Quem visita Sever do Vouga sabe que a famosa cascata da Cabreia é local de passagem obrigatória, mas o município capital do mirtilo esconde outras quedas de água capazes de proporcionar experiências únicas. São lugares mágicos, escondidos no meio de bosques, entre a vegetação densa das encostas da montanha, excelentes para passeios a pé, para a prática de desportos de aventura e para as cada vez mais procuradas caminhadas aquáticas.
Com a ajuda da Desafios – Desporto & Aventura, propomos-lhe um roteiro por sete das mais belas cascatas de Sever do Vouga e, arriscamo-nos a dizer, de todo o país. Se é amante de uma boa caminhada ao ar livre, deixe-se abraçar pela natureza selvagem destas paragens, desafie-se nos trilhos pedestres ou nas águas agitadas, descubra paisagens deslumbrantes, biodiversidade única e desfrute do seu tempo num cenário verde, castanho e dourado, refrescado pelo elemento que une toda a região de Aveiro: a água.
Cascata das Minas do Braçal
Já depois de passar pela cascata da Cabreia, as águas cristalinas precipitam-se, novamente, rocha abaixo, junto às antigas Minas do Braçal.
Dedicadas à extração de minérios ricos em zinco, prata e, principalmente, chumbo, estas minas foram a primeira concessão mineira atribuída em Portugal, em 1836. É a partir do complexo mineiro do qual estas minas fazem parte que o Rio Bom muda de nome. Isto porque, quando as minas estavam em laboração, os minérios eram expostos à força das águas e a corrente arrastava metais que poluíam o rio. Nessa época, “o rio não tinha vegetação nem vida a jusante das minas”, explica Bruno Costa, da Desafios – Desporto & Aventura. Daí terá surgido o nome antagónico: Rio Mau.
Depois de cessarem definitivamente a sua atividade, nos anos de 1960, as minas foram deixadas ao abandono e a natureza acabou por fazer das suas: o bosque invadiu os edifícios e reclamou-os para si; os musgos pintaram o complexo em tons de verde e nos antigos túneis e galerias mora, agora, uma importante população de morcegos.
Quanto ao rio, não se livrou do nome, mas as águas recuperaram a frescura e pureza e, hoje, servem de lar para variadíssimas espécies de plantas e animais. Um recanto enigmático que, não fosse a sumptuosidade da cascata, com o seu fragor e agitação, poderia muito bem ter parado no tempo.
Cascata da Fílveda
Com cerca de 40 metros de altura, a cascata do rio Fílveda, também conhecida por cascata da Frágua da Pena, é uma das mais imponentes do município de Sever do Vouga. Esta queda de água está integrada num vale que ainda conserva um bosque selvagem praticamente intocado. Só os pássaros e o relaxante som da água a cair furiosamente conseguem refrear o silêncio. Para alcançar esta cascata, os visitantes terão de percorrer um trilho estreito e irregular por cerca de 100 metros – o corrimão de apoio dá muito jeito e transmite segurança aos caminhantes – e, de seguida, descer os 70 degraus de uma escadaria de madeira que acompanha a queda de água, lado a lado, desde o topo até à base.
Merece uma visita sem presas, atenta e cuidada.
Cascatas do Gresso
O Gresso é um rio estreito, com pouco caudal, que nasce no cimo da serra do Arestal e vem desaguar ao Vouga, percorrendo pouco mais de sete quilómetros, mas com um desnível de mais de 700 metros. Não é de estranhar, portanto, que tenha muitas quedas de água. Todavia, há duas que, pela sua dimensão e beleza, merecem especial destaque: uma abaixo da localidade de Sanfins e outra a montante da ponte entre Sanfins e Mouta.
Por estas paragens, o terreno é tão acidentado que o acesso pedonal às cascatas foi, até há bem pouco tempo, um empreendimento só ao alcance dos mais audazes. No entanto, há cerca de um ano e meio, a construção de um novo passadiço veio revolucionar estes trilhos. Tem apenas um quilómetro e meio de extensão, mas facilita (e muito) a vida aos visitantes. O percurso acompanha o rio Gresso, levando à descoberta de um bosque sombrio, marcado pela presença de castanheiros, e que é habitat de ouriços, lontras, rãs, lagartos e salamandras.
Além de terem atraído muitos visitantes à zona, para Bruno, os passadiços “vieram potenciar e valorizar uma linha de água que estava algo esquecida”. Quando o projeto ficar concluído, “este trilho interpretativo ficará muito interessante”, antevê o guia.
