentar. Numa manhã soalheira, ao ritmo dos primeiros passos, surgem as primeiras perguntas. Porquê nadador salvador? A resposta divide-se em três: amigos, mar e casa. “Tudo começou porque a maior parte dos meus amigos também era nadador salvador. Acabei por ver, durante dois anos, o que é que eles faziam. Já conhecia este mar, por fazer bodyboard com eles, e sentia uma tranquilidade em poder ficar em casa durante o verão - porque durante a época estou sempre fora de Esmoriz. Aproveitei para fazer algo que gosto de fazer”, partilha.

Num período de três anos a exercer aquela função - em colaboração com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Esmoriz -, dois é o número de salvamentos em que interveio - ambos na praia em que caminhamos. Se reconstituíssemos esses momentos, seria incontestável a presença de elevados níveis de adrenalina no organismo. Mas será este um aspeto comum ao rugby? Eis a resposta: “É uma adrenalina completamente diferente. Talvez goste menos desse tipo de adrenalina, porque sei que há algo em perigo”. Mesmo assim, sublinha que ambas as intervenções foram bem sucedidas.

Salvamentos à parte, há uma pandemia que separa os anos passados do ano em que estamos. A esta nova fase, fizeram-se acompanhar um conjunto de aspetos que diferem dos primeiros anos enquanto nadador salvador. Entre eles, o transporte destes profissionais do quartel para a praia e os almoços em grupo - o que acabou por mudar a logística a que estavam habituados. “Normalmente, nós tínhamos de ir ter ao quartel, que disponibilizava dois ou três carros para nos levar para a praia. Agora, cada um de nós vai ter diretamente à praia. Na hora do almoço, íamos sempre almoçar ao quartel - o que já não acontece. Para além disto, passou a existir um posto avançado de socorro em Esmoriz, de onde algumas pessoas trazem os carros do quartel, a mota de água, as folhas para assinarmos durante o dia e tudo o que for necessário. Na praia, os cuidados a ter são os que a DGS transmite”.

Rugby: a definição de paixão pelo desporto

Para Vasco, a função de nadador-salvador constitui um passatempo. Como prioridade está o rugby e, a propósito da prática deste desporto, é inevitável voltar atrás no tempo. Os primeiros passos no desporto estão associados ao futebol. Numa tentativa de dominar a bola com os pés, não demorou tempo a perceber que aquele não seria o caminho a seguir. “A minha tentativa para entrar no futebol foi uma tentativa falhada, porque eu não tinha muito jeito. O meu pai jogou futebol também e, ao segundo treino, disse-me que se calhar seria melhor experimentar outra coisa. E assim foi”, conta. O rugby aparece depois, em Lisboa, com a sua inserção no Grupo Desportivo Direito (GDD). Tinha 9 anos de idade. “Acabei por gostar porque podia utilizar o meu corpo de uma maneira benéfica e de uma forma que me pudesse divertir também”, recorda.

No GDD esteve até aos 12 anos de idade - altura em que se muda para Esmoriz. A decisão da mudança não foi Vasco que a tomou. Contudo, diz não ter havido dificuldades no processo. “Acabou por ser uma decisão fácil porque, para além de termos cá família, o meu pai gostava da cidade. E eu, neste momento, também percebo perfeitamente o porquê de gostar da cidade”, partilha. Este é o momento em que, a par da cidade, muda de clube, passando a integrar o Centro de Desporto da Universidade do Porto (CDUP) - onde esteve até aos 18 anos de idade. Com a passagem para a vida adulta, há uma decisão que precisa de ser tomada. “Eu lembro-me que tive uma conversa com o meu pai, onde lhe disse que gostava de levar o rugby mais a sério. Pusemos em cima da mesa as oportunidades que poderiam surgir e o que eu poderia fazer para que isso acontecesse”, recorda.

Vasco Baptista durante um treino de campo (Fotos: Carlos Baptista)

Eis que chega a oportunidade de rumar à Nova Zelândia - uma decisão que tomou com a ajuda do treinador João Pedro Varela -, passando a fazer parte do Belfast Rugby Football Club. Entretanto, volta a Portugal para jogar no Centro Desportivo Universitário de Lisboa (CDUL), onde esteve durante um ano. De Lisboa, por conta de uma proposta, muda-se para Itália, onde fez parte da Edilnol Biella Rugby. Neste clube, fez a pré-época e parte do início da época. Por razões pessoais, volta a Portugal e integra novamente o CDUL, onde se mantém até agora.

