Se há característica que nos salta à vista em Rosa Fonseca é a sua ligação às pessoas. Os seus olhos brilham quando fala na família e nos amigos, a sua mente viaja quando recorda as brincadeiras e os momentos vividos na rua do bairro em que cresceu. Foi por lá que, em miúda, protagonizou umas quantas performances artísticas - gostava de cantar as músicas de Simone de Oliveira -, alimentando amizades que deixaram marcas indeléveis. Escritora e professora de educação especial, Rosa Fonseca gosta de se inspirar naqueles que a rodeiam, façam eles parte do seu círculo ou não. A sua conexão com as pessoas é tão grande que tem de evitar ir a pé para o trabalho. Não consegue simplesmente passar e dizer olá e isso já lhe valeu um ou outro atraso.
Natural da Glória, Aveiro, aos 65 anos já conta com cinco livros publicados e vontade de continuar a escrever é coisa que não lhe falta. Começa por nos confessar que a família é o seu pilar, em especial o filho, de 42 anos, que é “a mó impulsionadora” para ela fazer coisas.
Fez o magistério (formação que habilitava para o ensino), foi educadora de infância e depois de fazer um curso de especialização abraçou a educação especial. “Gosto muito de trabalhar com os alunos da educação especial. Dão-me muita resiliência”, nota, antes de confessar à Aveiro Mag que foi um amigo de infância que a inspirou a querer trabalhar com crianças e jovens com necessidades educativas especiais. “Tive um vizinho que era diferente, tinha uma deficiência mental, mas eu brincava com ele como se fosse exatamente igual aos outros”, testemunha.
Passaram muitos anos desde que começou a trabalhar nesta área específica, muito foi já feito para melhorar a vida destas crianças e jovens, mas, no seu entender, “a verdadeira inclusão ainda não está no caminho certo”.
O gosto pelos livros e pela escrita
Desde miúda que gosta de escrever. “As minhas redações já eram lidas na turma e aos 14 anos escrevi uma peça de teatro”, recorda. Para Rosa Fonseca, a escrita esteve sempre ligada à leitura. “E embora não existissem muitos livros lá em casa, arranjava-os e lia”, repara a mulher que, “como muita gente”, escreveu “muitos caderninhos na adolescência”.
Há dez anos, publicou o seu primeiro livro, “Entre a alma e o mar”, onde através de poesia e prosa, faz uma espécie de catarse. “Foi numa época um pouco conturbada da minha vida. O livro surgiu da minha necessidade de escape e fui à memória buscar muitas coisas”, revela, sem pruridos. “É na escrita que eu me reencontro e faço as pazes com o que me deixa triste e magoa”, vinca.
Em 2014, Rosa Fonseca publicou um segundo livro, “Demora-te nos meus olhos”, apenas de poesia. Faz questão de enaltecer a capa, que juntamente com a do terceiro - “Enquanto a chuva não vem”, lançado em 2017 -, foi elaborada pela sobrinha, Tânia Fonseca, “uma grande artista” que tal como outros jovens da sua geração “teve que emigrar”. E porque o assunto é capas, Rosa Fonseca abre um parêntesis e pede-nos para destacar Elisa Gomes, autora da capa do seu último livro, “Abraça-me por dentro”, e André Calisto, responsável pela capa do primeiro.
Em 2019, lançou o seu quarto livro, “Eu sou um poema”, desta vez dirigido ao público infantil e com ilustrações da artista aveirense Maria Sousa. “Este veio por necessidade. Por eu sentir que se lia muito pouca poesia às crianças”, frisa.
“Abraça-me por dentro”, a sua quinta obra, surgiria em 2021, em plena pandemia - razão pela qual não fez sessão de lançamento. “É um livro de prosa, sobre pessoas, sobre as suas angústias, desencanto, falta de amor...”, anuncia, antes de confessar que tem outros dois livros na calha, “um para adultos e um infanto-juvenil”. Ficamos a aguardar. Ansiosos.