Já os vimos pelas praias da região a apanhar beatas, a caminhar ao longo dos novíssimos passadiços de Esgueira para recolher lixo ou, pura e simplesmente, a promover palestras nas escolas para passar a mensagem: é preciso respeitar e cuidar do meio ambiente.
O movimento cívico “Não Lixes” recusa-se a cruzar os braços nessa batalha em prol de um “mundo melhor”. Uma “guerra” para a qual estamos todos convocados e cujo desfecho (feliz, espera-se) depende de pequenos gestos.
Importa mudar comportamentos, alguns deles relativamente básicos, conforme destaca Fernando Jorge Paiva, mentor do “Não Lixes”, tendo em vista uma redução drástica do lixo que produzimos. Em especial os resíduos de plástico. “O plástico foi uma grande invenção para o homem moderno, é necessário, mas este plástico descartável não. Está a tornar-se tóxico e está a envenenar os oceanos”, adverte Fernando Jorge Paiva.
“Se as pessoas fizerem as suas compras de forma mais consciente reduzem muito a quantidade de lixo de plástico que produzem”, começa por referir o mentor do “Não Lixes”. Em causa estão coisas tão simples como comprar a manteiga embalada em papel, usar sacos reutilizáveis para comprar as frutas e legumes, ou usar um pírex para comprar comida notake-away.
“Temos de andar para trás. Se não andarmos, não temos futuro”, adverte Fernando Jorge Paiva, aludindo a um passado não tão longínquo assim, em que as bebidas eram vendidas em garrafas de vidro (com tara recuperável) e o pão em sacos de pano. Em suma, a palavra de ordem passa por “evitar, ao máximo, as embalagens descartáveis”.
A União Europeia já anunciou a proibição, a partir de 2021, de alguns plásticos de utilização única - como cotonetes, palhinhas e talheres de plástico - para reduzir a poluição marítima. O ideal seria não ter de esperar pela proibição, tanto mais porque o relógio já está a contar: em 2050, pode haver mais plásticos do que peixes no mar.
Ainda que tenha arrancado em Coimbra – com a retirada de carros de compras do Mondego – e estenda a sua área de abrangência a toda a região Centro, o movimento “Não Lixes” está intimamente ligado a Aveiro. Começando, desde logo, pelo facto de o seu mentor ser aveirense.
Fernando Jorge Paiva é surfista e, há algum tempo, optou por um estilo de vida minimalista. “Deixei de ter tanta roupa, já não sigo modas, deixei de gastar dinheiro com o consumo desnecessário”, exemplifica. Sabe que nem toda a gente consegue viver desta forma e a sua luta também não passa por aí. “O que eu não acho concebível é cada português produzir 1,5 quilos de lixo por dia”, critica. “Nós fazemos lixo desnecessário, os nossos aterros já não têm capacidade, há lixo que vai parar aos cursos de água e, consequentemente, aos oceanos”, acrescenta.
Outro dos inimigos do meio ambiente que tem merecido especial atenção por parte dos voluntários do “Não Lixes” reside nas beatas de cigarro. As estatísticas indicam que, por minutos, são atiradas para o chão 7.000 beatas, com todos os riscos e ameaças que daí advêm.
Bastava que cada fumador guardasse as suas beatas num cinzeiro ou caixa, reencaminhando-as, posteriormente, para tratamento. “Existem, hoje em dia, cinzeiros coletivos para depositar as beatas. Elas são depois encaminhadas para locais de tratamento e até podem servir para produzirpellets, para salamandras”, aconselha o mentor do “Não Lixes”.
Caminhar enquanto se apanha lixo
O movimento ambientalista tem vindo a desafiar os cidadãos a participar nas suas atividades e eles têm dito “presente”. Uma das iniciativas realizadas prendeu-se com uma caminhada para apanhar lixo.
Na verdade, esta prática já é considerada uma modalidade – chama-seplogging– e vai ganhando cada vez mais adeptos. “Enquanto caminhamos, fazemos agachamentos e também deixamos o local por onde passamos limpo”, testemunha Fernando Jorge Paiva.
A experiência que tem vivido nas caminhadas que vai fazendo na praia da Barra, em Ílhavo, motiva o reparo: “não deixa de ser curiosa a quantidade de embalagens descartáveis de produtos energéticos de desportistas que eu encontro ao longo do percurso”. “Não percebo como é que se tem esta preferência pelo desporto ao ar livre e depois se manda lixo para o chão”, remata.