A ligação ao desporto surgiu ainda em tenra idade. Tinha apenas 10 anos quando começou a praticar karate contact, no Pavilhão de Oliveirinha. Estávamos na década de 80, altura em que a televisão (com apenas dois canais) tinha uma influência tremenda na vida das pessoas. Raul Lemos, tal como muitas crianças e jovens de então, fascinava-se com os filmes de Bruce Lee, uma lenda do cinema e das artes marciais. Dois anos depois, estreia-se no kickboxing, modalidade que estava a chegar exatamente naquela altura a Portugal, pelas mãos de um treinador holandês, Fred Royers. Estava dado o primeiro passo para uma carreira repleta de vitórias, medalhas e títulos de campeão – já lá vamos –, que acabaria por culminar, também, com a abertura daquele que é um dos mais antigos ginásios de Aveiro. O Knock-Out completa esta quinta-feira, 1 de maio, 30 anos, e é já o mais velho de três irmãos.
Foi no ano em que foi campeão da Europa, 1995, que Raúl Lemos, atualmente com 50 anos, abriu o Knock-Out, em parceria com Mário Neves. Pelo meio, já tinha conquistado o título de campeão nacional e ibérico da modalidade à qual continua ainda ligado – é selecionador nacional. “Treinava todos os dias, praticamente duas vezes por dia. Tentava treinar também fora do país, ia treinar a França com colegas, à Holanda com esse meu ex-treinador, pelo qual tenho muito carinho”, testemunha. O grande e derradeiro combate aconteceu em 1997, ano em que conquistou o título de Campeão Mundial e o título de Best Fighter na Croácia. O grande impulsionador destes feitos, repara, foi Carlos Ramjanali, que continua até hoje a ser meu parceiro nos palcos internacionais do kickboxing/WAKO.
Raul Lemos tem consciência que muitas pessoas ainda associam desportos como o kickboxing a violência e também não precisa de pensar muito para desfazer mitos. “Não nos magoamos, nem em competição nem no treino, porque sabemos bater, defender e isso tudo. Se calhar, o futebol consegue ser mais violento, porque tem lesões muito mais graves do que nós temos. Normalmente, são raras as nossas lesões, são mais hematomas só”, explica. Não obstante o argumento parecer forte, a verdade é que lá em casa, entre quatro atletas, continua a ser o único ligado a esta modalidade. A mulher e as duas filhas preferem os campos de basquetebol, mais concretamente do Esgueira e do Galitos, e driblar a bola até acertar no cesto. Raúl não se importa. “O importante é que pratiquem desporto e cuidem da saúde”, assevera, ao mesmo tempo que diz ser um espetador assíduo dos jogos do clã feminino da casa.
No fundo, é também esse o espírito que o move na liderança do Knock-Out. Mais do que ter um espaço – neste caso, mais do que um – onde as pessoas vão “pular, saltar ou levantar pesos”, o lema passa por desenvolver “um trabalho cada vez mais multidisciplinar, cada vez mais ligado à área da saúde e com médicos e terapeutas. O objetivo é cuidar da saúde das pessoas”, afiança, em conversa com a Aveiro Mag. “Praticamente, fomos pioneiros a ter consultas de nutrição nos ginásios”, repara, a propósito daquele que foi um momento marcante na vida do ginásio, mas que se cruza com a sua história de vida pessoal. A nutricionista que ali começou a dar consultas em 2000 é hoje a sua mulher, Luciana Cipriano, que acabou por ficar também ligada à família Knock-Out.
Três décadas, três ginásios
Quando, a 1 de maio de 1995, Raul Lemos e o sócio inauguraram o ginásio, aquela zona de Aradas era quase deserta. “Não havia quase nada à volta. Era tudo terrenos e havia uma pastelaria aqui ao lado, um videoclube atrás e uma casa que arranjava televisores”, recorda o treinador e empresário. A zona foi crescendo e o ginásio também. “Fomos estendendo a mais lojas e remodelando tudo”, refere. Pelo meio, ainda tiveram uma passagem por Ílhavo – durante alguns anos, exploraram o ginásio do hotel daquela cidade.