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Luana Doce: “Que, um dia, deixe de ser futebol feminino e passe a ser só futebol”

Atletas

Chama-se Luana Oliveira Doce, cresceu entre Esmoriz, onde reside, e Santa Maria da Feira, onde estuda, e, atualmente, joga no Valadares Gaia Futebol Clube. Aos 16 anos, é ainda presença assídua nas Seleções Nacionais, com quem sonha, um dia, vencer um troféu internacional.

O futebol aparece na vida de Luana por volta dos cinco anos. “O meu pai, como via que eu gostava muito de desporto, falou com uma treinadora do Esmoriz para que eu pudesse ir experimentar a modalidade. Acontece que, nessa mesma semana, ao ver-me brincar com uma amiga que jogava futebol, o pai dela convenceu o meu a levar-me a um treino dela. Gostei tanto que já nem cheguei a ir ao treino de voleibol”, resume Luana.

Mais de uma década depois, a frequentar o 11.º ano do curso de Ciências e Tecnologias, na Escola Secundária de Santa Maria da Feira, Luana continua a conciliar os estudos com o futebol, uma tarefa particularmente exigente desde que, em 2018, se mudou do Sporting Clube de Esmoriz para o Valadares. Num contexto como este, o apoio da família é essencial. “Eles têm sido um suporte incrível. Vão ver os meus jogos e vibram como se também estivessem a jogar. Achava impossível alguém se entusiasmar mais do que eu , mas eles conseguem fazê-lo”, constata, agradecida. O pai – João Doce, segundo a filha, “um apaixonado por futebol” – acompanha-a dedicadamente desde o princípio. “O meu pai leva-me três a quatro vezes por semana a Valadares, fica lá duas horas à espera que o treino acabe e depois traz-me para casa. Investe muito do seu tempo para que o meu sonho seja possível, para que possa usufruir desta oportunidade”, relata, acrescentando “não são todos os pais que se dispõem a isto”.

No final de 2019, depois de um frente-a-frente entre a Seleção Distrital do Porto que, já na altura, Luana integrava, e o seu clube – o Valadares – a jovem feirense recebeu uma notícia que haveria de mudar o seu percurso. “Disseram-me que tinha sido convocada para o estágio da Seleção Nacional e eu, naquele momento, nem tive reação. Só sorri. Depois contei ao meu pai e ele ficou eufórico”, recorda.

Luana estreou-se pela Seleção Nacional Sub-15 Feminina no dia 14 de janeiro de 2020, numa partida contra o País de Gales que a equipa das quinas venceu por três bolas a zero. Foi o primeiro jogo internacional da jovem feirense que, naquele momento, se juntava a Leonor Alves e Íris Esgueirão no lote das futebolistas aveirenses a representar as cores nacionais. Como se isso não bastasse, logo no primeiro jogo, Luana foi escolhida para integrar o onze titular. “Estava nervosa, mas queria tanto aquilo... Quando é assim, esquecemos qualquer cansaço e tentamos sempre dar o nosso melhor”, garante.

Por conta da pandemia, Luana não voltaria a ter hipóteses de representar Seleção Nacional Sub-15 Feminina, mas, em setembro e outubro deste ano, com o retomar das competições, cumpriria novas internacionalizações, desta vez, com as Sub-17, em jogos frente à Irlanda e à Eslováquia.

Nos próximos dias 8, 11 e 14 de novembro, no Algarve, a Seleção Nacional Sub-17 Feminina jogará a primeira ronda de qualificação para o Campeonato da Europa de 2022. Do grupo de Portugal fazem parte as seleções da Finlândia, da Alemanha – a campeã em título – e da Bósnia-Herzegovina – automaticamente apurada para a fase final por ser a anfitriã do torneio – pelo que se antecipam grandes partidas de futebol.

Luana Doce foi uma das vinte jogadoras escolhidas pela selecionadora Marisa Gomes para esta campanha. “A convocatória foi divulgada por volta das dez da noite e, talvez por estar cansada, não assimilei bem o que estava a acontecer, acho que demorei a acreditar. Mas, no dia seguinte, até acordei mais cedo! Às cinco da manhã já estava de pé, cheia de entusiasmo. É uma grande felicidade poder representar Portugal”, contava a jovem feirense, em conversa com a Aveiro Mag, no rescaldo da convocatória. No entanto, para infelicidade de Luana, nos últimos dias, já depois de se ter juntado ao estágio final da equipa das quinas na Cidade do Futebol antes dos jogos de apuramento para o Euro 2022, a jovem sofreu uma lesão que acabaria por ditar a sua dispensa.

Uma baixa de peso nos relvados, mas um apoio extra fora das quatro linhas. “Quero sempre dar o meu melhor e que a equipa esteja no seu melhor. Jogue ou não jogue, esteja em campo, no banco ou na bancada quero sempre que a equipa sinta o meu apoio”, reitera.

Luana é uma jogadora pragmática, determinada, aguerrida e sempre ávida de vitórias. “Mesmo que estejamos a jogar contra o Barcelona, quero sempre ganhar; mesmo que estejamos a perder por três a zero, quero sempre dar a volta ao resultado”. A este espírito lutador e inquieto, a médio-centro do Valadares junta “uma boa visão de jogo”, qualidade no passe e a “inteligência” de saber interpretar as várias fases de uma partida, impondo a calma nos momentos que exigem maior ponderação ou levantando os ânimos quando a equipa precisa de uma injeção de energia. As bolas aéreas e a capacidade para, durante o jogo, se desenvencilhar do adversário, ganhando espaço para rematar são, por outro lado, dois dos aspetos que Luana reconhece ainda ter de melhorar.

