Quando temos de escrever sobre alguém que tem um dom para contar histórias, inclusive a sua, torna-se difícil escolher por onde começar. Optamos por uma analepse ou por uma prolepse? Ou recorremos às duas em simultâneo? Pior ainda quando essa pessoa é alguém que estimamos, foi gerada e criada por dois seres que deixaram saudades e partilha connosco uma série de interesses em comum. Está bom de ver que o texto que se segue fica a dever muito à objetividade (regra basilar do jornalismo) e deixa, por completo, a técnica da pirâmide invertida de lado. As ideias irão surgindo. Um pouco à semelhança do que acontece de cada vez que Catarina Resende se senta a escrever. Acaba de lançar “Afinador de vidas”, pela mão da Ego Editora, mas já tem outro a caminho, mais autobiográfico. Na calha estão também outros escritos, nomeadamente para uma série de televisão, mas nada como manter uma boa dose de suspense nesta narrativa dedicada a alguém que gosta de encher a sua vida com as personagens dos seus livros. “Dá-me prazer viver tantas vidas na minha vida”, confessa.
Vamos, então, à analepse: Catarina Resende nasceu em Ílhavo, em outubro de 1972, e desde cedo que sentiu atraída pelo mundo da comunicação. Sonhou ser apresentadora do telejornal – a Manuela Moura Guedes era, na época, a sua grande referência – e já então “gostava muito de contar histórias e gostava muito de escrever”. Filha de uma professora de português, viveu sempre com os livros por perto, ganhando o gosto por um hábito que ainda hoje a acompanha. Dos autores da América Latina aos portugueses, são vários os nomes que integram a sua lista de escritores favoritos, ainda que nem todos tenham o poder de Vergílio Ferreira, que vai revisitando com regularidade.
A atração pelo mundo da comunicação social ditou a escolha do curso superior. Não obstante a resistência inicial do pai, que era médico e chegou a manifestar a vontade de a ver seguir “um curso a sério”, Catarina Resende foi estudar ciências da comunicação na Universidade Nova em Lisboa. “Tive a alegria, no dia em que foram afixadas as entradas no ensino superior, de o meu pai ser a primeira pessoa que lá estava, feliz por eu ter entrado”, recorda.
Concluída a licenciatura, teve a oportunidade de estagiar na SIC, rumando, depois, à Comissão Europeia. “Mas como queria muito ser mesmo jornalista, voltei para Portugal”, relata. Integrou a redação de um jornal, entretanto, já desaparecido, o Semanário, mas “a experiência não foi muito boa”. “Apesar de guardar grandes amigos dessa redação, desiludi-me muito com o jornalismo”, conta. Hoje, aos 51 anos, admite que talvez tenha desistido “cedo demais” do jornalismo. Ou talvez não, uma vez que na vida, como nos seus livros, são as personagens quem dita o enredo e, consequentemente, o desfecho da história. No seu caso, o episódio seguinte passou pelo marketing político. “Entreguei a carteira profissional de jornalista e comecei a trabalhar em comunicação. E nunca mais deixei. Fiz muito marketing político e gosto. Gosto muito de pensar em campanhas”, testemunha.
Fez grande parte do seu percurso profissional, mas o destino acabou por a trazer de volta a casa, à sua terra natal. “A dada altura - e eu acredito muito no destino – surge uma proposta para vir para a Aveiro abrir um gabinete de comunicação no hospital”, recorda, notando que este regresso lhe permitiu estar próximo dos pais quando eles começaram a necessitar de assistência. Também foi diretora de um canal de televisão por cabo, a TV Fátima, e de voltar à empresa onde tinha estado, em Lisboa, mas é no Centro Hospitalar do Baixo Vouga que tem centrado a sua carreira profissional.