Os planos, entretanto, deixaram de estar estritamente definidos, passando a haver mais espaço para a incerteza. “Eu tinha agora uma proposta provavelmente boa para continuar o meu percurso na Nova Zelândia, mas a pandemia não veio ajudar muito. Começa a ser um bocado mais difícil realizar as propostas que vou tendo por questões de logística”, afirma. No entanto, há algumas certezas que enumera sem vacilar: “Por enquanto, estou a acabar o meu curso. Depois, vou aproveitar estes dois anos para fazer o mestrado ou uma pós-graduação”.

Independentemente da forma que o futuro possa tomar, há uma uma motivação que o ajuda a definir o percurso - e que, em grande parte, está associada ao rugby:“Desde que eu comecei a jogar rugby que me consigo divertir e sentir uma grande paixão pelo que faço: desde a adrenalina do jogo até aos valores que o jogo me traz. O rugby é algo a partir do qual consigo retirar o meu bem estar e valores que levo para a vida. Acho que é todo um envolvente e estará sempre presente na minha vida”.

Em campo, destaca a importância da união da equipa e o respeito pelas motivações de cada jogador. “Acho que o que eu consigo sentir mais é o facto de saber que estamos lá todos uns pelos outros. Ou seja, se eu falhar uma placagem, sei que lá estará alguém para me corrigir esse erro. Da mesma forma que, se alguém falhar, eu também lá estarei. Este é um sentimento que me realiza: o facto de saber que há lá alguém com quem eu posso contar por inteiro - o que, para mim, é uma demonstração do que é um desporto de equipa”, expõe.

Ainda que a equipa seja um “todo”, partilhando o mesmo objetivo, cada elemento acaba por ter as suas convicções. Esta é uma aprendizagem que assume ser importante e que fortalece o sucesso do grupo. “Eu estou a jogar porque me divirto, mas pode haver outra pessoa que está a jogar por outra razão qualquer - seja pela vontade de fazer exercício físico, ou porque o pai alguma vez jogou aquele desporto. As razões podem ser diferentes, mas há que saber respeitar essas mesmas razões”, exemplifica.

O atleta para além do desporto

O período de isolamento, além de ter dificultado a logística das suas atividades, teve também algum impacto na manutenção da sua forma física. No entanto, dirige um agradecimento ao seu amigo André Teresinho por lhe ter facultado o ginásio de casa, assim que levantada a cerca sanitária no concelho de Ovar. “Depois dessa fase, tive a sorte de ter um amigo com ginásio em casa, o que me ajudou muito. Já conheço o André há algum tempo. Começamos a treinar juntos no ginásio mais ou menos pelos nossos 16 anos e já sabia como era treinar com ele. Cada um faz o seu tipo de treino, mas acabamos por motivar-nos mutuamente”, comenta.

Vasco durante um treino em casa (Fotos: Carlos Baptista)

É inegável que o rugby é um desporto muito exigente a nível físico. E é possível que a nível psicológico também o seja. Nos últimos dois anos, Vasco começou a trabalhar mais nessa vertente. O controlo emocional foi um dos aspetos que começou a desenvolver e assume ser um dos fatores chave quando está em campo. No início desse período de descoberta, teve o acompanhamento de um psicólogo desportivo, que o ajudou a perceber a “psicologia” do jogo e a controlar melhor as suas ações. “A partir do momento em que me conheço melhor e sei a forma como reajo, consigo gerir-me melhor em campo”, partilha.

Entretanto, o clube do qual fazia parte na altura, o CDUL, decidiu, por iniciativa própria, contratar uma psicóloga desportiva. “Tínhamos sessões individuais e de equipa. Acho que isso nos ajudou bastante enquanto equipa. Começamos a perceber melhor que cada um tem os seus motivos para jogar e isso ajudou-nos no nosso desempenho em campo”, conta.

Para além da mente, também o corpo tem de ser “alimentado”. Neste sentido, há cuidados que mantém frequentemente enquanto jogador. Por norma, segue uma dieta “minimamente regrada”, mas dispensa tudo o que o impeça de manter a sua motivação. Para o exemplificar, pôs a hipótese de ter um jogo num sábado. Se assim fosse, durante a semana, manteria o cuidado com a alimentação e seguiria todos os treinos programados. No entanto, na noite anterior ao jogo, diz não dispensar uma pizza, o que confessa ajudá-lo no controlo da pressão e ansiedade anterior à prova.

