Separados por poucos quilómetros, mas unidos pelo mesmo espírito de folia. Estarreja, Ovar e Mealhada, são líderes no que toca aos festejos carnavalescos, apostando em desfiles e programas que estão entre o que de melhor se vai fazendo em Portugal.
A Aveiro Mag quis saber qual deles é o melhor – o que tem mais ritmo, alegria e cor. Para isso, foi pedir a ajuda de quem os conhece bem e é, simultaneamente, um profissional da isenção. Três jornalistas, um de cada terra, que, note-se bem, acabaram por confessar, de imediato, um “conflito de interesses” em relação a esta matéria. É que eles são (ou já foram) parte integrante da festa e não hesitam em surgir em defesa do “seu” Carnaval.
No que toca à folia, os jornalistas Carla Correia, de Estarreja, Luís Ventura, de Ovar, e Mónica Sofia Lopes, da Mealhada, deixam a “imparcialidade” de lado. Porque a época é de festa e eles gostam de fazer parte dela.
Rendida à sua “escola de samba”
Jornalista há 21 anos, Carla Correia é a voz da informação da Rádio Voz da Ria. Ainda chegou a colaborar com alguns jornais, mas a sua verdadeira “paixão” é a rádio. A par com o Carnaval, admite. Começou como espetadora (sempre fantasiada), até ao ano em que lhe fizeram o convite “para ir num carro alegórico da escola de samba ‘Os Carecas’, a primeira escola de samba de Estarreja”.
“Depois disso, ainda fiz parte do primeiro grupo feminino do Carnaval de Estarreja, ‘As Marias Quentes e Boas’, mas acabei por nunca desfilar com o grupo. As noites eram complicadíssimas e a bem da verdade adormeci nos dias dos corsos”, testemunha Carla Correia.
A sua verdadeira paixão pelo Carnaval “surge, em 1996, através da Escola de Samba Vai Quem Quer”, à qual ainda se mantém ligada. “O meu primeiro desfile acontece em 1997, na bateria, a tocar tamborim”, lembra. Também passou “pela comissão de frente, figurante de carro, figurante numa ala livre e apoio da escola”. Atualmente, é “sócia honorária e apoiante de bancada”, mas o seu amor pela escola não esmorece e sempre que é chamada a dar uma ajuda diz presente.
Carla Correia elege o Carnaval de Estarreja como “o melhor do mundo” porque é o seu”. É aquele carnaval onde eu tenho as minhas amizades. É aquele carnaval onde eu me divirto. Onde eu torço pela vitória da minha escola de samba. Onde eu me fantasio à noite com as amigas há muitos, muitos anos (temos um grupo noturno que são as ‘Toninhas’) e esqueço, por momentos, os problemas”, relata.
Filha de “peixe” sabe sambar
A ligação de Mónica Sofia Lopes ao Carnaval era inevitável. “Os meus pais foram fundadores, há 40 anos, da primeira escola de samba do Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada: os Sócios da Mangueira. O meu pai, com 61 anos, ainda desfila pela escola”, relata a diretora do site Bairrada Informação.
Também ela viria a desfilar pelos Sócios da Mangueira durante vários anos, “até abdicar , muito pelo jornalismo”. “De uma forma natural, passei da avenida para a bancada, não faltando a um único evento e trocando, assim, o samba pela reportagem”, conta a jornalista que é também correspondente do Diário de Coimbra, nos concelhos de Anadia e Mealhada.
Mas mesmo estando do lado de fora, Mónica Lopes levanta a bandeira: o Carnaval da Mealhada é o “melhor”, acima de tudo, pelo espetáculo que proporciona”. “O que nos distingue de todos os outros é a presença de um Rei brasileiro”, destaca, lembrando que, ainda que a aposta tenha sofrido um pequeno interregno, é uma tradição com já “quatro décadas”. “Uma tradição que, em 1979, trouxe Tony Ramos à Mealhada, numa altura em que as telenovelas eram ‘rainhas’ da televisão, fazendo da Bairrada a ‘capital’ dos carnavais do país”, nota.
Muitos outros passaram por ali, como Reynaldo Gianecchini e Lima Duarte. Depois de Vítor Hugo, no ano passado, este ano Igor Marchesi fará as honras.
“Para além disso, estamos na Mealhada onde o leitão é rei por natureza, associado aos vinhos da Bairrada, ao pão e a água do Luso. A Mata Nacional do Bussaco como pano de fundo é a cereja no topo do bolo”, destaca a jornalista.
De olho nos “Levados do Diabo”
Em miúdo, já havia por ali qualquer coisa a puxá-lo para a folia do Carnaval. Como o pai tinha um café junto à sede de um grupo carnavalesco de Ovar, volta e meia pisgava-se para a porta do lado. “Era a sede dos Levados do Diabo, um grupo de elite, na altura, do Carnaval de Ovar. Eu vivia aquilo extasiado, mas como era novo não se proporcionou a minha entrada no grupo”, conta Luís Ventura, jornalista do Diário de Aveiro e do site Ovar News.
A sua entrada para um grupo acontece em 1995, mais concretamente nos Zuzucas, grupo ao qual se mantém ligado até aos dias de hoje. Desde então, só faltou a um único Carnaval, mas foi por uma boa causa: o nascimento da sua primeira filha. Adora participar nos desfiles, com tudo o que isso envolve em termos de preparação. “É uma grande maluqueira. A partir do início do ano, a malta já não pensa em mais nada”, admite o jornalista de Ovar.
Na hora de sair em defesa do Carnaval da sua terra, não lhe faltam argumentos. “Os grupos carnavalescos de Ovar são altamente organizados e criativos. Os corsos têm uma grande qualidade. Não foi por acaso que osite Huffington Post o destacou”, sublinha Luís Ventura.
* Créditos da foto de capa: Carnaval de Estarreja