Construíram-nos nas margens dos rios, ribeiros e regatos; desviaram as águas para que embatessem furiosamente nos rodízios de madeira; os grãos que lhes dão a moer fazem as pesadas pedras giratórias ranger sincronizadamente e a farinha que de tudo isto resulta sussurra ao cair das mós. Durante séculos, o moinho foi um dos lugares centrais da vida das comunidades rurais e, em toda a Europa, não há terra que os tenha em tão grande quantidade como o município de Albergaria-a-Velha. Existirão mais de 350 moinhos no concelho!
Com vista à requalificação e proteção destas estruturas, o município de Albergaria-a-Velha, em parceria com associações e instituições locais, criou, em 2014, a Rota dos Moinhos, uma oferta turística que, atualmente, conta já com 11 núcleos (num total de 14 moinhos) espalhados por todas as freguesias. O projeto vai além da salvaguarda do património edificado e da atração de turistas, focando-se na preservação dos saberes, memórias, vivências e tradições dos antigos moleiros, bem como na afirmação da identidade de Albergaria-a-Velha como terra de água, moinhos e pão.
Moinhos do Regatinho
Falar de moinhos é, muitas vezes, falar de espírito comunitário, não só porque o moinho era um dos lugares centrais da vida das comunidades rurais, mas também porque vários dos moinhos que constituem esta Rota são (ou foram) propriedade de várias famílias de lavradores que se organizavam e revezavam para os utilizar com a maior regularidade possível. Exemplo disso são osMoinhos da Quingosta e do Silva, principal cartão de visita da aldeia de Vilarinho de São Roque, na freguesia de Ribeira de Fráguas.
Os Moinhos do Regatinho, como são conhecidos, são dois moinhos de rodízio, cada um com um casal de mós, bem conservados e localizados na zona mais antiga da aldeia, por onde correm as águas do rio Fílveda.É com a farinha de moagem artesanal destes moinhos que continuam a ser confecionados o pão, as padas, as regueifas e o pão doce, algumas das mais tradicionais iguarias da gastronomia daquele concelho.
Por estes moinhos passa também o Trilho do Linho, um percurso pedestre do Município de Albergaria-a-Velha dedicado ao antigo cultivo desta planta que teve grande importância para a economia familiar daquela aldeia até meados do último século.
Parque dos Moinhos
De Vilarinho de São Roque, o Fílveda desce para o centro da freguesia de Ribeira de Fráguas, passando, pelo caminho, pelos Moinhos da Quinta da Ribeira e de Baixo. Estes engenhos serviam para moer o milho e, mais esporadicamente, o trigo e o centeio com se fazia o pão. De acordo com alguns relatos, e tendo em consideração que, nas imediações destas unidades, cultivava-se vinha, acredita-se que estes moinhos serviriam ainda para moer as grainhas das uvas e os resíduos secos do bagaço, utilizados na alimentação dos porcos de criação doméstica.
Estes dois núcleos moageiros, cuja construção remonta ao século XIX, pertencem ao Rancho Folclórico da Ribeira de Fráguas, que os adquiriu, recuperou e os mantém cuidados e disponíveis para visitas.
Hoje em dia, os Moinhos da Quinta da Ribeira e o Moinho de Baixo estão integrados num agradável parque de lazer que acompanha as margens do rio Fílveda durante uma considerável extensão – o Parque dos Moinhos. Nos meses de maior calor, a frescura das águas e a sombra criada pela densa vegetação convidam a um piquenique. A pensar nisso mesmo, foi ali instalada uma larga zona de merendas equipada com mesas, bancos, churrasqueira, ponto de água e instalações sanitárias.
Moinhos da Freirôa
No auge da sua atividade, os Moinhos da Freirôa terão chegado a ter 14 casais de mós em atividade, o que faz deste complexo moageiro um dos maiores da região.
Este núcleo de antigos moinhos de água localiza-se num lugar recôndito nas profundezas do vale do Caima, rio que, desde tempos remotos, foi escolhido para a instalação destes engenhos. Terão sido perto de cinco dezenas de moinhos e mais de duas centenas de casais de mós distribuídos ao longo das margens do rio; estruturas que eram usadas não só por albergarienses, mas também por moleiros de concelhos vizinhos que ali chegavam pelo antigo Caminho dos Moleiros.
Na primeira década do século XXI, o complexo moageiro da Freirôa foi alvo de profundas intervenções de requalificação, que fizeram com que, mais tarde, fosse um dos núcleos fundadores da Rota dos Moinhos. Infelizmente, hoje em dia, os edifícios estão algo expostos ao abandono, foram vítimas de arrombamentos e vandalismo e encontram-se em mau estado de conservação.
O acesso aos Moinhos da Freirôa faz-se através de um caminho florestal estreito e bastante acidentado, com troços íngremes de pedra solta, que parte do Santuário de Nossa Senhora do Socorro e toma o antigo Caminho dos Moleiros em direção ao rio. Se se atrever a percorrer estes trilhos, é fundamental levar calçado adequado e, uma vez lá em baixo, não deixe de aproveitar um refrescante mergulho nas águas do Caima.
