Agora em palavras
Bruno Pereira*
Em ‘98 houve uma conferência mundial de ministros. Este evento nada me diria se não se tivesse realizado em Lisboa, na semana em que nasci e se dela não tivesse resultado a criação do Dia da Juventude. Com esse dia por perto é sensato refletir sobre os jovens pela voz de quem o é.
Como qualquer jovem, fui direto à internet ver o que se diz por aí. Encontrei duas visões igualmente estranhas: os imensuráveis otimistas e os pessimistas engavetados em ideias feitas.
Para os primeiros resolveremos tudo: as alterações climáticas, a fome no mundo e pelo meio tiramos um tempinho para acabar com as ditaduras. Alguns defendem até aquilo que é inegavelmente defeito. Estou a falar de características presentes em todas as gerações, como um geral “desnorteamento” de identidade. Mas também realidades relativamente novas, como a dependência tecnológica e uma certa hipocrisia quanto a questões fundamentais políticas, sociais e ambientais, muito por comodidade.
Os segundos adoram pôr-nos em gavetinhas. Estas generalizações dão para todos os gostos. Somos apáticos e preguiçosos, não temos valores e, quando há espaço, arrumam-nos no cabide dos que “fazem demasiado do que gostam”, seja lá o que isso for. Se calhar por sermos a geração mais diversa e tolerante ou a com maior nível de formação e interesses que desafiam as barreiras geográficas e culturais.
Nenhuma destas perspetivas é completamente infundada. Nós crescemos com crises e mudanças sociais enormes. O que não nos falta é realismo! Somos os primeiros a admitir onde erramos. Generalizamos demasiado. Para alguns, todos os avós têm saudades de Salazar e todos os pais estão traumatizados pelos avós. Reclamamos da inação da sociedade em matérias de ambiente, mas fazemo-lo através do nosso nono telemóvel, com o relógio inteligente e a trotinete elétrica, enquanto comemos e vestimos algo produzido no outro lado do mundo.
Porém, sabemos que nos espera um futuro de mudanças drásticas e isso assusta-nos. Vemos tanta nova casa sem gente e tanta nova gente sem casa. Somos religiosa e ideologicamente muito diferentes e muitas tradições morrerão com os nossos pais.
Por isso, não digam que não temos esperança nem nos tragam otimismos infundados. Temos defeitos, mas não nos ponham o mundo nas costas. Acima de tudo, não nos levem ao colo por quase nada, nem nos deitem abaixo por razão nenhuma.
Sabemos que muitas das críticas são igualmente anseios mascarados e só pedimos, se somos nós o futuro, que não nos deixem escrevê-lo sozinhos.
* Membro da associação Agora Aveiro