José Carlos Mota *
1. A conversa que o “Vizinhos de Aveiro” promoveu na noite do passado dia 28 de setembro sobre os resultados eleitorais de Aveiro foi muito interessante e revela uma maturidade democrática assinalável. Estiveram presentes os oitos candidatos, mesmo os que saíram derrotados, numa conversa aberta e franca, o que deve ser enaltecido.
Os dois comentadores convidados, Filipe Teles e Pompílio Souto, ofereceram-nos uma leitura útil e relevante para compreender os resultados e para perspetivar o futuro.
2. Retive quatro mensagens fortes. Primeiro, que as agendas que os partidos apresentaram aos cidadãos não corresponderam ao que eles desejam ou que os preocupa verdadeiramente. Há efeitos bolha (por exemplo o que ocorre em circuitos fechados, como o das redes sociais virtuais) que ampliam determinadas questões e que lhes conferem um peso e importância exagerada, podendo dar uma ideia errada do que são as verdadeiras preferências dos cidadãos.
Segundo, que a abstenção eleitoral mostra um descontentamento com o sistema político partidário o que não significa que os cidadãos não se interessem com a sua vida coletiva. Porventura, poderão estar mais disponíveis para outras formas de participação, nomeadamente cívica.
Terceiro, e quanto ao futuro, será necessário atender melhor às preocupações dos cidadãos que não têm voz.
Sobretudo os que sentem que os seus problemas não possuem a centralidade necessária na agenda política e mediática (os idosos, os jovens, os estudantes, as famílias, os migrantes, as pessoas com condição económica e social mais frágil) e essa agenda tem de ser disputada ao longo do mandato (por quem governa e pelas oposições) e não no período eleitoral.
Quarto, houve apelos a um estilo de governação. Um modelo mais aberto, de procura de consensos e de mobilização dos vários atores públicos, privados e da sociedade civil organizada, com visão estratégica e assertividade nas apostas.
Quem quiser ouvir a conversa pode fazê-lo aqui: https://www.facebook.com/vizinhosdeaveiro/videos/193425886161645/
(*1) A iniciativa "No pós-Autárquicas 21" retoma a "Agenda Cidadã 2030" identificando os desafios que se colocam aos cidadãos e às entidades capazes das respostas necessárias à melhoria sustentada da nossa vida coletiva;
(*) José Carlos Mota é professor na Universidade de Aveiro e membro da PLATAFORMAcidades - grupo de reflexão cívica.