Na verdade, se cumpriu tudo o que tinha a fazer para se preparar para o momento da prova, não é uma pequena exceção à regra que afetará o seu desempenho na mesma. “É como num teste. Já estudei previamente ao teste para, no dia anterior, não ter de estar a ver a matéria toda pela primeira vez. É óbvio que há esforços que tenho de fazer, mas não é uma pizza que me vai estragar uma semana de treinos, ou um mês, um ano, ou o que quer que seja”, comenta.

“Voltar a casa”: o mar e outras referências

Seguindo a linha de pensamento de Vasco, “mar é casa”. Desde as saídas com os amigos para ir fazer bodyboard - quando o horário e a disposição o permitem -, até à simples contemplação do mar, num exercício de alienação da rotina, o mar constitui uma forma de “voltar a casa”. “Gosto muito de estar no mar. Quando consigo ter um tempo, procuro ir à praia e ver o mar. Acho que é algo que me traz bastante tranquilidade e serenidade. Mesmo em Lisboa faço isso muitas vezes, para me abstrair um pouco do stress todo da cidade. É como voltar a casa”.

Há vezes em que a relação com o mar passa da contemplação para a imersão: bodyboard é um dos seus passatempos. Nem sempre tem disponibilidade para fazê-lo, mas, quando a há, não perde a oportunidade. Para além do contacto com o mar, a companhia dos amigos é imprescindível. “Não gosto muito da ideia de estar em casa sem nada para fazer - faz-me confusão a inatividade e o sedentarismo. Tenho os meus amigos todos que fazem surf e temos, inclusive, um grupo no Whatsapp e Instagram. Quando alguém pergunta se queremos ir surfar, lá vamos nós. Acaba por ser uma diversão, estou a fazer exercício físico e estou, ao mesmo tempo, com os meus amigos”, conta.

Quando há tempo livre e disposição para tal, há lugar para o desenho, para a pintura e para a cozinha. Os tempos de isolamento social foram o mote ideal para que o tempo livre crescesse e, dessa forma, constituísse um motivo para novas aventuras na cozinha. Quem nunca tentou fazer croissants em casa? “Na quarentena, fui ver receitas à internet e tentei fazer uns croissants. Ficaram horríveis, pareciam scones. Visualmente não ficaram mal, mas, em termos de sabor, pareciam scones. Não eram croissants, mas também não era mau”, comenta de sorriso esboçado no rosto.

Entre os hobbies está também o gosto por desenhar. Este gosto está presente desde cedo, tanto que, no ensino secundário frequentou a área de Artes. Nos desenhos que vai fazendo, tenta retratar algumas das suas paixões - entre elas, carros e casas. Para além disto, guarda alguns vestígios do gosto pela pintura, que alimentava quando era mais novo - são disso exemplos pelo menos 3 quadros que pintou, com diferentes elementos neles esboçados: montanha, praia e cavalo. Representará a montanha a luta pela conquista dos seus objetivos, a praia, a tranquilidade que precisa para atingi-los e o cavalo a rapidez que o caracteriza? Não há uma resposta para isso, mas confessa que poderia ter seguido arquitetura ou talvez design automóvel, ainda que a escolha tenha incidido na área do desporto.

Quanto às suas referências, partilha que algumas delas são Kobe Bryant e Ardy Savea. “O Kobe Bryant é uma referência enquanto pessoa que é no desporto. Admiro a sua forma de pensar e de trabalhar para chegar aonde quer que seja”. No rugby, destaca Ardy Savea, jogador neozelandês nomeado “Jogador de Rugby do Ano” em 2019. “Não diria que é um ídolo, mas sim uma referência que eu tenho para a minha posição. Ele joga um tipo de jogo com o qual eu me identifico, que é na linha de pensamento da explosão. Tenho-o como referência, dentro do jogo e como pessoa que é: extrovertido, sendo sempre a mesma pessoa à frente de quem quer que seja”.

“Ídolos” à parte, sem qualquer dúvida, nomeia o seu pai como sendo a pessoa mais importante no seu percurso. “Penso que é a pessoa que me dá melhores conselhos. Ele tem uma visão do que foi o meu percurso, de como são os meus dias, a que horas me levanto, quando vou treinar ou fazer outra coisa qualquer e quantas vezes tenho de dizer ‘não’ para poder fazer o que faço - festas de aniversário, por exemplo. E isto é muito importante. O facto de ele estar sempre presente nestas decisões, compreender-me, aconselhar-me - e levo com muita seriedade os conselhos que ele me dá - é muito importante para mim”, conclui.

* Créditos da foto de capa: Carlos Baptista

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