O historiador Álvaro Garrido encontra-se a preparar a primeira grande biografia de Mário Ruivo (na foto), uma das figuras mais marcantes da ciência, da diplomacia ambiental e da política do mar em Portugal. Intitulada “Homo Oceanus – Mário Ruivo, Uma Biografia”, o projeto traçará o “percurso singular” de um homem que, ao longo do século XX, aliou conhecimento científico, ativismo cívico e intervenção pública.
Médico veterinário de formação e doutorado em Oceanografia, Mário Ruivo foi “um defensor incansável dos oceanos”, tendo desempenhado “um papel crucial na consolidação de políticas marítimas” nacionais e internacionais. Desde a sua ligação à ONU e à UNESCO até ao envolvimento nas primeiras políticas do mar em Portugal, a sua vida foi marcada por “um compromisso constante com o ambiente e a ciência, ao serviço do bem comum”.
Como investigador do Instituto de Biologia Marítima, a partir de 1955 foi a bordo de navios bacalhoeiros e do Gil Eannes que Mário Ruivo foi conhecendo a realidade da pesca do bacalhau e muitos dos seus tripulantes, com quem conviveu em diversas ocasiões no Museu Marítimo de Ílhavo (MMI). Entre muitas distinções nacionais e internacionais, foi distinguido como confrade de honra da Confraria do Bacalhau.
Depois de quase cinco anos como diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (onde se mantém como professor catedrático), Álvaro Garrido está, agora, de volta às publicações. “Gosto destes projetos mais criativos”, confessa, dando conta que tem dedicado o seu trabalho a temas de história económica e das instituições, com contributos na história marítima contemporânea.
Especialista em História Económica e Social, o também antigo diretor e consultor do MMI (2009-2018) revela que apresentará, nesta biografia, “um retrato rigoroso e profundamente humano” de Mário Ruivo. Este projeto de investigação implica, explica, um trabalho de pesquisa multidisciplinar e de âmbito internacional, revelando episódios menos conhecidos do percurso do oceanógrafo, incluindo a sua passagem pela prisão no Estado Novo, o seu papel no movimento antifascista e o seu trabalho na fundação de organismos como a Comissão Oceanográfica Intergovernamental. Além das fontes documentais, o projeto inclui um conjunto de entrevistas com personalidades da ciência e diplomacia que conheceram de perto Mário Ruivo e com ele trabalharam, bem como testemunhos de familiares.
Mais do que um projeto sobre uma figura histórica, trata-se de “uma reflexão sobre o mar como território de soberania, ciência e cultura”, um tema que, como mostra Álvaro Garrido, continua a ser vital no século XXI. “Num momento em que as sociedades humanas enfrentam uma crise ecológica global e o conhecimento do Oceano se alarga a novas fronteiras e recursos do mar, conhecer a vida de Mário Ruivo e a sua ação científica e institucional significa dar expressão a uma ética social de longo prazo”, sustenta o historiador, sublinhando serem esses os objetivos fundamentais deste estudo que será publicado em 2027.