Nasceu e vive em plena região da Bairrada, mais concretamente no município de Anadia, mas, ao contrário do que acontece com a maioria dos bairradinos que estão ligados ao mundo dos vinhos, não tem “ninguém da família que tivesse um pé de cepa”. Paulo Vale viria a despertar para este mundo enquanto trabalhava num negócio de família. “O meu pai tinha um minimercado e, inconscientemente, foi ele que me passou o gosto pelos vinhos. Ele gostava de dar muito destaque à garrafeira”, recorda o escanção. Descoberta a vocação, Paulo Vale iniciou uma aprendizagem que parece não ter fim e hoje, aos 49 anos, é um dos poucos escanções da região.
Antes que a conversa avance, impõe-se a pergunta: sommelier ou escanção? Paulo Vale prefere a palavra portuguesa, escanção – “profissional especializado em vinhos nos restaurantes”, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa -, mas o facto de ter de trabalhar, também, internacionalmente, obriga-o a recorrer muitas vezes ao termo de origem francesa, sommelier, reconhecido a nível mundial. É por essa mesma razão que se apresenta ao mercado como Paulo Vale Sommelier, prestando serviços de consultoria e formação em vários pontos do país e também além-fronteiras.
Depois de fazer uma primeira formação na Estação vitivinícola da Bairrada, Paulo Vale tirou o curso de escanção na Escola de Hotelaria de Coimbra e nunca mais parou. De aprender e de trabalhar. “Comecei a receber convites para participar em concursos de vinhos, quer nacionais, quer internacionais, os próprios produtores começaram a chamar-me quando faziam lançamentos”, refere, notando que isso não foi impeditivo para deixar de estudar. “Comecei a tirar uma formação internacional que se chama WSET – Wine & Spirit Education Trust e já vou no nível 3”, especifica, manifestando a vontade de chegar até ao nível 4. Do seu currículo consta, ainda, o curso de Madeira Wine Educator, do Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, IP-RAM, ao qual pretende somar o Porto Wine Educator e o Court of Masters Sommeliers.
Partilhar e transmitir conhecimento
No entender de Paulo Vale, esta aposta na aprendizagem é um dos principais requisitos para se ser escanção. “Tem de se ter uma capacidade de estudo muito grande e, depois, tem que se gostar muito de partilhar e transmitir conhecimento”, sustenta, sem esconder que esta segunda faceta, a da partilha de conhecimentos, também dá especial prazer. “Um dos meus focos é ajudar a desmistificar e a quebrar preconceitos que existem no mundo do vinho”, testemunha, afastando, por completo, essa ideia de que esta é uma área exclusiva para entendidos. “Enquanto latinos, o vinho faz parte da nossa cultura e da nossa dieta alimentar”, introduz. “E nota-se que quem gosta de vinho está a procurar conhecimento, a aprender como se prova vinho, a tentar perceber porque é que um vinho da Bairrada é diferente de um do Dão ou Beira Interior, porque é que determinada casta só se dá em determinada região”, revela.
Mesmo enquanto mero consumidor é importante aprender um pouco mais sobre vinhos e, acima de tudo, perceber quais são os gostos de cada um. “Há os vinhos de que gostamos mais e há os de que gostamos menos. E os gostos não se discutem”, realça Paulo Vale.