Moinho do Porto de Riba
Ao atravessar vagarosamente a localidade de Soutelo, freguesia da Branca, o rio Jardim passa pelo lugar de Porto de Riba e por um moinho de rodízio com dois casais de mós que ali foi construído, provavelmente, há mais de 200 anos. Uma das curiosidades associadas a este moinho é que, além de ter servido para a moagem do milho, era também usado para o descasque do arroz produzido nos campos do Baixo Vouga, utilizando-se para tal uma forra de cortiça entre as suas mós.
Em 2011, o Moinho do Porto de Riba foi doado à APPACDM – Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental – de Albergaria-a-Velha, que assumiu a responsabilidade da sua recuperação e dinamização. A zona onde o moinho está instalado dispõe de bons acessos, espaço para estacionamento, mesas, instalações sanitárias, uma arena e outros equipamentos associados à realização anual, naquele lugar, do Festival Talabrigae Ex Libris, uma recriação da presença romana no concelho e, especialmente, na freguesia da Branca.
Moinho do Chão do Ribeiro
Podemos dizer que as gentes de Mouquim, na União de Freguesias de Albergaria-a-Velha e Valmaior, conseguiram “levar a água ao seu moinho”, desviando ligeiramente o ribeiro da aldeia de forma a que as suas águas atravessassem a unidade de moagem ali instalada e que, mediante uma escala de horários, era praticamente de utilização comunitária.
Agora, integrado num parque de lazer com castanheiros frondosos, bem tratado e bem equipado, o Moinho do Chão do Ribeiro é propriedade da Junta de Freguesia. Ainda assim, continua ao dispor de quem quiser moer os seus cereais, mantendo viva a tradição e herança cultural daquela localidade.
Atafona do Sobreiro e Moinho de São Marcos de Baixo
A Atafona do Sobreiro, que data dos primeiros anos do século XIX, é um “moinho de sangue” (movido manualmente ou com recurso a animais), sendo o único engenho desta Rota que não se move por força da água.
Este aparelho encontra-se num compartimento térreo de uma antiga casa de lavoura, com piso de terra batida, e é considerado uma autêntica raridade a nível regional. Isto porque, apesar de ter estado parada durante mais de 50 anos, esta atafona encontra-se em excelente estado de conservação, com todo o sistema de transmissão em perfeito funcionamento e um grande nível de afinação.
O Moinho de São Marcos de Baixo, por sua vez, era uma das onze unidades molinológicas que existiam ao longo dos cinco quilómetros do Ribeiro de São Marcos. O moinho, que cessou a sua atividade na década de 1970, tinha, originalmente, três casais de mós; hoje, só resta um.
Moinhos da Cova do Fontão e do Ti Miguel
Ao longo dos tempos, várias gerações de moleiros habitaram e exerceram a sua atividade no Fontão, freguesia de Angeja, fazendo desta uma das mais importantes comunidades de moleiros de toda a região.
Quem descer o sinuoso trilho que conduz até ao fundo do vale de Azenhas do Fontão, encontrará o Moinho do Ti Miguel, propriedade de Joaquim Almeida, bisneto do próprio Ti Miguel (o antigo moleiro Miguel da Silva). É importante ressalvar que este moinho está integrado num terreno vedado e, por esse motivo, só é acessível a quem agendar uma visita.
A jusante desta unidade de moagem, na Cova do Fontão, há outro moinho que - garante quem o visita - continua a transpirar a autenticidade e grandeza do Sr. José, o mais antigo moleiro em atividade em todo o município de Albergaria-a-Velha, que ali exerce a sua atividade.
Ambos estes moinhos são acionados pela força da Ribeira de Fontão, um curso de água relativamente curto, mas no qual se conhecem mais de 20 moinhos, quase todos, de média dimensão.
Moinho do Maia
O Fial sempre foi terra de moinhos e moleiros e, atualmente, é mesmo o local do concelho de Albergaria com o maior número de moinhos em funcionamento. Um deles é o Moinho do Maia, anteriormente conhecido com Moinho do Tupinho, um engenho que chegou a ter três casais de mós, ainda que só um tenha chegado aos dias de hoje.
Além da importante componente turística e de preservação do património edificado - com a casa de moleiro que lhe é adjacente e o seu pitoresco forno -, neste moinho celebram-se as tradicionais técnicas de construção de moinhos em madeira, bem como os ancestrais saberes de picar e afinar as mós para que possam exercer convenientemente a sua função.
Como chegar?
Como ponto de partida, poderá considerar a praça D. Teresa, junto à Biblioteca Municipal de Albergaria-a-Velha. Tenha em atenção o painel informativo da Rota dos Moinhos que se encontra nesta praça, bem como o mapa com a localização dos moinhos deste roteiro.
Contactos (para marcação de visitas):
Gabinete de Turismo - Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha
Praça Comendador Ferreira Tavares
3850-053 Albergaria-a-Velha
turismo@cm-albergaria.pt
234529300
*Fotos de Afonso Ré Lau e Município de Albergaria-a-Velha