Quatro biólogas da Universidade de Aveiro integram a equipa internacional que acaba de dar “um grande passo na exploração do mar profundo”. Esta equipa de investigadores conseguiu recolher amostras e filmar um dos últimos ambientes verdadeiramente remotos e inacessíveis da Terra, bem abaixo da camada de gelo permanente no Oceano Ártico. De acordo com a academia aveirense, esta “é a primeira vez que fontes hidrotermais, também conhecidas como vulcões submarinos, foram investigadas com sucesso tão a Norte”.
Numa altura em que, com o recuo da cobertura do gelo no Ártico, se prevê o início da atividade comercial naquelas águas, esta investigação internacional adianta-se, fornecendo uma linha base de informações. As rochas, fluidos, sedimentos e fauna que as equipas este projeto têm vindo a colher, permitirão o desenvolvimento de uma série de estudos de forma a compreender melhor o funcionamento do oceano Ártico profundo. A análise das amostras permitirá avaliar se a fauna evoluiu de forma isolada no Oceano Ártico ou se está ligada a outras bacias oceânicas. Além disso, os dados obtidos darão uma imagem sobre quando se formou a vida na Terra, e despertarão também um grande interesse na exploração do espaço e na procura de vida extraterrestre no nosso sistema solar.
"Esta expedição mostrou que é possível explorar grandes profundidades de baixo de gelo e abre as portas para futuras missões utilizando veículos subaquáticos", aponta Ana Hilário, bióloga marinha e coordenadora da equipa do CESAM – Centro de Estudo do Ambiente e do Mar – da UA, de regresso da primeira expedição ao Ártico deste projeto internacional.
"Em termos científicos esperamos resolver uma série de questões que foram identificadas há já vários anos, mas que por questões técnicas e/ou tecnológicas não tem sido possível responder", aponta. Por exemplo, "umas das grandes questões ecológicas em torno das fontes hidrotermais é se a fauna associada a estes sistemas no oceano Ártico é única, ou se pelo contrário é semelhante à que existe mais a sul, na crista meso-Atlântica, ou até à de regiões do Oceano Pacífico". Para além da resposta a estas questões, "os nossos dados vão fornecer conhecimento de base sobre esta região, que talvez seja das menos impactadas por atividades humanas, algo que que provavelmente vai mudar devido à diminuição da cobertura de gelo".
Na equipa do CESAM, para além de Ana Hilário, estiveram também no Ártico as investigadoras Sofia Ramalho e Lissette Victorero e a aluna de mestrado Carolina Costa.