Liliana Macedo
Convidaram-me a escrever sobre o dia 5 de dezembro no qual se assinala, desde 1985, graças às Nações Unidas o Dia Internacional do Voluntariado. Assim afirmado, esta crónica parece tratar de um tema bem direto. No entanto, como sou dada à indefinição (talvez um pouco banhada a covardia de não querer escolher por isso me colocar de imediato em caixas e caixinhas apertadas, nas quais não pareço sentir-me completa) deixo um título a descoberto, de forma a convidar quem tenha vontade de descobrir um pouco mais.
Ora, no meio das minhas conversas mentais comigo mesma abri, então, um cantinho para refletir sobre isto que parece que também eu faço: o voluntariado.
Apercebi-me que explicar o que faço não é tão simples como dizer que ajo por vontade própria em prol de um bem comum. Quando o coloco assim parece que falo de altruísmo, usando uma palavra “bonita”. Mas não, não é disso que falo. Aliás, a meu ver, um voluntário é um altruísta fingido. Na verdade, fazemos tudo por puro egoísmo, porque nos sentimos bem ao fazê-lo, pelos mais diversos motivos.
Desmistifiquemos algumas visões com que já me cruzei ao longo do meu percurso como voluntária. Para se ser voluntário não é necessário pertencer a uma associação ou movimento específico (não, não somos um bando de sensacionalistas radicais). E não, voluntariado não é sinónimo de escravatura, não é fazer trabalho não remunerado e não é perder tempo. O voluntariado engloba as mais diversas áreas, desde desporto, à cultura, ambiente ou trabalho social, basta querer. Se o vosso argumento for “Então, mas ninguém sobrevive de voluntariado.” Verdade. No entanto, também não é só do dinheiro que se faz um humano feliz.
Uma vez, numa Formação Internacional de Erasmus +, em conversa com os nossos Facilitadores surgiu um debate acerca do reconhecimento do trabalho que se desenvolve enquanto voluntário e neste tipo de contextos informais, de como é necessário validar o que se aprende e adquire informalmente. Quer dizer, quantos de nós têm um certificado de português? E não começámos todos a aprender num contexto informal, tantas vezes de brincadeira?
O voluntariado abre-nos portas a aprendizagens destas. Forma-nos enquanto cidadãos, na prática, no dia a dia. Incute-nos valores de responsabilidade e permite-nos testar limites da nossa zona de conforto de forma segura. Com o voluntariado, aprendi que não se trata de estar confortável com tudo. Trata-se de irmo-nos desafiando a sair da nossa bolha até que nos sintamos confortáveis e, ainda assim, saber estabelecer os nossos limites. Ganhamos competências (que tanto nos são exigidas) de uma forma tão natural que nem damos por isso. E continuamos a dizer que somos tímidos e incapazes de mostrar o que escrevemos, enquanto publicamos uma crónica online…Pois é… Ups!
Ser-se voluntário não é acerca de um rótulo que se impõe para soar que fazemos algo de “bom”. É sim, uma série de opções diárias, não obrigatórias que podem criar uma onda numa poça de água. É um livre arbítrio condicionado e que tanto me retribui.
Espaço da associação Agora Aveiro