As casas com riscas coloridas da Costa Nova são um dos postais de Ílhavo. Mas, agora, o concelho é também conhecido por ser o território onde está instalado o maior número de casas passivas do país, que se apresentam no mercado como os edifícios que melhor fazem à nossa saúde. São três, mais concretamente.
Entre a ria e o mar, já existe um escritório, uma casa de habitação e um alojamento local Passive House (ou PassivHaus, denominação alemã muitas vezes utilizada). Aparentemente, custam o mesmo a construir, ou até menos, do que uma casa normal e prometem dizer adeus às alergias e às infecções respiratórias.
A eficiência energética, o conforto térmico (com temperaturas mínimas de 20 graus e máximas de 25) e a qualidade do ar no interior dos edifícios são as principais marcas das “casas passivas”. Além disso, gastam menos 75 a 90 por cento de energia do que um edifício convencional. Dizem os especialistas que isso é conseguido apenas com um trabalho bem feito, por parte dos técnicos que constroem as habitações, seja a nível de caixilharias, do isolamento ou do sistema de ventilação, por exemplo. E, por isso, já há equipas especializadas no país, com “selo” PassivHaus.
O certo é que, no final, esses edifícios prometem ser livres de fungos e de frio. Confortáveis e saudáveis. “A realidade do parque edificado em Portugal releva que não temos casas preparadas para o frio, que a qualidade do ar no interior dos edifícios é preocupante, que a exposição ao ruído é muito elevada e que há uma elevada exposição a bolores nas casas portuguesas”, explica João Marcelino, presidente da Associação PassivHaus Portugal.
Na verdade, é precisamente, o ar que se respira nos edifícios um dos fatores que está a contribuir para que a nossa saúde esteja a deteriorar-se, como se constata no mais recente relatório do Observatório Nacional das Doenças respiratórias, divulgado em dezembro. “De referir, também, que há cada vez mais evidências de que mesmo a exposição a pequenas concentrações de poluentes é perigosa e que, por exemplo, a deficiente ventilação em infantários aumenta a percentagem de crianças com pieira ou asma”, sublinha a associação. Já um estudo recente da Universidade de Harvard, revelou que o desempenho de quem ocupa ambientes de trabalho otimizados aumenta para o dobro, em comparação com um escritório convencional.
Com três edifícios Passive House, Ílhavo é, atualmente, uma montra do conceito, que está a dar os primeiros passos em território nacional, com cinco edifícios já concluídos – ainda muito atrás de países como Espanha. Até já há lista de espera para conhecer o escritório da Homegrid, uma empresa de consultoria em engenharia, no centro da cidade, que foi o primeiro reconstruído, em Portugal, segundo as normas PassiveHaus. Além desse, existe, construída de raíz, a primeira casa PassiveHaus do país, propriedade de João Marcelino. E há, também, a Cestaria, um alojamento local na praia da Costa Nova, com vista para a ria de Aveiro.
Para já, Passive House trata-se apenas de um conceito internacional, mas os responsáveis pelo mesmo estão a bater-se pela certificação. Por cá, há cerca de meia centena de projetos para novos edifícios. E existe trabalho a ser feito para que os Açores sejam a primeira região Passive House de Portugal. É lá, aliás, que está o primeiro edifício público português do género, o Laboratório Regional de Engenharia Civil.