António Granjeia*
Em maio do ano passado e a propósito da adjudicação do programa de Transposição de Sedimentos para Otimização do Equilíbrio Hidrodinâmico na Ria de Aveiro lançado pelo governo, escrevi e publiquei no Jornal da Bairrada um parágrafo (integrado numa crónica) que aqui transcrevo:
“Daqui para a frente, a batalhapassa por adquirir por direito próprio a gestão dos recursos da Riae a manutençãodo que agora se vai fazer. Para a população de todo este vasto território que interage com a laguna de Aveiro e suas componentes aquáticas, esta é, sem dúvida, outra época de esperança e de sonho. Claro que só poderemos cantar vitória no fim de 2019, quando verificarmos se as obras foram executadas. Mas falta avaliar se problemas importantes como a defesa da costa e das margens foi eficaz, ajustar a contínua dragagem da ria, a recuperação da Pateira de Fermentelos (de que apenas foram feitos os projetos) e se a integração funcional das atividades de lazer e piscícola foi ou não cumprida.”
É verdade, o chamado desassoreamento da Ria de Aveiro, apesar de atrasado, vai finalmente começar. Duas décadas depois da última dragagem de monta, parece que é desta. Mas devemos, nesta fase, olhar e discutir o presente, esse mesmo presente que foi o futuro anunciado de 2009 e apenas concretizado em 2018, como é infelizmente sina dos projetos portugueses.
Por isso, é com bons olhos que vejo aparecerem movimentos oriundos da sociedade civil, que se propõem ser os “controllers” das operações. O MARIA, acrónimo para movimento de amigos da Ria é um deles, aglutinando associações profissionais, clubes desportivos e pessoas singulares em torno da defesa de um bem comum. Mais do que ser um movimento atento ao desenrolar do projetado, é necessário que consiga congregar vontades, estimular a “discussão, a reflexão e a construção colaborativa de processos de desenvolvimento e defesa da Ria de Aveiro”, envolvendo a sociedade civil nessa discussão fundamental para o nosso futuro próximo.
Tenho muitas vezes afirmado que é preciso cuidar da nossa Ria, sob pena de, a longo prazo, esta poder voltar a ser um charco incapaz de atrair atividade económica e gente. Infelizmente, no passado, isso já aconteceu e foi fixando a Barra de Aveiro que conseguimos alavancar o potencial de toda esta zona. Hoje, a nossa nova “barra” é a preservação deste ecossistema para as gerações vindouras, a capacidade de discutir muitas das ideias já feitas e erradas que nos impõem, exigir uma gestão própria desses recursos pelas entidades locais que elegemos e não por capatazes centralistas defensores apenas das suas quintas e, por fim, obrigar o Porto de Aveiro a fazer bem mais pela preservação de um recurso que usa e por vezes abusa.
* Colaborador