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Francisco Calão: Ao leme da Riamar, uma marca com 60 anos de história

Empresas

Nem todas as marcas se podem orgulhar de chegar aos 60 anos cheias de fôlego. Mesmo tendo atravessado ventos contrários e tormentas, a Riamar aí está, determinada a continuar a ser uma referência na construção de barcos de recreio. Orgulhosa da história, mas sempre com os olhos postos no futuro, segundo perspetiva Francisco Calão, um dos principais rostos da empresa familiar que mantém a Riamar a navegar, em entrevista à Aveiro Mag. É já em setembro que a marca celebra o seu 60º aniversário, numa festa que terá um sabor agridoce, uma vez que o seu fundador, Manuel Alves Barbosa, faleceu recentemente. “Foi um orgulho muito grande para ele ver que o seu legado teria continuidade. Ele ainda viu os desenhos dos novos modelos”, realça o seu neto.

Francisco Calão tem 35 anos, é licenciado em Economia e, tal como pai, Manuel Calão, é um homem da ria e da vela. Os seus sonhos de infância e juventude não passavam por seguir as pisadas do avô materno, mas a força do destino é muito grande. Em 2012, lança-se, com o pai, na aventura de pegar na marca que estava em risco de acabar, partindo “praticamente do zero”. “Foi uma grande aprendizagem para nós porque não estávamos dentro do meio. Passados doze anos, sabemos que este é um meio muito específico que exige conhecimento adquirido no local e pela experiência”, testemunha.

O caminho faz-se caminhando e, no caso da Riamar, em 2014/2015 já estava a ser levada à Nauticampo, com uma imagem renovada da marca. “Tivemos uma excelente aceitação dos restylings de antigos modelos e dos modelos novos que lançámos. A partir daí, inicia-se também uma parceria com a Yamaha – fomos convidados a aplicar os motores Yamaha nos nossos barcos. Esta parceria evoluiu para uma presença partilhada com a Yamaha na Nauticampo e, mais tarde, para uma concessão”, enquadra Francisco Calão. Neste momento, a Nautav – empresa que detém a marca Riamar – já está a construir uma terceira fábrica. “Vamos ficar com 3.100 metros quadrados e já estamos a aumentar a mão de obra”, revela, destacando, também, os vários modelos prontos a serem lançados. “No próximo ano, em janeiro, em Dusseldorf, pretendemos apresentar o modelo de casco de 5 metros (o mais pequeno). Até ao verão, temos o lançamento de duas versões do de 7 metros”, anuncia.

Bernardo, Manuel e Francisco Calão (ao centro), com Augusto Barata da Rocha e Paulo Matos

Atualmente, a marca conta com “dez modelos de barcos com dimensões compreendidas entre os 3,2 metros e os 8 metros, sendo que cada modelo tem várias variantes”. Os preços começam “nos 3.300 euros mais IVA, que é o preço do nosso barco de 3,20 metros”. “Mas também temos barcos, como o 550 Open, com torres de wakeboard e sistemas integrados de gestão do motor, que vão para os 60/65 mil euros, ou os 7,20 desportivos – entregámos agora um – que são barcos para custar 120/130 mil euros”, vinca.

A produção anual anda na ordem dos 60 barcos, muito longe dos 700/800 que a marca atingiu na sua época áurea, mas os planos da empresa familiar que está a dar-lhe nova vida também não passam por aí - pelo menos, a curto prazo. O importante é continuar a produzir barcos “que nunca acabam”. “Os Riamar só acabam com acidentes ou com abandono. Não há uma queixa de um Riamar mal construído, não há uma queixa de um Riamar que navegue mal. Veem-se muito poucos Riamar à venda no mercado de usados. E os que estão à venda estão muito valorizados relativamente a barcos equivalentes de outras marcas nacionais e internacionais. Isso é algo que me orgulha muito e que nos permite ainda hoje tirar louros do trabalho que o meu avô fez durante muitos anos”, frisa Francisco Calão. 

Manuel Alves Barbosa, um visionário 

Nascido em 1930, Manuel Alves Barbosa cresceu de volta dos automóveis - a família, de Águeda, tinha fortes ligações ao sector automóvel -, tendo desenvolvido uma grande paixão pelos desportos motorizados. “Chegou a ser campeão nacional de rally”, conta-nos o neto, recordando ainda a ligação do avô à criação do primeiro automóvel exclusivamente português, o “ALBA”. Quando cumpriu o serviço militar em Aveiro, onde conheceu a sua mulher e casou, travou conhecimento com diversos entusiastas de um desporto emergente na época na cidade, a motonáutica – Manuel Alves Barbosa sagrou-se Campeão Europeu de Motonáutica da Classe EU, classe rainha na época, por duas vezes.

Manuel Alves Barbosa (capa do jornal Motor)

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Em 1964, integrou uma comitiva portuguesa que foi convidada pelo rei de Marrocos para assistir a uma prova de motonáutica naquele país. Foi aí que teve o primeiro contacto com um protótipo de uma embarcação, desenvolvido pelo espanhol Salvatore Sciacca, que viria a definir a sua vida: um barco totalmente construído em fibra de vidro, um material muito pouco conhecido na época. “Viria, assim, a ser este o primeiro barco da Riamar”, refere Francisco Calão. No auge, a empresa chegou a produzir “cerca de 1200 barcos num só ano. Entre 1976 e 1992, a média andou sempre nos 700 ou 800 barcos por ano. Tinha entre 80 e 120 funcionários e cerca de 80% da produção era exportada para os mercados da Alemanha, França, Países Baixos e Suécia. O mercado português da náutica de recreio – agentes, revendas, etc. – era dominado pela Riamar”, recorda o neto de Manuel Alves Barbosa, a propósito da época em que a produção esteve dividida “por três fábricas: em Esgueira, junto à escola secundária, outra na Avenida, junto à estação, que ainda lá está abandonada, e outra fábrica no Carregado”.

Na década de 1990, contudo, fruto de vários fatores – entre os quais se destaca a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia - a empresa entrou em declínio, correndo o risco de desaparecer. Ressuscitaria em 2012, pronta para “chegar novamente ao mercado externo, especialmente, o europeu. Continuamos a exportar para os PALOP e para o sul de Espanha, mas queremos entrar novamente no mercado premium onde a Riamar já esteve há uns anos que é o mercado europeu”, perspetiva Francisco Calão.

Os azimutes estão traçados. Resta esperar que o país saiba honrar a sua fama de terra de marinheiros. “Há muito potencial, mas tem de haver uma sensibilidade da parte governamental para potenciar esse crescimento”, adverte o responsável pela marca Riamar, dando um exemplo concreto. “A região de Aveiro necessita seriamente de uma marina oceânica. Temos as marinas todas lotadas. Há muitos barcos na Ria e uma grande percentagem desses barcos são Riamar. Precisamos de crescimento e apoio”. Também no resto do país “ainda há uma margem muito grande para o crescimento das empresas nacionais. Há um cluster muito grande aqui na zona de Aveiro com investimento externo à semelhança do passado. O grupo Catana está a investir na zona com muita força. Há que haver sensibilidade da parte governamental para o potencial que esta indústria pode ter no que à exportação diz respeito. Temos condições socioeconómicas ótimas para produzir barcos aqui de forma a conseguirmos entrar nos mercados europeus e equilibrarmos a nossa balança, exportando e investindo na indústria náutica em Portugal e no mercado da náutica em Portugal, um mercado que ainda é um pouco marginalizado”, sustenta.

 

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