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Tatiana Pinto: “Nunca sonhem pequeno”

Atletas

Quando a 22 de fevereiro, às 6h30, a seleção nacional sénior feminina entrou em campo para defrontar a congénere dos Camarões – para, com uma vitória, carimbar o tão desejado passaporte para o primeiro Campeonato do Mundo da sua história - não entrou sozinha. Entrou carregando nas costas a herança de uma luta, de centenas de meninas e mulheres que durante muitos anos pugnaram, sonharam, sofreram, ganharam poucas vezes e perderam muitas mais, mas foram verdadeiras heroínas, de um outro futebol, um futebol considerado menor por ser jogado por elas.Por isso, quando entraram em campo, entraram com um espírito de missão. De quem sabe o que sofreu para chegar ali. De quem queria muito, mas muito, ser sinónimo de coragem, qualidade, resiliência e união. E entre elas, estava Tatiana Pinto. Uma menina que se fez mulher nos campos espalhados por toda a Europa, tudo em nome de um sonho. Um sonho que começou no Oliveira do Bairro Sport Clube e que hoje, em Espanha, representa o Levante. E que naquele jogo, que fica para a história do futebol feminino em Portugal, disputado na Nova Zelândia, frente aos Camarões, foi considerada a MVP, a melhor de todas.

Os primeiros anos

“Comecei a jogar futebol com 6-7 anos no Oliveira do Bairro Sport Clube, numa equipa mista. Eu era a única rapariga da equipa. O que sempre me moveu foi a paixão e vontade inigualável que tinha em jogar futebol. A minha família, especialmente o meu pai – que foi jogador, assim como o meu tio -, sempre me encorajaram a fazer aquilo que mais gostava. E eu e o futebol sempre estivemos de mãos dadas”, explica Tatiana Pinto.

À Aveiro Mag, a jogadora que, atualmente, representa o Levante, em Espanha, recorda esses anos a envergar a camisola dos “falcões do Cértima”, como “marcantes” e fundamentais para a sua carreira desportiva: “O Oliveira do Bairro Sport Clube teve um papel preponderante na minha formação futebolística. Um clube familiar, humilde e que sempre me tratou de igual para igual. Todos os anos que lá joguei foram marcantes, pois fizeram de mim aquilo que sou hoje”.

Depois Oliveira do Bairro, o passo seguinte foi jogar no Sporting Clube de Fermentelos, numa “equipa de mulheres”, ainda com idade de menina. Da experiência, guarda um grupo que a recebeu “muito bem”, uma adaptação difícil” devido às diferentes idades e maturidade, mas que, no final, a fizeram sempre “sentir como se estivesse em casa”.

Do Clube de Albergaria à Alemanha

Quando se é menina e dos concelhos ao centro e a sul do distrito de Aveiro, o normal, se se tiver qualidade diferenciada é, mais tarde ou mais cedo, ir jogar para o Clube de Albergaria. Um projeto estruturado e sustentado, que em Paula Pinho a sua âncora. Tatiana Pinto não foi diferente e essa mudança marcou-lhe a vida.

“A passagem pelo Clube de Albergaria foi o momento-chave. É um clube com muita história no futebol feminino português e ter a oportunidade de o representar naquela altura foi marcante. Uma equipa da primeira divisão, que competia e disputava títulos importantes, um plantel repleto de qualidade, com muitas internacionais. Foi uma experiência muito rica para mim. Aprendi muito com a Paula Pinho e com todas as colegas que por lá passaram. As memórias que tenho são todas boas. São memórias de muita aprendizagem e muito crescimento, mesmo a nível pessoal. Com pouco fazíamos muito. É de valor e com muita competência”.

No currículo, aos 18 anos, aparece um clube alemão: o SC Sand. A primeira ideia que vem à cabeça é que teria sido o clube a propor-lhe contrato, um primeiro passo rumo ao profissionalismo. Mas não. Foi – como explica Tatiana Pinto – “ir atrás do sonho”. “A oportunidade de ir para a Alemanha não foi um convite, foi mais um fazer-me à vida. Tinha a ambição de ser jogadora profissional, mas como, infelizmente, não era possível em Portugal, tive de arranjar solução e tomar decisões em prol do meu sonho. Com 18 anos, cheguei à Alemanha sem saber falar o idioma e completamente sozinha. Quando dizem que na dificuldade se cresce, acreditem que é mesmo verdade”.

A experiência correu bem, mesmo na adversidade e, sobretudo, na imaturidade: “O choque de realidades foi grande e entrar assim num contexto totalmente profissional foi duro. Também porque não era madura o suficiente para reconhecer que precisava de trabalhar o triplo, estava iludida com o talento que tinha. O talento não é suficiente. Não chega”.

