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Pedro Albuquerque escreve para ganhar espaço de intervenção

Literatura

Se lhe contar, caro leitor, que o jovem autor aveirense Pedro Albuquerque começou a escrever com apenas 3 anos de idade, é provável que desconfie. Permita, então, que seja o próprio a pôr tudo em pratos limpos: “Saber contar uma história é muito mais importante do que saber passá-la para papel”, justifica, em entrevista à Aveiro Mag, confrontado com o espanto do jornalista ao saber que teria começado nas lides da escrita em tão tenra idade. “O que acontecia era que eu imaginava as minhas histórias – eram, quase sempre, contos – e pedia aos meus pais ou aos meus avós que escrevessem tal e qual o que eu lhes ditava. No final, ilustrava o texto e assinava”, descreve, dando nota de “uma série de cadernos e folhas soltas” que a avó guardou carinhosamente durante todos estes anos e que, hoje, são prova viva deste hábito precoce.

A tese até faz sentido: “Escrever é técnica, contar é arte”, distingue Pedro Albuquerque, convicto, explicando o porquê de preferir a designação “autor” à de “escritor”: “Mal ou bem, por volta dos seis anos, todos aprendemos a escrever, logo, todos somos escritores. Ser autor é diferente. (...) O título de escritor, para mim, é esquisito”. Valha a verdade, neste aspeto, a língua inglesa é um pouco mais feliz na interpretação destes conceitos: writer é aquele que escreve seja lá o que for, ao ponto que author está reservado para autênticos criadores. “É claro que, a partir do momento em que aprendes a escrever e o fazes durante vários anos, adquires a tua própria técnica, a tua identidade, a tua voz”, ressalva, não deixando de reparar que “essa tal voz demora muito a aparecer”. “Nos primeiros anos somos influenciados pelas vozes de outros, os Mia Coutos e Dostoevskys que por aí andam. É a mistura das vozes que admiramos com o nosso sentido crítico e estético que fazem nascer a nossa própria voz. Mas, para que ela nasça, preciso ler os outros todos antes”. Pedro não concebe um bom autor que não seja um ávido leitor. “A leitura dá-nos vocabulário, dá-nos técnica e dá-nos gosto. É como cozinhar: quem nunca comeu mais nada a não ser massa com atum não pode estar à espera de se tornar um grande cozinheiro”.

Aos seis anos, já na escola, Pedro Albuquerque descobre o verso - “Achei piada àquele jogo das rimas. Era todo um novo desafio” – e a sua professora, reconhecendo o gosto e talento que Pedro demonstrava, oferece-lhe “um caderno azul-bebé de papel reciclado, muito bonito” para que escrevesse as suas histórias durante as férias grandes. “Foi a primeira e a última vez que alguém me incentivou a escrever”, garante.

Nos anos seguintes, a escrita foi uma prática assídua, mas sempre secundária. “Primeiro tinha a escola, depois a faculdade...”, retrata-se. Pedro é licenciado em Marketing e em Design e mestre em Engenharia de Produto. “Só aos 20 anos, quando me aventurei a escrever um romance, é que me apercebi que era áquilo que eu devia dedicar a minha vida”, recorda. O que fazer, contudo, quando se está prestes a começar uma segunda licenciatura? “Levá-la até ao fim” foi a opção de Pedro, que ainda viria a completar o mestrado e a trabalhar algum tempo na sua área de estudos, para depois, aí sim, passar a dedicar-se à literatura com todo o seu ser.

Em junho do ano passado – aos 30 anos, como planeara assim que decidira dar este rumo à sua vida –, Pedro Albuquerque lançou "exTratos Dramáticos", “um compêndio de poesia, prosas poéticas e crónicas que, na sua maioria, escrevi aos 22 anos”, descreve o aveirense. É importante explicar que, desde o tempo em que ditava histórias para os seus pais e avós registarem em papel, Pedro nunca deixou de se expressar em prosa. Já no que concerne à poesia, aos 15 anos, o jovem deu início a um interregno que só viria a terminar aos 22. Ao retomar o verso, forma de expressão que tanto o seduzira e desafiara em criança, no espaço de um ano, escreve “cerca de 800 coisas”. Sem esconder a fragilidade técnica inerente àqueles versos, é com base na reunião de uma parte desse espólio que se torna um autor publicado. “Quis estrear-me com uma obra tecnicamente mais frágil, que refletisse o início do caminho e desse luzes ao leitor sobre o que pode vir a seguir”, esclarece, dizendo achar “importante que os leitores tenham acesso à evolução da escrita de um autor”.

