José Nuno Amaro*
Quando falamos de mobilidade atualmente é difícil não falar da bicicleta. Mas será que é só um mero cliché ou estamos perante uma mudança efetiva de comportamentos e atitudes?
A pandemia só veio acelerar uma mudança visível em todo o mundo. Em Portugal, o processo é mais lento para o uso da bicicleta. É necessário existir uma maior sensibilidade dos municípios portugueses tanto na alteração drástica quanto na construção de vias, eco e ciclo, de forma a promover o uso de bicicletas, trotinetas e outros meios cicláveis sem motores de combustão.
Lisboa é o caso mais visível, pois aumentou o número de ciclovias e estima-se que até 2021 sejam 200 km espalhados por toda a cidade. Neste momento, foram criadas ciclovias Pop Up, destinadas ao escoamento de circulação durante a época pandémica e que serão reavaliadas, aumentando ou diminuindo logo em seguida.
Mas não é só em Lisboa que sentimos essa alteração. Só de março até fim de junho foram mais de 20 os municípios que começaram a trabalhar em soluções de mobilidade ciclável, disponibilizando para a população equipamentos para ancorar mais de mil bicicletas.
Exemplo idêntico é dado pela indústria portuguesa dedicada ao fabrico de bicicletas, sendo o segundo maior produtor em toda a Europa e que não tem neste momento mãos para responder às encomendas que chegam de todo o mundo. No entanto, este será um ano que irá criar uma situação desoladora, após o setor ter fechado 2019 com um recorde de exportações de 402 milhões de euros, mais 74 milhões do que no ano anterior, o que corresponde a cerca de dois milhões de unidades.
A bicicleta é uma solução que veio para ficar, mas é certo que as cidades e a populações não estão ainda totalmente preparadas. Este modo de transporte é urgente para a melhoria da vida das pessoas e para o aumento da qualidade de vida nos centros urbanos. Basta ver os dados relativos à diminuição dos valores de CO2, com os movimentos de acesso às grandes cidades caindo em 64% e as viagens de longo curso, em quase 62%, o que motivou uma diminuição da poluição, em termos gerais, de cerca de 83%.
Não podemos só viver de inspiração alheia, olhando para o que se faz lá por fora. Já temos vários exemplos nascidos e criados em Portugal e que podem ser replicados pela validade dos conceitos, mesmo que, segundo um estudo recente, 50% da nossa população não sabe ainda andar de bicicleta e 70% não são utilizadores da mesma.
* Responsável pela Nuno Zamaro Indústrias