A ida para Inglaterra e a “chamada” do Sporting

A experiência na Alemanha abriu-lhe portas para Inglaterra e para o Bristol City. Mais que isso, deu-lhe “estrutura” para perceber a dimensão do que é ser profissional de futebol e do que é preciso para se ser melhor: “Foi a melhor lição que aprendi: a cultura do trabalho. Essa cultura faz parte do meu dia-a-dia desde então. Para mim, não há nada mais importante. Nem o talento”.

Até que chega o dia em que o telefone toca. Era o Sporting. Mais do que qualquer outra coisa, aquele telefonema era a assunção de que em Portugal era possível ser-se profissional. Em cinco anos, foram muitas as experiências, os títulos e as memórias: “Quando soube que o Sporting iria formar uma equipa profissional e que gostavam que eu fizesse parte do projeto, nem queria acreditar. E não queria acreditar porque não sabia que seria possível viver do futebol no meu país. Foram cinco anos de muitas emoções, muitos títulos ganhos e também algumas derrotas duras de digerir. Ganhei, perdi, mas vivi muito intensamente o ‘vestir a verde e branca’. Foi muito especial. O Sporting tem um lugar especial no meu coração”.

De “Levante” para Espanha

Quando se espera que, estando em casa e num plantel competitivo, ficasse no Sporting, Tatiana Pinto preferiu embarcar numa nova aventura: a liga espanhola e o Levante. A justificação é simples: querer sempre mais e melhor. Porque só no “desconforto” é que somos levados, muitas vezes, aos nossos limites, expandindo-os, elevando-os, crescendo e melhorando.

“O único motivo deste regresso ao estrangeiro foi a minha ambição. Eu queria sair da zona de conforto e estar num contexto mais competitivo era a única solução. A liga espanhola é extremamente competitiva e, mesmo internamente, tens de provar todos os dias que mereces ser tu a escolhida para o 11 inicial. Há muita qualidade e isso faz-te crescer. A margem para errar é muito baixa porque todas as equipas te podem tirar pontos. E essa imprevisibilidade é espetacular. Só a tua melhor versão te fará triunfar”.

A estreia na seleção nacional e o caminho duro

E a seleção? Bem, a seleção era um sonho maior. A estreia aconteceu frente à Coreia do Sul, num “dia que nunca mais vou esquecer”, diz Tatiana Pinto. Começava uma caminhada dura, em que os resultados não eram os melhores, mas que refletiam as dificuldades do futebol feminino em Portugal. Tatiana não esquece esses momentos, mas reflete que também ajudaram ao crescimento sustentado. “Foi um processo longo e muito duro. Portugal era uma seleção de ranking baixo, pouco respeitada e jogava para não ser goleada. A frequência de jogos difíceis começou a aumentar, houve um grande investimento da FPF e dos clubes, as jogadoras tinham melhores condições para a prática e tudo fez sentido. As performances e resultados positivos começaram a surgir, a ideia de jogo encaixava perfeitamente nas nossas características, a confiança chegou e a mentalidade já não era a mesma. A maior mudança foi acreditar que seria possível, que tínhamos qualidade para competir olhos nos olhos com a elite e o objetivo comum a todas de colocar Portugal onde merece estar: entre as melhores do mundo”.

O Campeonato do Mundo e uma homenagem

O sorteio foi aziago para Portugal na estreia na maior prova de todas. As campeãs dos Estados Unidos da América, os Países Baixos – vice-campeãs – e o Vietname. Para seguir em frente na competição, Portugal tem de ficar classificado nos dois primeiros lugares. Tatiana sabe bem das dificuldades, mas isso não a esmorece. “Estar num Mundial é sinónimo de estar na elite e na elite não há jogos fáceis. O grupo é exigente e talvez um dos mais complicados, mas Portugal certamente irá com o intuito de mostrar personalidade, ambição e irreverência. Trabalharemos para que os portugueses se sintam orgulhosos”.

E orgulhosas estão, certamente, todas as que durante décadas lutaram para que futebol feminino conseguisse elevar o patamar. Competir de igual para igual. Nos momentos após a festa muitas atletas não deixaram passar a oportunidade de dedicar o feito a colegas já retiradas do jogo. O testemunho de Dolores Silva foi marcante e Tatiana não só corrobora as palavras de uma das principais referências da equipas das Quinas, como não quis deixar passar a oportunidade de, na Aveiro Mag, as homenagear. Como se de um toque mágico de calcanhar se tratasse. Um golo no último segundo. A defesa da guarda-redes em cima da linha.

“É muito difícil colocar em palavras a emoção de gerações e gerações que tanto lutaram para que naquele dia fossemos nós as privilegiadas de estar a viver aquele momento. Foram muitas lágrimas, muitos sorrisos e muitos abraços. Foi o dia mais feliz da minha carreira. Aos mais novos, deixo as mesmas palavras: Nunca sonhem pequeno”.

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