Cascata do Poço da Grade
O Lordelo é um típico rio de montanha: nasce no alto da serra do Arestal, na freguesia de Junqueira, concelho de Vale de Cambra, e desce abruptamente até ao Vouga. Num primeiro troço, adota o nome Arões, freguesia de Vale de Cambra que atravessa, passando a designar-se Lordelo a jusante de uma pequena albufeira, já no município de Sever do Vouga.
É neste último troço que se localiza uma surpreendente cascata de média dimensão (cerca de doze metros de altura), cujo acesso se faz a partir do Poço da Vaca, ao qual se chega através de uma levada a partir da Estrada Nacional 227. Depois, basta subir cerca de 300 metros a pé junto ao leito do rio para atingir a queda de água. Bruno garante que “o caminho não é difícil para quem não se importe de molhar os pés”. Na base da cascata há uma grande piscina natural de águas tranquilas, que convida a um mergulho ou a um banho de sol num dos grandes penedos que a povoam.
Cascata da Agualva
Ainda no rio Lordelo, mas mais a jusante, esconde-se um dos tesouros mais bem guardados do património natural de Sever do Vouga: a cascata da Agualva. E, não vamos mentir, chegar-lhe não é tarefa fácil. Esta é, no entender de Bruno, a cascata “mais desafiante”: fica a cerca de 400 metros a montante da ponte sobre o Lordelo, entre Couto de Esteves e Lourizela; o acesso faz-se através do próprio rio e, aqui e ali, de pequenos caminhos pelas margens. Um esforço extra que, “no fim, tem a merecida recompensa”, não fosse esta a cascata preferida de Bruno Costa.
As águas do Lordelo são projetadas numa queda de mais de dez metros de altura entre grandes penedos escuros, formando um poço estreito no seu regaço. A floresta envolvente acolhe várias espécies de anfíbios, répteis, aves e insetos, algumas delas, bem raras.
Da cascata da Agualva para baixo, o leito do rio Lordelo é ideal para a prática de canyoning, uma atividade que alia a caminhada, a natação, a escalada e o rapel e leva à descoberta de recantos naturais de grande beleza, inacessíveis ao público em geral.
Cascata da Levada de Carrazedo
A levada de Carrazedo conduz água de um pequeno afluente da ribeira da Alombada para um regadio sobranceiro a esta ribeira, não muito longe da localidade de Carrazedo. O caminho junto à levada convida a um passeio pautado pelo som da água, nos dias quentes de verão. Junto a uma carreira de moinhos, uma queda de água origina uma pequena lagoa que fará as delícias dos mais novos. Esta é, por isso, a cascata de eleição para um passeio em família.
Na queda de água e nos rápidos, esteja atento: se tiver alguma sorte, poderá observar o esquivomelro-de-água, uma pequena ave que vive nos rios de montanha.
Cascata de Vale de Égua
A última cascata deste roteiro situa-se numa zona onde o rio Alfusqueiro estabelece a fronteira entre a freguesia de Talhadas, no concelho de Sever do Vouga, e a povoação de Vale de Égua, na União de Freguesias do Préstimo e Macieira de Alcoba, concelho de Águeda. Não há trilhos abertos ou caminhos pedestres para a alcançar. “O mais seguro, é seguir o rio”, assume Bruno Costa que tem visitado o local no âmbito das caminhadas aquáticas que a Desafios proporciona aos seus clientes.
Ao contrário das restantes quedas de água que destacamos, em que a paisagem é predominantemente verde, a cascata de Vale de Égua insere-se num ambiente rochoso, de calcário claro, marcado por um labirinto de crateras de grandes dimensões – as marmitas de gigante. Bruno compara o lugar a “um cenário lunar”.
As marmitas de gigante são fenómenos geológicos que se formam nas irregularidades dos leitos rochosos dos rios, nas quais a água cria um turbilhão de pedras, areias e sedimentos que, com o tempo, escava covas mais ou menos circulares. “Algumas devem ter uns bons milhares de anos. São das maiores que conheço. Cabem 15 pessoas no interior de algumas!”, conta o guia da Desafios.
Informação
As cascatas de Sever do Vouga oferecem as condições perfeitas para quem procura um retiro solitário, uma aventura com amigos ou um passeio em família. Ainda assim, alguns destes locais não estão devidamente sinalizados e continuam a ser de difícil acesso, principalmente, para quem não os conhece. Para um maior conforto e segurança, aconselha-se que os visitantes contactem a Desafios – Desporto & Aventura, para que os possa acompanhar nas expedições de descoberta destes trilhos.
Contactos
Desafios – Desporto & Aventura
Lugar da Estação – Ed. VougaPark
3740-070 Paradela, Sever do Vouga
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* Fotos de António Lau e Desafios – Desporto & Aventura