Com prefácio de Pedro Branco (filho de José Mário Branco), "exTratos Dramáticos" pode dividir-se em duas partes: uma primeira – em homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen – com a poesia que o aveirense escrevera aos 22 anos, e uma segunda – desta vez, em louvor de José Mário Branco – marcada pela crítica social e política. “Sophia é a minha escola de poesia”, afirma Pedro, recordando um episódio em que, de visita ao Jardim Botânico do Porto – onde morou a poetisa – lhe escreveu um poema espontaneamente. Quanto a José Mário Branco, “era o meu cantor favorito”, revela, congratulando-se por ainda ter tido “a sorte de o conhecer”.

Há, ainda, que referir, um terceiro artista a merecer tributo especial no livro de estreia de Pedro Albuquerque – Caetano Veloso. “A minha maior influência artística é a música, não é a literatura. Gosto de escrever como quem canta, que as frases tenham uma certa musicalidade. E sempre trabalhei muito ao som de Caetano Veloso. Um dia, surgiu-me escrever-lhe um poema de homenagem”, começa por relatar o autor. “A princípio, não quis colocá-lo no livro”, continua, “ainda assim, da última vez que ele esteve em Portugal, tive a oportunidade de lhe mostrar o poema”. “Não hei de escrever assim tão mal porque o Caetano emocionou-se ao ler o poema e incentivou-me a publicá-lo”, conclui. “Foram o prefácio e, principalmente, a amizade do Pedro Branco e aquela noite de emoção com o Caetano que me fizeram querer publicar o livro”, admite o autor, explicando a importância que “o carimbo de artistas” que estima tem para si. “Grande parte da minha motivação para publicar é poder vir a integrar o grupo dos artistas que admiro”.

Confiando nas estatísticas que as redes sociais lhe oferecem, Pedro escreve principalmente para um público jovem-adulto, maioritariamente feminino, mas também para uma fatia de público de meia-idade que parece interessar-se pelas componentes sociais e políticas da sua obra. Este é, igualmente, o feedback que tem recebido das pessoas que tem encontrado, por todo o país, nas apresentações de “exTratos Dramáticos”. “Quando comecei a fazer as apresentações, o importante para mim é que fossem uma festa. Não queria sentir que ia para lá com uma mesa falar para meia dúzia de pessoas. Queria que fosse uma coisa informal, que fosse uma festa. Por isso, fiz questão de me acompanhar por músicos como O Marta, Paco Nabarro, Pedro Branco ou Ana Marreiros; por isso, nenhuma apresentação foi igual a outra e nenhuma foi aborrecida”.

Por altura da publicação deste artigo, Pedro Albuquerque já deve ter terminado aquela que será a sua segunda publicação, um livro de contos que deverá ficar disponível por altura do Natal ou, o mais tardar, no início do próximo verão. Mas Pedro já tem uma terceira publicação em mente... e uma quarta... e uma quinta! O plano está traçado, o objetivo é claro e cada fase tem o seu propósito. “Quero utilizar os primeiros três livros para perceber como funciona o mercado livreiro em Portugal e para treinar a minha voz para os grandes livros que espero conseguir escrever a seguir”, explica o jovem autor, antecipando à Aveiro Mag projetos para a publicação de um quarto e um quinto livro, respetivamente, um romance e uma novela.

“O quarto vai ser o romance que comecei a escrever aos 20 anos. Na altura, deixei-o a meio... E ainda bem”, reconhece. “Com 20 anos, não tinha mãos para aquilo”. Contrariando aquelas visões românticas em que a inspiração aparece quando é convocada, em que o autor é um mero veículo e, concluída uma obra, basta entregá-la à edição para que os deuses da literatura se incubam de a tornar um sucesso, Pedro Albuquerque prefere adotar uma perspetiva mais realista. “Acho muito pouco provável um autor jovem lançar um grande romance sem ter tido um vasto trabalho anterior”. “A verdade é que precisas da luta”, considera.

Quanto ao objetivo final, como referíamos, é claro: “ganhar espaço de intervenção”. “Escrever livros é muito bonito; proporcionar prazer e distração aos leitores é muito bonito; mas o propósito do artista é intervir na sociedade”, entende Pedro Albuquerque. O jovem autor garante não trabalhar “para ficar famoso, para ter dinheiro ou para ganhar prémios”, mas sim pela oportunidade de poder “corrigir o que está errado e celebrar o que merece ser celebrado”.

“exTratos Dramáticos” está à venda no site daCordel d’Pratae nas lojasonlinedaWook, daBertrande daFnac.

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