No Valadares, Luana treina três a quatro vezes por semana, mas a jovem jogadora faz questão de complementar essa rotina com sessões de ginásio, em casa, para garantir a melhor preparação física possível. Quando se encontra em estágio com a Seleção, o ritmo intensifica-se e os treinos passam a uma cadência bidiária, um de manhã, outro à tarde. Para otimizar o seu rendimento, esforça-se também por seguir uma alimentação cuidada e por garantir o repouso necessário. Esta disciplina faz com que, não raras vezes, tenha de sacrificar momentos próprios da vida de uma jovem da sua idade, como sair à noite com os amigos, mas Luana não tem dúvidas: “Tudo vai compensar. Até pode vir a ser noutra profissão, mas estou certa de que a minha dedicação fará sempre a diferença”.

Quando se lhe pergunta a sua maior referência no mundo do futebol, a resposta é tão imediata quanto evidente: Cristiano Ronaldo. Apesar de não ter memórias da primeira passagem de CR7 pelo Manchester United, Luana viveu entusiasticamente a fase em que o português brilhou pelo Real Madrid, bem como os títulos que ajudou a Seleção Nacional a conquistar. Mas esta admiração vai além do colosso que Ronaldo é dentro de campo. Luana revê-se na dedicação com que o madeirense se entrega à sua preparação física e a manifesta ambição de ser sempre melhor. “Há quem diga que o Ronaldo marca por sorte, porque as bolas lhe aparecem à frente e ele só tem de encostar para dentro. Mas quantas horas é que ele teve de treinar no duro para conseguir ter a agilidade de se posicionar daquela forma, de se elevar daquela forma para cabecear uma bola, de chutar com o pé que tem mais à mão sem comprometer a eficácia do remate?”

Apesar de, esta época, Luana jogar com o número 8, confessa uma estima especial pelo 18, o número utilizado por Kika Nazareth – internacional portuguesa que alinha pelo SL Benfica – e Bruno Fernandes. No entender da jovem, o médio do Manchester United, “tem qualidades que qualquer jogador ou jogadora desejaria ter”. “ é um jogador muito inteligente. Chegar a um clube da dimensão do Manchester United a meio de uma época e fazer o que ele fez, não é para todos. E isto depois de ter andado com o Sporting às costas. de revolucionar um plantel inteiro não só pela sua técnica e qualidade, mas, essencialmente, pela mentalidade que tem”, explica Luana.

Em 2019, Jéssica Silva, outra internacional lusa que Luana admira, dizia que, por comparação ao universo masculino, “uma rapariga tem de querer muito mais ser jogadora de futebol” e a jovem feirense não podia estar mais de acordo. “Vamos sempre encontrar mais dificuldades, desde logo, no acesso à modalidade , e vamos sempre ouvir bocas que um rapaz nunca ouviria”.

Luana Doce anseia pelo dia em “que deixe de ser futebol feminino e passe a ser só futebol” e “que uma rapariga consiga assumir que quer isto para a sua vida sem receio de entraves ou preconceitos”. A futebolista lamenta que algumas raparigas cheguem a “desistir de jogar futebol pela saturação de comentários sobre o facto de serem mulheres num jogo que a sociedade acha que é só para homens”. “É preciso ter uma mente muito forte para se ser jogadora de futebol. Às vezes tens de trabalhar o dobro para conseguir metade e isso obriga a ter uma grande força de querer”, concretiza.

Reconhecendo que “a diferença de há cinco anos para cá é enorme”, a verdade é que ainda há um longo caminho a percorrer no que diz respeito à afirmação do futebol feminino em Portugal e à garantia de condições de igualdade e justiça. Há, todavia, “passos simples” que fariam toda a diferença. “Para a minha geração e para as que venham depois de mim, seria muito importante, por exemplo, que o FC Porto passasse a ter futebol feminino. Para a zona Norte, então, seria fundamental. Teríamos uma Liga BPI mais forte, uma segunda divisão mais forte e camadas jovens mais fortes”, diz Luana. Outra das estratégias, na opinião da jovem jogadora, deve passar por uma maior aposta na divulgação e na promoção do futebol feminino.

Eusébio, Futre, Figo, Cristiano Ronaldo, mas também Ricardinho, no futsal, ou Madjer, no futebol de praia: no que toca a grandes craques do futebol, Portugal não se pode queixar. E Luana acredita que, a médio-longo prazo, o país vai finalmente ter condições para ajudar a formar uma grande jogadora de nível internacional. “As seleções têm evoluído imenso de ano para ano. Acredito que daqui a alguns anos vamos estar noutro patamar” e “que muitas vão sair excelentes jogadoras. Vai sempre depender da seriedade e do empenho com que encarem o futebol, mas qualidade e potencial elas têm”.

Quanto a si, e mesmo sem um plano estabelecido a longo prazo, Luana não esconde a ambição de se tornar futebolista profissional. Têm surgido algumas oportunidades e propostas, mas, por ora, “o foco está no presente e o presente é o Valadares”, assegura, admitindo que “gostava de, um dia, jogar a fase final da Champions , mas acima de tudo, quero ganhar um título por Portugal”. “Daqui a 10 anos, gostava de voltar a conversar com a Aveiro Mag agarrada a um troféu vencido pela Seleção Nacional”, ressalva.

Fica agendado.

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