Foi através de um programa televisivo que, já por volta dos 25 anos, conseguiu descobrir a sua verdadeira vocação. Do outro lado do ecrã estava o chef Henrique Sá Pessoa, a quem Ricardo Marques deve o seu despertar para as artes da cozinha. Nascido na Venezuela há 38 anos, mas com as suas raízes em Ílhavo, o atual sub chefe do restaurante do Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel confessa-se um apaixonado por aquilo que faz. Ainda chegou a ingressar e a frequentar o curso superior de engenharia civil, mas é de volta dos tachos que encontra a sua realização pessoal e profissional.
Acredita que herdou o jeito do pai, especialista em cozinha italiana. “Apesar de nunca ter sido cozinheiro profissional, o meu pai chegou a ir para Itália tirar um curso durante um mês”, enaltece Ricardo. Foi também o pai, apoiado pela mãe, quem lhe deu todo o apoio no dia em que decidiu mudar o rumo da sua vida. “Fui impulsionado a seguir em frente e a agarrar o meu sonho”, lembra.
Depois de entrar em contacto com Henrique Sá Pessoa, e de este lhe ter sugerido a possibilidade de ir tirar um curso de cozinha, Ricardo Marques fez as malas e rumou a Inglaterra. Foi estudar para a escola Le Cordon Bleu de Londres, acabando por prolongar a estadia em terras de sua majestade para além dos nove meses de curso. “Fiquei lá um ano e meio e tive a oportunidade de trabalhar no restaurante 1 Lombard Street, onde tive o primeiro contacto com a cozinha profissional”, recorda.
Quando regressou a Portugal, carregado de “saudades do sol e da família”, foi somando experiências em restaurantes de renome. Passou pelo antigo Aquapura, em Lamego – atual Six Senses Douro Valley -, pelo Hotel Rural Vale do Rio, em Oliveira de Azeméis, e pelo Bessa Hotel, no Porto. De 2013 a 2017, esteve no Salpoente, em Aveiro, mudando-se, de seguida, para o Montebelo. “É um orgulho poder trabalhar na minha terra”, realça.
Uma homenagem ao avô bacalhoeiro
Por estes dias, Ricardo Marques vive dias de maior azáfama por conta do Festival Gastronomia de Bordo, ao qual está intimamente ligado. Não só pela colaboração que presta à organização do evento, mas também por conta das suas próprias raízes. “O meu avô andou na pesca do bacalhau, era maquinista, e através deste festival sinto que estou, de alguma forma, a prestar-lhe homenagem”, testemunha.
A esta questão sentimental, o cozinheiro ilhavense soma o gosto que tem em trabalhar com o “fiel amigo”. “Gosto de fazer pratos como o bacalhau à Brás e a tradicional Feijoada de Samos”, declara, sem esconder que também sente prazer em criar novas receitas.
Ricardo Marques alimenta o sonho de um dia poder ter um restaurante próprio, de preferência na sua terra. Sabe que não é fácil, “o mercado é pequeno”, mas o sonho está lá. Mais do que a ambição das estrelas Michelin. “Não me atrai, é muita pressão, um tipo de trabalho que não me agrada”, declara.
Entre as suas principais referências estão nomes como os de Vítor Sobral, Nuno Diniz, Henrique Sá Pessoa e José Avillez.