Numa época marcada pela erosão do sentido de humanidade, o Centro de Artes e Espetáculos (CAE) de Vale de Cambra propõe uma temporada feita de histórias urgentes e profundamente humanas, por vezes incómodas, sempre necessárias. Entre setembro e dezembro de 2025, a nova programação respira os tempos incertos e delicados do mundo contemporâneo, com propostas que questionam, emocionam e abrem espaço à reflexão crítica, cruzando tradição e inovação, pensamento e humor, beleza e conflito. Convoca o teatro, a música, o novo circo, o cinema e a dança para ocuparem um lugar essencial no quotidiano da comunidade.
A temporada arranca a 20 de setembro com um início simbólico protagonizado por “Nada”, um espetáculo de dança vertical, teatro, vídeo e música da companhia espanhola Ferrer & Weidmann, que aborda exílio, guerra, resistência e esperança. A apresentação acontece ao ar livre, na zona traseira do CAE. No mesmo dia, o músico Bruno Pernadas sobe ao palco para um concerto a solo em guitarra elétrica, e é inaugurada a exposição “Alentejo. Alentejo”, do escultor Paulo Neves, que propõe um diálogo entre dois elementos fundamentais da paisagem alentejana: a pedra e a madeira.
Durante quatro meses, o CAE acolhe nomes como Bárbara Tinoco, OMIRI, Romeu Bairos, Cícero, a Orquestra de Jazz de Espinho com “Radiohead Recomposed” e a companhia Nadine Gerspacher. No teatro, destacam-se criações de Tiago Rodrigues, Sara Barros Leitão e Sandra Barata Belo, com interpretações de atores como Ricardo Pereira, Sofia Alves, Diogo Lopes e Filipe Matos. O humor também tem espaço, com o espetáculo de stand-up de Hugo Sousa.
Através do seu projeto de mediação e participação “ECO”, o CAE reforça o seu compromisso com o público jovem, escolar e familiar, mas também com pessoas com mais de 65 anos. A programação inclui propostas como o workshop de dança contemporânea “A Dança de BirdsLand”, para maiores de 12 anos com experiência em dança, baseado na pesquisa do espetáculo “BirdsLAND”, que será também apresentado no CAE. Destacam-se ainda criações como “As árvores não têm pernas para andar”, da pianista Joana Gama; “Roda-Viva (a Menina e o Círculo)”, de Cláudia Nóvoa; “Conchas”, para bebés e crianças até aos 5 anos; e “Projeto Aurora”, de Inês Melo, uma reflexão artística sobre resistência, liberdade e democracia, a partir do relato de Aurora Rodrigues na PIDE.
A programação mantém a dimensão comunitária como eixo central. Sob direção artística de João Aidos, o CAE continua a investir numa abordagem que valoriza a identidade e a memória do território, envolvendo a população local na construção de sentidos partilhados. Entre os projetos em destaque estão a criação de um grupo de teatro juvenil do CAE, a participação de habitantes locais no concerto multimédia de OMIRI, e a colaboração da Banda Musical Flor da Mocidade Junqueirense, que partilhará o palco com a soprano portuguesa Sofia Escobar (na foto).
No Centro Cultural de Macieira de Cambra, o cinema assume lugar de destaque, com sessões regulares dirigidas a diferentes faixas etárias. Ao longo da temporada, serão exibidos filmes para jovens, adultos e crianças, reforçando a articulação do CAE com outros equipamentos culturais do concelho e promovendo hábitos de fruição cultural diversificada.